JPMorgan projeta Ibovespa a 130 mil pontos em 2023, com Brasil entre destaques; banco lista 4 ações preferidas e 3 para evitar

Brasil e Chile têm posição acima da média (overweight) em América Latina; visão é otimista, mas riscos fiscais seguem no radar dos estrategistas

Lara Rizério

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Em relatório sobre perspectivas para 2023 para os mercados da América Latina, o JPMorgan apontou otimismo para a região, muito baseado na tese de que vários países vão entrar em um ciclo de queda das taxas de juros, em contraste com os países desenvolvidos e provavelmente de forma mais agressiva do que outros emergentes.

“A principal fonte de retornos da América Latina é por meio de uma reclassificação de ativos, já que os valuations estão em mínimas de vários anos”, avalia o JP.

As opcionalidades positivas para a América Latina incluem a reabertura da China e fraqueza do dólar. Segundo os estrategistas do banco, “esta é uma combinação poderosa, que suporta commodities mesmo com uma (leve) recessão nos EUA”.

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Enquanto isso, a política fiscal continua sendo o “calcanhar de Aquiles” da região, considerando as crescentes demandas sociais pós-pandemia em um ambiente onde o crescimento é baixo e os países são governados em sua maioria pelo espectro político de esquerda, que costuma expandir os gastos.

Os estrategistas têm uma projeção para 2023 de 2.500 pontos para o MSCI de America Latina no cenário-base, ou um potencial de avanço de 12%. Dentro do case de América Latina, possuem exposição acima da média (overweight) para Brasil e Chile, neutro para México e Colômbia e abaixo da média (underweight) para Peru. O cenário mais positivo é de MSCI a 2.800 pontos (alta de 26%) e o mais pessimista é de 1.900 pontos (queda de 15%).

O cenário-base para o Ibovespa é de 130 mil pontos ao fim de 2023 (potencial de valorização de 19% frente o fechamento da véspera), enquanto o cenário otimista é de 140 mil pontos (upside de 28%) e o pessimista é de 95 mil pontos (13% abaixo do fechamento da véspera).

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A recomendação positiva no cenário-base é baseada na visão de que os ativos brasileiros sejam reclassificados assim que as taxas de juros comecem a declinar.

Os estrategistas apontam que há ruídos significativos em termos do que a política fiscal da próxima administração será, mas há uma razoável chance de algum tipo de arranjo fiscal que permita taxas mais baixas através de uma combinação da pressão do mercado e do Congresso. O país também é muito beneficiado com a eventual reabertura da China.

Já com relação aos riscos no radar, os estrategistas avaliam que, para o Brasil ter um desempenho superior, é preciso haver alguma clareza na frente política sobre como o governo Lula vai equilibrar a postura fiscal com as crescentes demandas sociais.

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“Neste ponto, o roteiro para isso não está delineado. A piora do lado fiscal levaria à alta da inflação e confirmaria
os movimentos recentes da curva de rendimento, com elevação dos juros para 2023”, avalia o JP. Questões regulatórias também podem ser prejudiciais aos mercados, especialmente em termos de empresas estatais. Além disso, a inflação persistente nos EUA e a desaceleração na China são riscos importantes, apontam.

No case mais otimista, de Ibovespa a 140 mil pontos, os estrategistas ressaltam um cenário global com “pouso suave” para a economia dos EUA e reabertura da China levando a um dólar mais fraco e resultando em alta de preços das commodities.

Já no cenário doméstico, a responsabilidade fiscal é a norma. O governo contém despesas além do orçamento de 2023 e
introduz um quadro fiscal que restaura a credibilidade. Isso abre caminho para o Banco Central cortar juros mais cedo e mais agressivamente do que o esperado (o JP vê corte de 2,25 pontos percentuais a partir de junho).

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As contas externas são sólidas, a política fiscal é responsável e a posição geopolítica benigna leva o Brasil a ter um
posição única dentro dos mercados emergentes, atraindo capital estrangeiro. Os investidores locais mudam sua alocação de renda fixa para ações.

No case mais pessimista, o Ibovespa iria a 95 mil. Nesse cenário, haveria dominância fiscal, com os gastos do governo
saindo do controle e aumento da inflação. O Banco Central tem que retomar o ciclo de aperto monetário e o país entra em recessão, enquanto o marco regulatório é mais intervencionista.

Os protestos irrompem à medida que o crescimento estagna e a inflação permanece alta em meio a um contexto político muito polarizado. A rotação em ações não se materializa e as saídas de estrangeiros se materializam rapidamente.

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Top picks e ações menos preferidas

Em Brasil, os analistas destacam quatro ações “top picks” (preferidas) e três ações para evitar, ou “menos preferidas”.

As preferidas são Natura & Co (NTCO3), MRV (MRVE3), B3 (B3SA3) e Suzano (SUZB3). As “menos preferidas” são Gol (GOLL4), IRB (IRBR3) e Light (LIGT3).

“Os preços da Natura refletem uma realidade que não condizem com a estratégia da empresa recentemente anunciada. Também, o aumento do consumo de massa impulsionado pelo auxílio social pode permitir o aumento da receita”, avalia.

Os analistas apontam que evitariam o setor aéreo, em especial a Gol, considerando um cenário ainda desafiador vis a vis rentabilidade e preços de combustíveis, mesmo que a ocupação esteja atingindo níveis pré-pandêmicos.

Entre outras as teses,  a MRV continua sendo a principal escolha do JP em termos de diversificação de negócios e valuation atrativo. Os analistas do banco também projetam recuperação do mercado imobiliário americano, que deve impulsionar
a percepção de valor da Resia entre os investidores.

Sobre a B3, como a única operadora de Bolsa verticalmente integrada e diversificada no Brasil, a B3 desfruta de altas barreiras à entrada e forte geração de fluxo de caixa. Uma Selic mais baixa daqui para frente pode ser um vento favorável para o volume das ações  e suporte geral para ganhos.

Por fim, para a Suzano, com a normalização mais lenta que o esperado para o mercado de celulose, a empresa é o melhor veículo para operar este tema. “As ações da Suzano tiveram desempenho inferior aos preços de celulose e esperamos ganhos resilientes para ajudar a estreitar a lacuna”, avaliam.

Já sobre os papéis para evitar, os analistas ainda veem que um ambiente de “turnaround” (reviravolta) é desafiador, enquanto a solvência regulatória está sob pressão. A Light, por sua vez, enfrenta um grande desafio com baixa operacionalidade, com perdas comerciais superando 50%, alta alavancagem financeira e uma disputa fiscal significativa e localizada em um estado (Rio de Janeiro) que apresenta ambientes macro, políticos e sociais desafiadores, diz o banco.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.