Ibovespa cai 0,40%, a despeito de inflação mais fraca nos EUA e no Brasil; dólar sobe 0,59%

CPI não foi suficiente para fazer investidores acreditarem que Fed pode cortar juros em março nem para melhorar sentimento quanto à demanda

Vitor Azevedo

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Os movimentos dos mercados têm sido de difícil interpretação nos últimos dias. Após o temor de juros altos por mais tempo se esvair durante o novembro, os índices vêm se comportando de maneira diferente daquilo visto em boa parte do ano.

O Ibovespa hoje caiu 0,40%, aos 126.403 pontos, mesmo com um recuo dos treasuries yields, da curva de juros brasileira e com uma alta dos índices norte-americanos.

Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,48%, 0,46% e 0,70%. Já o treasury yield para dez anos perdeu 3,3 pontos-base, a 4,206% – apesar do o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ter subido 0,1% em novembro, acima das projeções, que previam estabilidade.

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“Apesar da ligeira divergência entre as projeções para o headline e o dado realizado (do CPI), nenhum dos grupos apresentou comportamento que motivasse uma leitura mais negativa da inflação no decorrer do período. No caso dos preços mais voláteis, o grupo de alimentação registrou alta de 0,2% MoM, desacelerando frente ao mês imediatamente anterior (+0,3% MoM) e mantendo a média observada nos últimos 6 meses”, fala Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

O fato de o núcleo da inflação, que exclui alimentos e combustíveis do cálculo, ter ficado dentro do esperado, segundo especialistas, ajudou a explicar o motivo de os treasuries estarem sob controle.

E mesmo com o dado vindo acima do esperado, o número ainda acendeu o temor de problemas quanto à demanda de petróleo e outras commodities. O barril Brent cai mais de 3%, negociado a US$ 73,43, sendo que a baixa se acentuou após a publicação do CPI.

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Fora isso, nos últimos pregões, o mercado americano já tem recebido de forma diferente dados macroeconômicos que mostram que a economia ainda está minimamente aquecida.

“Agora o mercado já precificou o fim do aumento das taxas de juros. O que passa a ser monitorado é se o esfriamento econômico será suave ou se intensificará para uma recessão”, diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Ibovespa sob cautela

Na Bolsa brasileira, porém, a cautela vista é maior. Isso provavelmente se dá pelo fato de o Ibovespa ter forte participação das companhias exportadoras de commodities, produtos cujas as demandas são dependentes da economia mundial, e também pelo índice sofrer mais quando o sentimento de precaução se fortalece nos Estados Unidos.

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“Acho que estamos vendo uma cautela maior, talvez em relação à velocidade que se dará o corte do juros americano. Isso pode ter efeito sobre o fluxo vindo dos estrangeiros, que estão aportando fielmente na Bolsa brasileira desde o final de outubro. Eles podem ter repensado o movimento”, comenta Anderson Meneses, CEO da Alkin Research.

“Ontem, o investidor americano apostava em mais ou menos 56% de chance de um corte do Federal Reserve na taxa em março. Hoje, depois dos dados, esse número já caiu para 40%”, acrescenta. “Nossa Bolsa já contava, em parte, com o corte mais imediato”.

Enquanto os índices americanos se beneficiam da sinalização de uma economia levemente aquecida, o que deve levar a um lucro maior das empresas (apesar de o dado afastar a crença de um corte de juros em março pelo Fed), países emergentes tendem a sofrer mais por conta dos juros elevados por mais tempo nos Estados Unidos.

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Taxas mais altas por lá levam a um fluxo de saída das Bolsas desses países, com investidores optando por assumir menos riscos.

Há aparentemente, então, um limbo no que se diz respeito à Bolsa brasileira. O dado da inflação americana não foi suficiente para fazer investidores acreditarem que o Fed possa cortar os juros em março, o que traria fluxo, nem para melhorar o sentimento com a economia do país, sucessivamente, com a demanda por commodities.

Dentro desse cenário, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) caíram cerca de 0,80%, seguindo o preço do petróleo. Outras petroleiras, como a 3R Petroleum (RRRP3) e a PRIO (PRIO3) perderam, respectivamente, mais de 3% e 2%.

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“As ações das petroleiras seguiram o movimento da commodity no mercado internacional, que cedeu com incertezas de demanda se somando à ampliação da oferta devido aos números que apontam para elevação das exportações da Rússia e estimativa de alta da produção nos EUA”, fala Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Por fim, a curva de juros brasileira também recuou. As taxas dos DIs para 2024 perderam 2,2 pontos-base, a 11,73%, e as dos DIs para 2025, 7,5 pontos, a 10,24%. Os contratos para 2027 perderam 8,5 pontos, a 10,10%, e os para 2029, oito pontos, a 10,46%. Os rendimentos dos DIs para 2031 caíram oito pontos, a 10,74%.

As taxas de juros brasileiras caem acompanhando os treasuries e, além disso, repercutem a publicação do IPCA de novembro. O principal índice de inflação do país teve leitura de alta de 0,28%, aquém do consenso de 0,30%.

Na opinião de Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, alguns movimentos de preços pavimentam o caminho para a continuidade da condução da política monetária por parte do Banco Central.

O primeiro é que, mesmo com aceleração impulsionada do grupo de alimentação e bebidas, que representa quase metade do indicador em termos de itens, o índice de difusão recuou, de 52,5% para 51,7%, na margem.

A perspectiva de que o Fed pode demorar mais para iniciar seu ciclo de queda de juros, enquanto o Banco Central brasileiro pode dar continuidade aos seus cortes, porém, ajuda a enfraquecer o real, com o dólar subindo 0,59% frente à divisa brasileira, a R$ 4,966 na compra  e na venda.

Fora isso, o recuo das commodities, que impactam a balança comercial, também é parte dessa justificativa sobre o dólar.