Hapvida (HAPV3) salta quase 30% na sessão: como os analistas veem a ação em meio à tanta turbulência?

Analistas cortam estimativas para companhia após resultado do 4º tri muito negativo e com possibilidade de aumento de capital, mas alguns ainda veem compra

Lara Rizério

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Depois de uma derrocada de 57% entre o fechamento de 28 de fevereiro e 10 de março (com destaque para as quedas de mais de 30% nos pregões do dia 1 e do dia 9 deste mês), as ações da Hapvida (HAPV3) dispararam nesta sexta-feira (10). Os ativos fecharam em alta de 27,32%, a R$ 2,47.

Na véspera, cabe destacar, as ações caíram 33,56% e perderam R$ 7 bilhões, totalizando uma perda de valor de mercado de R$ 18,2 bilhões (de R$ 32 bilhões para R$ 13,8 bilhões de valor de mercado) em apenas sete sessões. A derrocada que ganhou força com a apresentação dos números do quarto trimestre de 2022 e que teve desdobramentos com a fala da empresa de que pode emitir ações – apesar de as cotações estarem em mínimas históricas – para fortalecer sua estrutura financeira. Assim, as preocupações com a solvência da empresa de serviços de saúde estão no radar.

Em meio à tamanha volatilidade dos ativos e com diversos desdobramentos dos últimos dias sobre a empresa, analistas têm se debruçado sobre a atual situação da companhia e o que esperar.

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A XP cortou o preço-alvo o preço-alvo da ação de R$ 7,90 para R$ 3 (ainda um potencial de valorização de 55% ante o fechamento de ontem) após os últimos acontecimentos, que também envolvem dados da Agência Nacional de Saúde (ANS) mostrando perda de força do setor. Porém, seguem com recomendação de compra para os ativos, ainda que com cautela.

A visão é de que a empresa piorou devido a (i) crescimento do mercado perdendo força e a empresa mostrando sinais mais fracos de adições líquidas; (ii) sinistralidade demorando mais para se normalizar após um período muito difícil e se tornando estruturalmente mais alta do que os níveis pré-pandêmicos; e (iii) o risco de a empresa precisar emitir ações para diminuir a sua alavancagem financeira, consequentemente diluindo os atuais acionistas a um preço por ação inferior ao IPO. “Nossa visão em relação ao papel é muito cautelosa, embora ainda vejamos um potencial em relação ao preço atual”, aponta.

Segundo os analistas Rafael Barros e Raphael Elage, da XP, a sinistralidade do mercado como um todo está em um nível historicamente alto, com várias fontes pagadoras operando em valores próximos a 100%.

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A sinistralidade da Hapvida está entre as mais baixas do mercado brasileiro, mas a empresa não está imune à pressão de seus concorrentes. “Além disso, acreditamos que a sinistralidade da empresa pode ter se tornado estruturalmente superior ao nível de 2019 (pró-forma), principalmente devido à natureza dos ativos adquiridos pela Hapvida e pela GNDI antes de sua fusão”, aponta.

Barros e Elage apontam ainda que, embora altamente alavancada, com uma relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) esperada para 2023 de 4,9 vezes (excluindo o caixa restrito), os números da empresa não indicam que a mesma esteja em dificuldades financeiras.

Porém, ao comentarem a notícia de que ela considera a emissão de novas ações para fortalecer a sua estrutura de capital, avalia que a sinalização do fato relevante é negativa, dado que indica que a administração da Hapvida está preocupada com o nível de endividamento e cogita emitir ações estando no menor patamar histórico.

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“Uma hipótese é de que algumas das subsidiárias podem estar apresentando problemas de caixa, e as demonstrações financeiras consolidadas da companhia não fornecem granularidade necessária para que esta hipótese seja confirmada, mas, em nossa opinião, esse risco é remoto”, avaliam.

O Itaú BBA foi outra instituição a revisar seus números para a companhia, ajustando o valor justo de R$ 7 para R$ 4,40 (ainda um upside de 127%) e mantendo recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra).

Os analistas do banco traçaram alguns cenários sobre os requisitos regulatórios aos quais a Hapvida está sujeita e simularam (de forma simplificada) a dinâmica de geração de caixa de entidades reguladas e não reguladas dentro da operadora.

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“Concluímos que, com estimativas de lucros mais conservadoras, o status quo deixa pouco espaço para a distribuição de caixa para a holding de formas convencionais (ou seja, dividendos). Dito isso, reconhecemos que a incorporação de entidades não reguladas (por exemplo, Ultra Som) e operações adquiridas recentemente poderiam amenizar consideravelmente a situação, diminuindo potencialmente a necessidade de aumento de capital, dependendo do cronograma da reestruturação societária”, afirmam.

Na véspera, o Bradesco BBI também cortou o preço-alvo das ações, de de R$ 6 para R$ 4,50 (upside de 132%), ainda mantendo recomendação neutra, de forma a incorporar estimativas mais conservadoras após os resultados do 4T22.

O banco também traçou cenários sobre a capitalização da companhia. Na avaliação do Bradesco BBI, o aumento de capital parece ser o cenário mais provável, dadas as difíceis condições para a venda de ativos no atual ambiente macro/crédito adverso (a venda de ativos é uma das alternativas traçadas pela companhia para levantar capital).

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Assumindo que o novo caixa em potencial cobrirá os R$ 650 milhões desembolsados em janeiro para a aquisição da HB Saúde (R$ 800 milhões de valor da empresa) e cerca de R$ 65 milhões para o fechamento próximo da aquisição da Sistemas Saúde (R$ 110 milhões de valor da empresa), o tamanho da oferta poderia ser de cerca de R$ 750 milhões considerando taxas e impostos, implicando na emissão de 259 milhões de novas ações (diluição de 3,6%) ao preço de fechamento da última quarta-feira de R$ 2,92 por ativo.

A família controladora Pinheiro detém 36,3% do capital social, o que implicaria em um aporte de R$ 270 milhões para manter a participação em uma potencial oferta de ações de R$ 750 milhões.

Para os analistas do banco, a atual posição de caixa da companhia parece apertada para enfrentar um cenário desafiador geral e, portanto, justifica um potencial colchão de capital por meio da oferta de ações, dado o mercado de dívida restrito.

Além disso, a diluição seria baixa (3,5%) e uma injeção de capital reduziria as preocupações com a solvência. Por outro lado, a necessidade de caixa pode sugerir que os ganhos/fluxo de caixa da empresa podem ser piores do que o mercado realmente acredita.

Em meio à tamanha volatilidade dos ativos, o JPMorgan acredita que o mercado “provavelmente se acalmará” se mais detalhes financeiros forem divulgados, já que as ações da companhia caíram forte desde a divulgação dos resultados. Negociando com um valuation de 16 vezes o P/L (Preço/Lucro previsto para 2023) e com baixa visibilidade de resultados neste momento, os analistas também seguem com recomendação “neutra”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.