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Oportunidade ou um investimento errado após quedas? Os papéis de varejistas têm enfrentado uma pressão significativa, com as ações no segmento de vestuário e joias caindo em média 20% no último mês, em comparação com baixa de 2% para o Ibovespa, levando muitos do mercado a questionarem se há oportunidades no radar (e quais empresas são mais atrativas).
Apesar das reduções substanciais nas expectativas na maioria dos casos, com os lucros por ação (EPS, na sigla em inglês) sendo revisados para baixo em mais de 20% ao longo do ano, devido a um ambiente mais desafiador previsto para o segundo semestre de 2023 e um ambiente de consumo ainda fraco com consumidores endividados, o JPMorgan ainda vê um movimento exagerado no mercado acionário para muitos ativos.
Isso com ações sendo negociadas a cerca de 10 a 11 vezes o Preço (P)/Lucro (L) futuro, em comparação com 20 vezes no passado recente, enquanto contam com um desconto de 10% em relação aos pares globais, ao contrário de um prêmio no passado.
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O banco americano também destaca que discussões sobre possíveis mudanças tributárias – eliminação dos benefícios do ICMS, subvenção do imposto de renda sobre o lucro e reforma tributária mais ampla – têm colocado pressão adicional sobre as ações.
Embora os analistas esperem volatilidade à frente, dada a incerteza em torno das taxas de juros e do cenário macroeconômico nebuloso, eles acreditam que alguns movimentos de ações dentro do setor foram exagerados.
Nesse contexto, o JPMorgan optou por elevar as recomendações para ações da Lojas Renner (LREN3), Arezzo (ARZZ3) e Vivara (VIVA3) de neutra para overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), enquanto manteve recomendações neutras para Alpargatas (ALPA4) e Grupo Soma (SOMA3). No setor, analistas destacam Vivara e Renner em destaque como preferidas, ao mesmo tempo em que veem Arezzo como uma boa candidata.
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Com isso, as ações das três empresas alvos de elevação de recomendação se destacaram na Bolsa: LREN3 subiu 3,19%, a R$ 12,93, VIVA3 subia 4,96%, a R$ 27,31, enquanto ARZZ3 teve ganhos de 6,17%, a R$ 65,52.
A alta também se deu por conta do cenário macro, com as taxas dos contratos futuros de juros fecharam esta quarta-feira em baixa no Brasil na sessão, com investidores ajustando posições e reagindo novamente ao exterior, onde os rendimentos dos Treasuries cederam após a divulgação de dados piores que o esperado sobre o mercado de trabalho privado dos Estados Unidos.
Confira as análises do JPMorgan para as empresas do varejo:
Vivara (VIVA3)
O JPMorgan elevou a ação da Vivara para compra e preço-alvo passou de R$ 26 para R$ 34, pois acredita que a companhia oferece o melhor equilíbrio entre crescimento e valuation.
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Segundo o relatório, a empresa tem apresentado tendências distintas em relação ao restante da indústria, com crescimento acelerado de sua expansão na marca Life.
“Com relação à lucratividade, as tendências também são positivas, pois a maturação das lojas deve ajudar com a alavancagem operacional e começar a compensar as pressões pré-operacionais, enquanto a nova planta provavelmente continuará impulsionando uma maior eficiência na fabricação, reduzindo os custos do produto sem afetar sua proposição de valor”, explicam analistas.
Nesse contexto, os analistas veem um bom equilíbrio de valuation com um P/L de 12,5 vezes e 10,4 vezes estimado para 2024 e 2025 e uma taxa de crescimento anaul composta (CAGR) de Receita e EPS de 17% e 18% ao longo de 5 anos.
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Além disso, entre as varejistas analisadas, Vivara seria a única ação que, nas estimativas do JPMorgan, não enfrentaria riscos de baixa devido à potencial remoção da subvenção fiscal do ICMS e JCP.
Arezzo&Co (ARZZ3)
A Arezzo também teve sua recomendação elevada para equivalente à compra, mas o preço-alvo foi reduzido de R$ 93,50 para R$ 74, uma vez que JPMorgan enxerga um bom ponto de entrada após o papel da companhia cair 18% no ano e estar negociando a 11 vezes P/L para 2024.
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Para os analistas, a empresa deve apresentar resultados sólidos no 2º semestre de 2023, com base em uma execução sólida em cima de uma estrutura mais enxuta após a reestruturação do 1º semestre de 2023, enquanto o capital de giro deve se normalizar gradualmente.
Nesse contexto, o JPMorgan continua a ver tendências de crescimento de receita e EPS superiores em relação aos pares.
Além disso, mesmo excluindo tanto o JCP quanto a Subvenção do ICMS de suas estimativas de 10 anos – o que analistas acreditam ser um cenário de estresse – o risco de baixa para as ações da Arezzo é limitado a 10%.
“E, neste momento, as discussões sobre desaceleração significativa nas tendências de receita são menores do que em relação aos pares, dada sua presença ainda crescente no mercado de vestuário masculino, que é um mercado materialmente menos competitivo do que o feminino, enquanto existem outras potencialmente importantes vias de crescimento, como internacionalização e expansão adicional no vestuário feminino – embora não seja um foco de curto prazo”, diz relatório.
Lojas Renner (LREN3)
Conforme relatório, a tão aguardada recuperação do 2º semestre de 2023 para Lojas Renner não parece ser o que muitos estavam esperando, com tendências de crescimento ainda fracas apesar das bases de comparação mais fáceis.
Nesse contexto, as discussões estruturais em torno de 1) execução da empresa, 2) comércio internacional e 3) finanças do consumidor, ainda estão em andamento. Ainda assim, em termos relativos dentro de seu grupo de pares, Lojas Renner possui a maior qualidade de lucro.
Além disso, ao analisar a avaliação em diferentes cenários de estresse (excluindo a subvenção fiscal do ICMS e JCP), a varejista ainda seria considerada o nome mais barato, o que, na opinião do JPMorgan, amorteceria o risco relativo de queda das ações.
No entanto, analistas reduziram o lucro por ação estimado para 2023 e 2024 em 9% e 13%. Com isso, o preço-alvo para dezembro de 2024 também foi reduzido de R$ 19 para R$ 15,50, à medida que foi incorporado um custo de capital próprio mais elevado e uma menor contribuição de longo prazo da Realize.
No geral, negociando a 9,7 vezes e 8,0 vezes P/L estimado para 2024/2025, JPMorgan vê o equilíbrio entre risco e recompensa inclinado para o lado positivo. Com isso, o banco elevou Renner de neutra para compra.
Grupo Soma (SOMA3)
O JPMorgan manteve recomendação neutra e reduziu preço-alvo de R$ 11 para R$ 6,50 para as ações do Grupo Soma, tendo em vista que a perspectiva de crescimento de longo prazo é incerta, enquanto a qualidade dos lucros é a mais fraca em relação aos pares.
A equipe de research do banco também destaca que Soma tem a pior qualidade de lucros entre as empresas avaliadas, uma vez que possui a maior exposição aos incentivos fiscais do ICMS, e esses incentivos representam mais de 100% das estimativas de lucros até 2024.
Além disso, analistas pontuam que as principais marcas da companhia estão amadurecendo e a recuperação da Hering não está desbloqueando tanto crescimento quanto inicialmente esperado (além das adversidades macroeconômicas), apesar de resultados positivos na lucratividade.
Isso tem levado a expectativas de crescimento de receita mais baixas, o que leva a uma menor alavancagem operacional e potencial de margem Ebitda de longo prazo, principalmente porque a empresa teve que fortalecer sua estrutura corporativa e ajustar incentivos pessoais para estar mais alinhada com as práticas de mercado mais amplas. Assim, JPMorgan reduziu estimativa de EPS para 2023 e 2024 em 19% e 26%.
Alpargatas (ALPA4)
O JPMorgan também manteve recomendação neutra para ações da Alpargatas e reduziu preço-alvo de R$ 9 para R$ 8,50, pois apesar da queda de 50% no ano, a ação ainda é a mais cara do grupo.
Na avaliação do banco, a marca Havaianas ainda possui ótimas oportunidades nos mercados internacionais, enquanto seu negócio local deve ser uma “galinha dos ovos de ouro” para sustentar suas ambições internacionais, ainda com oportunidades para melhorar sua posição e ir além das sandálias.
Após várias mudanças de gestão (e de acionista controlador) ao longo dos últimos 10 anos, o JPMorgan vê a empresa voltando ao básico antes de aspirar a voos mais altos.
Ou seja, focando em ajustar os processos internos para apoiar uma melhor execução de longo prazo, o que provavelmente afetará os resultados nos próximos 12 a 24 meses, ao mesmo tempo em que limita a visibilidade futura, já que as questões do passado recente têm potencial para ter impactos mais duradouros nas relações da empresa com clientes-chave, especialmente nos mercados internacionais.