Ibovespa cai 0,17%, com pressão do exterior e com risco fiscal; dólar avança 0,60%

Alta das commodities, com menores restrições na China, não foram suficientes para apagar o pessimismo do mercado, apesar de ter amortecido a queda

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 0,17%, aos 100.591 pontos, nesta terça-feira (28). O principal índice da Bolsa brasileira chegou a avançar durante a manhã, mas acabou cedendo, com a pressão do mercado internacional e também da curva de juros local.

Nos Estados Unidos, no entanto, as quedas foram maiores do que as registradas no cenário local. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram, respectivamente, 1,56%, 2,01% e 2,98%. Por lá, investidores continuam a se posicionar com cautela, aguardando a publicação do índice de preços para gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), principal índice de inflação do país, marcado para sair na sexta.

Além disso, Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, aponta para o fato de a projeção da inflação nos EUA para os próximos doze meses, medida pelo Conference Board, ter atingido um recorde de 8%, o que pesou na confiança do mercado e aumentou o temor de que o Federal Reserve pode acelerar a alta dos juros.

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Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, destaca ainda falas de diretores do Federal Reserve, que reforçaram as perspectivas de juros mais altos nos Estados Unidos.

John Williams, do Fed de Nova York, afirmou, em entrevista à CNBC, que a instituição monetária americana debaterá, na reunião de julho, aumentos de 50 ou 75 pontos-base e que é preciso que a economia americana esteja em níveis restritivos até 2023. Já Mary Daly, do Fed de São Francisco, defendeu que vê a economia americana crescendo menos neste ano, apesar de ainda não enxergar uma recessão.

A alta das commodities também ajudou a impulsionar a curva de juros americana – o dividend yield do título para dois anos subiu um ponto-base, para 3,12%.

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Hoje, na China, o minério de ferro teve alta de 3,80% em Qingdao, a US$ 124,82 a tonelada. O petróleo Brent, por sua vez, avançou  2,37%, a US$ 117,82 o barril.

“As commodities reagiram positivamente à notícia de um pequeno sinal de abertura do governo Chinês em relação à política de Covid zero. O governo da segunda maior economia diminuiu pela metade o tempo que turistas têm de ficar em quarentena para entrar no país”, explica Bruno Di Giacomo, CIO da Blackbird investimentos. “Isso foi visto como uma possível retomada da demanda chinesa, com o país enfraquecendo restrições”, complementa.

Ibovespa não consegue acompanhar alta das commodities

No Brasil, apesar da alta dos produtos não manufaturados, responsáveis por boa parte do índice, o Ibovespa sentiu fortes pressões provindas da menor aversão ao risco em todo o mundo e também curva de juros.

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“As commodities aliviaram a queda maior que o Ibovespa poderia ter, foram só elas que praticamente contribuíram positivamente”, diz Di Giacomo. “Houve um sell off vindo do exterior, com o mercado vendo o risco de recessão nos Estados Unidos e também observando um ritmo mais forte do Federal Reserve em elevar taxa de juros”.

Mesmo com a alta dos produtos não manufaturados tendendo a beneficiar o Brasil em sua balança comercial, o dólar fechou em alta de 0,60%, a R$ 5,266 na compra e na venda, acompanhando o DXY, que avançou 0,53%.

Além da menor aversão ao risco, os DIs também foram destaque negativos do pregão. Os contratos para 2023 e 2025 tiveram suas taxas subindo, respectivamente, 10 e 26 pontos-base, para 13,77% e 12,86%. Os DIs para 2027 e 2029 viram seus rendimentos avançarem 24 e 21 pontos, para 12,79% e 12,91%.

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“O número do aumento do endividamento público cresceu de forma acelerada”, comenta Fabrizio Velloni, em referência à publicação de que a dívida federal avançou 2% em maio, atingindo R$ 5,7 trilhões. “Mesmo as notícias vindas da China, com flexibilização do lockdown, não seguraram a performance do Ibovespa”.

Rodrigo Crespi, por fim, aponta ainda que o mercado apresentou mau humor por conta do noticiário político.

“Há o temor de que a PEC dos combustíveis, a ser apresentada, traga mais despesas do que o esperado”, afirma. “O fiscal fez com que a curva de juros abrisse, o que teve impacto nas empresas voltadas à economia doméstica. Varejo, bancos, saúde, educação – empresas de todos esses setores recuaram com bastante força”.

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O relator da PEC, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), adiou novamente a apresentação do seu parecer para quarta-feira às 9h30 (horário de Brasília).

Entre as maiores baixas do índice brasileiro, figuraram as ações ON da Positivo (POSI3) e da Via (VIIA3), com baixas de, respectivamente, 5,7% e 5,46%. Hapvida (HAPV3) e Rede D’Or (RDOR3) vieram na sequência, caindo 5,78% e 4,05%.

Do lado das altas, destaque para as ações ON da Vale (VALE3), que avançaram 1,59%. As ON e PN da Petrobras (PETR3;PETR4), por sua vez, sobem 1,43% e 1%.

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