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Os frigoríficos brasileiros JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) divulgaram, todos, resultados na noite dessa segunda-feira (13). E os números para analistas, surpreenderam de maneira positiva – apesar das dificuldades ainda enfrentadas.
Por volta das 12h30 (horário de Brasília) desta terça-feira (14), as ações ordinárias da JBS estavam estáveis, a R$ 20,97, as da Marfrig subiam 3,97%, a R$ 7,86, e as da BRF, 2,52%, a R$ 12,62.
JBS e Marfrig continuam sofrendo por conta das suas maiores exposições ao mercado norte-americano. Nos Estados Unidos, o ciclo do gado se encontra em um momento de queda do número de cabeças disponíveis, o que aumenta os gastos dos frigoríficos, que desembolsam mais comprando animais. Porém, é possível que o ponto de inflexão já tenha passado.
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“Nenhuma grande novidade na carne bovina dos EUA, ainda refletindo o difícil momento do ciclo pecuário e a queda nos preços de corte. No entanto, saudamos a recuperação da margem da empresa após problemas operacionais relatados no primeiro trimestre”, fala a equipe da XP Investimentos, liderada por Leonardo Alencar, sobre a JBS.
“A Marfrig divulgou resultados em linha com o esperado, sendo que as operações nos Estados Unidos conseguiram manter o ritmo de abate com uma margem premium, apesar das difíceis condições do mercado”, expõe o time do Santander, encabeçada por Rodrigo Almeida.
Pior parte do impacto negativo nos EUA já passou para JBS e Marfrig?
Os analistas do Itaú BBA, liderados por Gustavo Troyano, vão na mesma linha.
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“Iniciativas na carne bovina dos EUA impulsionaram melhorias sequenciais e igualaram a rentabilidade de suas operações às de seus pares mais uma vez. Vemos isso como uma redução de riscos, já que ainda havia algumas questões sobre o momento dessas operações”, dizem, sobre a JBS.
“Na América do Norte, a margem de Ebitda [Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] ficou em 4,4%, apenas 10 pontos base abaixo da nossa expectativa. O segmento continua sofrendo com a dinâmica do ciclo de baixa do gado, relatando uma contração da margem de 80 pontos base no período devido ao aumento dos custos do gado”, expõem, sobre a Marfrig.
A JBS viu sua receita líquida consolidada recuar 7,6% no ano, para R$ 91,4 bilhões. O seu braço nos EUA, a Beef North America, voltou, contudo, a ter a maior participação na receita líquida de julho a setembro, em primeiro lugar, com R$ 29 bilhões em faturamento, após a Pilgrim’s Pride (PPC) passar à frente.
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No ranking dos Ebitdas ajustados, a Pilgrim’s Pride liderou, com R$ 2,195 bilhões, 25,7% menos na comparação anual. Depois ficaram JBS USA Pork (R$ 1,021 bilhão, alta de 2,2%), JBS Australia (R$ 664,6 milhões, aumento de 34,7%), Seara (R$ 566,4 milhões, queda de 68,2%), JBS Beef North America (R$ 502,7 milhões, baixa de 80,1%) e JBS Brasil (R$ 484,4 milhões, redução de 41,3%).
A JBS Brasil registrou redução na receita com exportações, de 10%, mas a receita com as vendas de carne bovina no mercado interno subiu 3%, impulsionada por crescimento da oferta e diminuição de preços.
“A Pilgrim’s Pride e a divisão de suínos dos EUA foram as divisões de melhor desempenho da JBS. A redução dos custos de grãos, combinada com a forte demanda e sazonalidade positiva, levou a uma melhoria de 86% no EBITDA das divisões combinadas”, explica o Santander.
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O lucro líquido da companhia ficou em R$ 572,7 milhões, com queda de 85,7% no ano.
Marfrig traz maior foco no mercado interno
Na Marfrig, a bottom line do balanço trouxe um número negativo em R$ 112 milhões, revertendo lucro de R$ 431 milhões um ano antes. Em parte, a piora acompanhou a queda de 2,1% da receita na base anual, que foi para R$ 35,6 bilhões.
Os efeitos da oferta reduzida de gado nos Estados Unidos pesaram no número consolidado. O Ebitda da operação americana caiu 55,7% no terceiro trimestre, para R$ 150 milhões. A margem de dois dígitos do terceiro trimestre (11,9%) do ano passado recuou para 4,4%.
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O time do Santander menciona que, por lá, a companhia trouxe um recuo de 5% dos custos do preço por cabeça – que foi, do outro lado, ofuscado pelos menores preços cobrados. a maior oferta também faz os frigoríficos entrarem em uma competição pelo consumidor.
A empresa teve um resultado um pouco melhor do que o esperado na América do Sul, aproveitando do bom momento do ciclo do gado no Brasil. No entanto, a Marfrig teve suas margens levemente por ter mudado seu foco para o mercado local – por conta da maior oferta no mercado internacional e aproveitando um pico da demanda no Brasil.
“A divisão da América do Sul relatou uma desaceleração de 7% na receita trimestral, apesar do forte crescimento de volume de 25%. Segundo a Marfrig, a demanda no mercado internacional tem sido forte, mas o excesso global de proteína limitou os preços de exportação mais uma vez”, diz o Santander.
“Destacamos a diminuição da contribuição da China no mix de exportações da Marfrig, à medida que outros destinos começaram a se tornar incrementais, diversificando a exposição do segmento a importadores únicos. A receita totalizou R$ 5,4 bilhões, enquanto a maior disponibilidade de gado impulsionou o Ebitda para R$ 626 milhões no trimestre, com uma margem de 11,6%”, fala.
A XP, porém, chamou o resultado do segmento da América do Sul de “surpreendente”.
As casas também mencionaram que a BRF, atualmente maior acionista da Marfrig, também trouxe um resultado positivo.
“Como destaque, a BRF relatou um FCFE próximo do ponto de equilíbrio, levando-nos a acreditar que a Marfrig seria responsável pela maior parte da redução da dívida líquida no trimestre”, diz o BBA. “O encerramento da venda de 16 fábricas da Marfrig para a Minerva deverá ser fundamental para manter a alavancagem em níveis razoáveis, embora longe de confortáveis, além da melhoria do dinamismo dos lucros da BRF”, expôs a XP.
BRF traz resultado em linha, em meio a turnaround
Das três empresas, a BRF é a que se encontra, provavelmente, com uma situação mais delicada, tentando consolidar seus negócios e passar a gerar caixa – mas há sinais positivos.
A receita da dona da Sadia e Perdigão caiu 1,8% no ano, para R$ 13,8 bilhões, e o Ebitda, 13%, para R$ 1,2 bilhão. O prejuízo líquido ficou em R$ 262 milhões, alta de 91% no ano.
“A BRF reportou um trimestre sólido. com um balanço mais leve em função do follow on, levando a um fluxo livre de caixa acima de nossas estimativas – com consumo de R$ 21 milhões, significativamente inferior à nossa previsão de consumo de caixa de R$ 1,3 bilhão”, expõe a XP, citando o aporte que a Marfrig fez em parceria com a Salic, fundo de investimento em agropecuária da Arábia Saudita, na BRF.
Do lado operacional, o preço ainda pressionado do frango foi contrabalançado pelos menores gastos com ração.
“As margens expandiram cerca de 50 pontos base trimestralmente para aproximadamente 8,7%, devido aos custos de grãos e ao programa de eficiência, BRF+. Por outro lado, preços mais baixos limitaram a expansão da margem”, expõe o Santander.
Na divisão Brasil, o Ebitda de R$ 778 milhões e a margem de 11,9% vieram em linha com as projeções do BBA.
“Os resultados da BRF na operação brasileira estiveram amplamente em linha com nossas expectativas. Os volumes foram sólidos no trimestre, mas a receita consolidada teve dificuldades devido ao excesso de oferta doméstica que seguiu a proibição japonesa de importações de certos estados brasileiros”, explicam.
Já a divisão internacional, por outro lado, frustrou por conta do excesso de oferta. Os maiores volumes não foram suficientes para segurar a queda de 18.8% do preço médio do quilo de frango no ano e a receita líquida caiu 7,9% na mesma base, para R$ 6,02 bilhões.
“Os preços de exportação caíram trimestralmente, e a dinâmica global de excesso de oferta pesou novamente nos resultados. O Ebitda ajustado, de R$ 251 milhões, ficou 9% abaixo da nossa previsão, implicando uma falha na margem de Ebitda de 90 pontos base, em 4,2%”, expõe o BBA.