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A bolsa opera nesta segunda-feira (9) com muita volatilidade e baixo volume financeiro, mas sem grandes solavancos – e até com ganhos à tarde –, mostrando que o investidor, sobretudo o estrangeiro, não comprou a possibilidade de golpe ou disruptura dos poderes constituídos.
Mas também está esperando para ver os próximos acontecimentos. Até as 14h, o fluxo financeiro era de cerca R$ 8 bilhões, quase metade do que geralmente se negocia. Já o fluxo projetado para o final da sessão está em R$ 13 bilhões, bem abaixo da média diária da B3 (B3SA3), que geralmente pode ultrapassar os R$ 30 bilhões.
De certo, é que, após a destruição ocorrida no Palácio do Planalto, no Superior Tribunal Federal e no Congresso Nacional, neste domingo, aconteceu um restabelecimento dos Três Poderes, com a prisão de envolvidos, desmonte de acampamentos e afastamento de autoridades, supostamente envolvidas.
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Isso trouxe um certo alívio à bolsa de valores, com o índice operando com alta de 0,5%, aos 109,5 mil pontos, por volta das 14h35.
“Não vejo como um grande fator decisório (para saída do estrangeiro) os atos de domingo”, disse Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos.
Conforme ele, “nenhum arcabouço jurídico foi quebrado”, nem cogitada descontinuidade do governo recém empossado.
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Hoje pela manhã, representantes dos três Poderes rejeitaram os “atos terroristas” e referendaram a defesa da democracia, afastando qualquer possibilidade de disruptura institucional.
“De forma pragmática, o que aconteceu no Capitólio não trouxe mudanças para a bolsa”, acrescentou Costa, num paralelo à invasão no Congresso americano há dois anos.
Para Luan Alves, analista-chefe da VG Research, há expectativa de uma leve saída de capital estrangeiro da bolsa hoje, mas sua manutenção vai depender dos próximos acontecimentos.
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“Considerando que já vínhamos de semanas difíceis, o desempenho do Ibovespa na abertura reforça o impacto limitado do evento”, disse Alves.
Investidor estrangeiro ressabiado, mas não de fora
Para Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, o movimento isolado, deste domingo, não é o suficiente para o estrangeiro retirar o seu dinheiro do Brasil.
“Mas ele fica muito mais ressabiado, e com medo de fazer grandes alocações aqui. Mas um movimento específico (como de ontem) não é condicao sine qua non para o gringo sair, não”, acrescentou.
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Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, é provável que possa acontecer um efeito negativo no fluxo estrangeiro para a B3, sobretudo em janeiro. Isso porque é difícil para o gringo entender exatamente o que está acontecendo.
“Se vai ser mais de curto prazo (a saída), ou não, ainda não se sabe”, disse, ressaltando que nos próximos quatro anos o governo Lula, ao contrário dos dois primeiros mandatos (2003-2010), vai ter uma oposição mais combativa, bem diferente da realizada pelo PSDB.
Por sua vez, a consultoria Eursária avaliou que os atos demonstraram uma oposição mobilizada, com potencial para se tornar violenta.
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Isso pode se traduzir posteriormente em desafios de governabilidade, se o governo perder o apoio popular, em um contexto de maiores dificuldades econômicas.
“Se os direitos políticos de [Jair] Bolsonaro forem retirados no futuro (probabilidades maiores depois de ontem, embora ainda improvável), o risco de tensões sociais aumentaria ainda mais”, avalia.
Perda de foco da agenda econômica
Um efeito colateral dos atos para a bolsa está no adiamento das discussões da agenda econômica.
Entre os temas que aguardam por definição do mercado estão os debates sobre o teto de gastos, reformas, nomeações de 2º escalão e política de preços da Petrobras (PETR3;PETR4).
“Esse evento (dos atos) tira o foco das coisas importantes de mercado, o que é muito ruim. Vamos ficar, provavelmente, nessa semana e na próxima só falando sobre isso”, pontua Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest.
Em análise a clientes, o Julius Baer destaca que, embora não se descarte novos protestos violentos, que possam pesar no mercado no curto prazo, o foco dos investidores continua nas questões macroeconômicas.
“Dada a forte cobertura da mídia internacional sobre os tumultos, esperamos que os investidores estrangeiros reduzam um pouco seu otimismo”, escreveu.
Entretanto, o relatório pontua que o foco, para futuras alocações, estará, especialmente, na formação do novo quadro fiscal do Brasil, esperado para ser anunciado nos próximos meses.
No mais, o Julius Baer acrescenta que os últimos fluxos de ações mostram que os investidores estrangeiros continuam mais otimistas em relação ao mercado brasileiro do que os investidores locais.
Recorde de ingresso de recurso estrangeiro na bolsa
De certo, é que o estrangeiro vem aportando valores recordes na B3. Em dezembro, o fluxo de capital estrangeiro para a bolsa brasileira somou uma entrada líquida de R$ 15,2 bilhões.
Assim, elevou-se o saldo total de 2022 para uma entrada líquida de R$ 119,8 bilhões, o maior valor desde o início dos dados em 2008.
“O saldo de capital estrangeiro foi positivo no mês passado mesmo com perspectivas cada vez mais deterioradas em relação ao fiscal”, escreveram Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, em relatório da XP Investimentos.
Daqui pra frente, apontaram os especialistas, para que o fluxo estrangeiro continue positivo é preciso os seguintes fatores:
- uma melhor resolução sobre a trajetória fiscal e política do país;
- a continuação da recuperação econômica; e
- um cenário positivo para as commodities e os mercados emergentes.
Bolsa barata
Por fim, na avaliação de Fabrício Gonçalvez, Ceo da Box Asset Management, os atos de domingo ferem a democracia, mas não é o que, de fato, vai afastar o estrangeiro.
“Vivemos um momento de mercado em que bolsa (do Brasil) está com P/L (preço das ações sobre os lucros) muito baixo, e isso gera oportunidades para o gringo”, disse.
Além disso, há um cenário internacional favorável, com a reabertura da economia chinesa, com o fim das drásticas restrições por conta da Covid.
“Há fatores que mostram que o fluxo estrangeiro vai continuar no país”, afirmou, acrescentando que há também “um certo apreço no exterior ao presidente Lula”.
Segundo ele, a expectativa é de que o estrageiro possa ingressar na bolsa, mas não só em commodities, mas também para setores como varejo e construção, cujas políticas econômicas do governo Lula vem beneficiando.
“Somos um país com custo de oportunidade atrativo para o aporte do gringo”, concluiu.