Ibovespa se afasta das mínimas, mas fecha em queda de 0,61%: por que a ata do Copom e o IPCA-15 não animaram o mercado

Após Ibovespa abrir em alta, realização de lucros, movimento do mercado de DIS e monitoramento de possível mudança de meta da inflação levaram à virada

Vitor Azevedo

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Após abrir em alta nesta terça-feira (27), com investidores de olho na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e na publicação do IPCA-15, o Ibovespa operou em forte queda de mais de 1% por boa parte do pregão, mas o recuo perdeu força e o índice fechou com baixa de 0,61%, aos 117.522 pontos. A sinalização de uma possível queda dos juros pelos diretores do Banco Central e uma inflação em desaceleração não foram suficientes para manter o principal índice da Bolsa brasileira no terreno positivo na sessão.

“Em um primeiro momento a leitura de ambos foi favorável. O IPCA-15 continua mostrando desinflação, o que permitiria o início do corte de juro pelo BC, em teoria. A própria ata apontou a possibilidade de iniciarem os cortes com cautela na próxima reunião [de agosto]. Isso trouxe fluxo comprador para cíclicos domésticos e empresas alavancadas na abertura”, explica Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research.

O IPCA-15 de junho trouxe uma alta de 0,04%, pouco mais do que o consenso de avanço de 0,01%. Já na ata, a opinião predominante foi que já haveria confiança suficiente, a partir dos últimos dados, para um sinal de “um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”. Na máxima do dia, o Ibovespa chegou a 119.211 pontos, ou avanço de 0,82%.

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“O problema é que ainda há uma desencoragem relevante da inflação implícita [diferença entre a taxa dos títulos prefixados e dos títulos indexados a inflação] no Tesouro Direto. Logo, outros investidores que discordam da tese de que é possível baixar o juro em breve ou que irá baixar consideravelmente provavelmente aproveitaram a euforia da abertura para aumentarem suas posições”, comenta Sanches. “ Isso fez que o DI longo virasse de queda para alta e como o juro que mais importante de fato é o longo, todo movimento comprador da abertura se reverteu”.

Os DIs para 2024 perderam quatro pontos-base, a 12,97%, e os para 2025, 5 pontso, a 10,95%. As taxas dos DIs para 2027, no entanto, subiram levemente para 10,35%, as dos DIs para 2028, 3 pontos, a 10,49%. Os DIs para 2031 foram a 10,74%, com mais 4 pontos, mas longe das máximas do dia.

No cenário externo, uma bateria de dados positivos sobre a economia norte-americana elevou a expectativa de que os juros nos EUA atingirão patamares mais elevados para segurar a inflação, o que também impactou os juros por aqui.

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“A curva de juros vem caindo faz meses, mas não tem como cair para sempre. Mesmo com as notícias positivas, alguns investidores avaliam que a precificação atual dos DIs está correta ou até um pouco subestimada. E,  provavelmente, foi isso que reverteu o fluxo inicial da abertura que, por sinal, puxado principalmente por pessoas físicas”, avalia o analista.

Já para o analista Alison Correia, da casa de análise Top Gain, o mercado local experimentou mais uma sessão de ajuste, após semanas de altas na expectativa de uma possível sinalização do BC sobre corte da Selic, o que acabou acontecendo nesta sessão.

Além disso, na  própria ata, um grupo mais cauteloso da diretoria enfatizou que a dinâmica desinflacionária ainda reflete o recuo de componentes voláteis e que a incerteza sobre o hiato do produto gera dúvida sobre o impacto do aperto monetário já implementado.

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Em nota a clientes nesta terça-feira, o Bradesco destacou a novidade importante da ata de que, na avaliação predominante do Comitê, havendo continuidade de melhora da inflação e das expectativas, é provável que se ganhe confiança para uma flexibilização “parcimoniosa” na próxima reunião. “Apesar de sinalizar essa flexibilização, o Copom concordou, unanimemente, que uma flexibilização prematura – enquanto não houver confiança no processo de desinflação – é indesejável. Dessa forma, o ciclo de corte deve ser gradual”, afirmou a equipe do Bradesco, chefiada por Fernando Honorato Barbosa.

A ata reconheceu melhoras nos preços externos, no quadro de inflação doméstica – no atacado e no varejo –, no fiscal e prevê alguma desaceleração da economia. Porém, o Copom também elevou o juro neutro em seus modelos, de 4,0% para 4,5%; sem essa mudança, o modelo do BC mostraria níveis mais baixos de inflação para 2024 e 2025. Esse também foi visto como um fator para maior cautela do mercado, bem como a visão de que o ciclo de corte não deve ser longo.

A Levante também aponta a leitura da ata de que, sem que haja uma queda estrutural e persistente da inflação, o Comitê de Política Monetária vai permanecer mantendo os juros altos, “independentemente da reclamação geral de empresários e políticos.”

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Milena Araújo, estrategista da Nexgen Capital, destaca também que o fato de o dado da inflação medida pelo IPCA-15 ter vindo um pouco além do esperado gerou maior cautela no mercado – bem como a possível mudança da meta da inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em reunião que acontecerá na próxima quinta-feira (29).

“Então ainda tem uma expectativa. Eles vão mexer na meta de inflação ou eles vão manter? Vai ter alguma mudança provavelmente na meta dos próximos anos, e não numa meta de curto prazo. Acaba que todos esses fatores, hoje, derrubaram o Ibovespa”, diz. “O mercado está refletindo a ata do Copom, que basicamente eles deram uma abertura para um possível afrouxamento de uma forma gradual, mas dependendo dos indicadores até a próxima reunião”.

Para o CMN da próxima quinta, a XP espera manutenção da meta de inflação para os próximos anos (em 3,0%), porém com ampliação formal do seu horizonte de convergência. “Esta definição tem influência relevante sobre o comportamento das expectativas inflacionárias de médio prazo e, consequentemente, a condução da política monetária”, aponta.

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“Esperamos que o CMN confirme a meta de inflação em 3%, com faixa de tolerância de 1,5 ponto percentual, mova a meta de ano-calendário para contínua, redefinindo a política de verificação de cumprimento da meta – mas seguindo o padrão internacional – deixando para o Banco Central definir o horizonte de convergência”, afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

Além da queda do Ibovespa, o dólar comercial subiu 0,67% frente ao real, a R$ 4,798  na compra e a R$ 4,799 na venda, após chegar a R$ 4,752 na mínima do dia e a R$ 4,807 na máxima.

Parte desse movimento pode ser atribuído a uma realização de lucros, uma vez que a divisa americana vem de várias semanas consecutivas de perdas, rondando há dias seus níveis mais baixos em mais de um ano.

À Reuters, Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, apontou ainda que a perspectiva é de que haja “turbulência” no mercado de câmbio ao longo dos próximos dias por conta do usual movimento sazonal de rolagem de contratos no final do semestre e em meio à formação da Ptax de junho, que ocorre na sexta feira.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista e que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

O recuo dos ativos brasileiros e do real foram na contramão do exterior. Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, na sequência, 0,63%, 1,15% e 1,65%. Já o dólar perdeu força frente a outras moedas de países desenvolvidos, com o DXY caindo 0,21%.

(com informações da Reuters)