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As duas maiores empresas do setor de saúde listadas na Bolsa brasileira devem ser impactadas de maneiras distintas pela sazonalidade do segundo trimestre. Além de ser uma temporada com maior número de dias úteis, é nessa época também que aumentam os casos de síndromes respiratórias, por conta do inverno. Logo, é um período de maior sinistralidade para as operadoras de plano de saúde, como a Hapvida (HAPV3) e a SulAmérica, e positivo para os provedores, como a rede hospitalar da Rede D’Or (RDOR3), que tende a apresentar um crescimento de ocupação.
Ambas as empresas vão divulgar seus resultados trimestrais nesta quarta-feira (9), após o fechamento do mercado.
A XP avalia que a sinistralidade das seguradoras de saúde continua sob pressão, devido a um aumento na demanda. Mas não acredita que ela vá crescer de forma muito acentuada no período, já que a métrica atingiu recordes entre o quarto trimestre de 2022 e os três primeiros meses deste ano. No entanto, como esses índices estão historicamente elevados, a casa mantém cautela em relação ao setor de saúde.
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“Notamos que os aumentos de preços que as empresas têm feito nos últimos períodos podem ter um efeito positivo nas margens deste trimestre, mas com um efeito maior na segunda metade de 2023”, afirmam os analistas Rafael Barros e Raphael Elage. Para eles, o processo de normalização da sinistralidade deve ocorrer a partir deste segundo semestre.
O Bradesco BBI diz ainda não ter visto mudança ou redução na demanda por serviços médicos desde que a emergência relacionada à Covid-19 ficou para trás, há mais de um ano. E se mantém altista em relação ao setor de saúde, mesmo com a forte valorização que os papéis do segmento acumularam no ano até agora.
Os analistas da casa avaliam que as ações estão sendo negociadas a múltiplos atraentes e as empresas têm mais chances de incrementar ganhos, com melhora no cenário macroeconômico e maior visibilidade nas integrações de fusões e aquisições feitas pelas companhias nos últimos anos.
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O analista Marcio Osako acredita que, com a sazonalidade, as companhias hospitalares devem apresentar crescimento sequencial de ocupação e leitos operacionais no segundo trimestre. “Por outro lado, apesar do período ser mais fraco para operadoras de plano de saúde, a base de comparação forte pode compensar a sazonalidade desfavorável”, afirma. No entanto, isso deve ocorrer de maneiras diferentes na Hapvida e SulAmérica, que é parte da Rede D’Or.
Mais sobre a temporada de balanços do setor de saúde:
- Lucro do Fleury (FLRY3) avança 5,6% no 2º tri, a R$ 74,4 milhões, no primeiro balanço pós-Pardini
- Hypera (HYPE3) tem alta de 10,7% no lucro no segundo trimestre, a R$ 504,4 milhões
- Pague Menos (PGMN3) reverte lucro e tem prejuízo de R$ 10 mi no 2º tri; anuncia aumento de capital de até R$ 400 mi
- RD (RADL3), antiga Raia Drogasil, lucra R$ 363,2 milhões, baixa anual de 2,4%
O Bank of America avalia que há um início de ciclo positivo para o setor de saúde, com preços subindo em ritmo acelerado e alívio da inflação sobre os custos, o que tende a impulsionar as margens das companhias
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“O setor de saúde atingiu um ponto de inflexão e gradualmente se normalizará aos níveis históricos de rentabilidade, principalmente devido a fortes altas de preços”, diz análise do BTG Pactual, assinada por Samuel Alves, Yan Cesquim e Marcel Zambello.
Hapvida: sinistralidade deve piorar, mesmo com maior controle de custos
O Itaú BBA acredita que, apesar dos esforços da Hapvida para melhorar seus custos de eficiência por meio de uma integração vertical e de repasse de preços, o impacto total desses ajustes pode não ser visto no segundo trimestre. Nos cálculos da casa, a sazonalidade deve resultar em uma piora de 220 pontos-base no índice de sinistralidade da companhia, que passaria dos 72,3% registrados no primeiro trimestre, para 74,4%.
O BBA prevê ainda uma perda de 91 mil beneficiários no período, também como reflexo da elevação nos preços e da descontinuação de portfólios não-rentáveis da companhia. No segundo trimestre, os ajustes devem ter um impacto positivo de aproximadamente 3% no ticket médio da Hapvida, mas o reflexo maior dessa elevação nas receitas deve ser sentido somente na segunda metade do ano. O lucro antes de juros, impostos depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) previsto pelo BBA para a companhia é de R$ 539 milhões.
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Assim como o BBA, o Santander também acredita que o ajuste de preços e foco na rentabilidade da Hapvida tendem a ser ofuscados por efeitos sazonais do segundo trimestre. Mas afirma que os investidores já estão cientes do efeito não pontual e devem focar nas tendências para novos ajustes de preços, maior verticalização e de diluição de custos. Essa é a combinação que vai sustentar o crescimento de margem Ebitda da companhia.
A XP acredita que a receita líquida deve se beneficiar do aumento de preços, mas nota que um reflexo negativo do ajuste deve ser o número de cancelamentos, projetado em 110 mil beneficiários pela casa. Nos cálculos dos analistas, a sinistralidade da Hapvida deve piorar em 250 pontos-base, para 74,8%, “mesmo considerando o nível anormalmente alto desse indicador”.
O BofA, por sua vez, acredita que a sinistralidade da Hapvida vai crescer menos que o previsto pela própria companhia – o banco prevê um incremento de 150 pontos-base, ante guidance de 200 a 300 pontos da companhia.
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“Esperamos que os ajustes mais agressivos nos preços, nos últimos meses, vai levar a uma melhora da sinistralidade em ritmo acima do esperado”, afirma a equipe de analistas do BofA. O banco vê a companhia se movendo na direção certa, com espaço para reduzir despesas gerais e administrativas. HAPV3 é a top pick do BofA no setor de saúde.
O Bradesco BBI prevê lucro líquido ajustado de R$ 17 milhões para a Hapvida no segundo trimestre, com Ebitda de R$ 566 milhões e receita líquida de R$ 6,836 bilhões. A casa aposta que os ajustes de preço conduzidos pela operadora devem ser sentidos totalmente no terceiro trimestre deste ano, levando a um declínio da sinistralidade. Por enquanto o BBI prevê uma deterioração do indicador, para 72,3%.
O BTG Pactual também prevê lucro líquido ajustado de R$ 17 milhões, com Ebitda ajustado de R$ 524 milhões que deve ser impactado por despesas financeiras maiores. As receitas líquidas são previstas em R$ 6,87 bilhões. ” Com aumentos de preços mais fortes e integração de M&As, os resultados devem melhorar, justificando a nossa recomendação de compra”, afirmam os analistas. O preço-alvo é R$ 6.
O consenso Refinitiv, com a média de algumas projeções de mercado, prevê lucro líquido de R$ 16,40 milhões para Hapvida e receitas de R$ 6,862 bilhões.
Rede D’Or: maior ocupação nos hospitais e leitos operacionais
A sazonalidade do segundo trimestre deve trazer uma tendência positiva de crescimento de receitas na parte de serviços hospitalares, diz análise de Vinicius Figueiredo, do Itaú BBA. O ticket médio da Rede D’Or, excluindo a parte de oncologia da companhia, deve ficar estável no período. Assim, o BBA prevê um avanço de 8% das receitas líquidas na comparação com o primeiro trimestre e de 14%, em bases anuais, para R$ 6,618 bilhões.
A casa também acredita que a sinistralidade de SulAmérica poderá surpreender com uma melhora de 70 pontos-base, para 87,8%. “A melhora é esperada por conta dos esforços para reduzir comportamentos fraudulentos, despesas excessivas relacionadas a reembolso de procedimentos e do provisionamento conservador que a empresa fez nos últimos trimestres”, afirma Figueiredo.
O BofA também aposta em melhora da sinistralidade da SulAmérica, que deve ficar em 89%, alinhado com o índice do primeiro trimestre e reduzindo o impacto da sazonalidade. Por acreditar em uma tendência positiva para o indicador e dos resultados operacionais da SulAmérica no longo prazo, o BofA revisou o preço-alvo de RDOR3 para cima, de R$ 36 para R$ 40.
O Santander espera uma boa performance do segmento de hospitais e seguros da Rede D’Or. A casa estima um crescimento de 70 pontos-base da taxa de ocupação, em bases anuais, para 83,3% e projeta uma alta de 9% nos preços praticados pela companhia. “Esta dinâmica deve levar a uma forte alavancagem operacional e a margem Ebitda poderá crescer ate 25,95%”, escreveram os analistas.
A casa também acredita que os esforços de SulAmérica para combater fraudes e incrementar preços tendem levar a uma melhora na sinistralidade da empresa, apesar da sazonalidade do período. O Santander prevê que o índice recue de 88,6% para 87,9% no segundo trimestre de 2023.
A XP avalia que a sinistralidade pode permanecer estável na comparação trimestral, devido aos aumentos de preços, mas pressionada pela sazonalidade, que, por sua vez, deve beneficiar o segmento de hospitais e aumentar a receita líquida.
O Bradesco BBI prevê lucro líquido de R$ 323 milhões para a Rede D’Or no segundo trimestre, uma queda de 5% na comparação anual. Por outro lado, projeta um crescimento de 13% no Ebitda da companhia, para R$ 1,627 bilhão e que as receitas totais devem mais que dobrar na mesma base comparativa, alcançando R$ 11,83 bilhões.
“Esperamos um trimestre de fortes resultados, com uma melhora sequencial na margem Ebtida da divisão de hospitais e de seguros da SulAmérica”, afirmam os analistas.
O BTG Pactual calcula que a receita de hospitais avance 12% ano a ano para R$ 6,5 bilhões, com 9,5 mil leitos operacionais, taxa de ocupação de 83% e elevação de 8% no ticket médio do segmento. Já a vertical de seguros deve apresentar um crescimento de 16% nas receitas, para R$ 6,52 bilhões. Por fim, a casa prevê lucro líquido de R$ 477 milhões, com alta de 12% em bases anuais.
O consenso Refinitiv, com a média de algumas projeções do mercado, prevê lucro líquido reportado de R$ 407,97 milhões para a Rede D’Or no segundo trimestre e receitas de R$ 12,055 bilhões.