Lehman Brothers: o novo Bear Stearns, mas muito diferente

Ao contrário do episódio de março, venda do banco vem sendo desejada pelos mercados; mas empecilho é o que não falta

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SÃO PAULO – Tido como um dos episódios mais emblemáticos da crise do subprime, assim como o resgate dos fundos efetuados pelo BNP Paribas em agosto, o mercado pode estar próximo de assistir a uma operação semelhante à ocorrida com o Bear Stearns, banco que, acuado com severa falta de liquidez, foi vendido às pressas ao JPMorgan em meados de março.

Todavia, diferentemente do observado àquela época, desta vez, uma possível venda do Lehman Brothers vem sendo não somente bem vinda pelo mercado, mas desejada, já que poderia trazer alento às dificuldades contábeis pelas quais passa o quarto maior banco de investimentos dos EUA.

De acordo com especulações que tomam a mídia internacional nesta sexta-feira (12), o chefe-executivo do Lehman, Richard Fuld, já estaria à procura de possíveis interessados em adquirir sua companhia. Um dos mais cogitados pelos analistas seria o Deutsche Bank, embora o Barclays, o Bank of America e eventuais firmas de private equity também figurem em tal provável lista.

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O que não falta é empecilho

Todavia, empecilho é o que não falta para uma operação bem sucedida, a par do que já aconteceu com as negociações com o Korea Development Bank – fracassadas no começo da semana. O principal deles é a própria condição do Lehman Brothers, mergulhado em prejuízos e previsões de maiores perdas contábeis em seus próximos resultados trimestrais.

Dada a severa turbulência que segue tomando de assalto as praças financeiras, não é qualquer banco que se mostra disposto a arcar com as possíveis perdas decorrentes da incorporação do Lehman. Nesse sentido, BNP Paribas, HSBC, Santander, entre outros bancos europeus, já teriam negado qualquer interesse na compra da firma de Wall Street, segundo o Wall Street Journal.

Ademais, o caráter de urgência da operação restringe ainda mais a lista de eventuais interessados. A Nomura Holdings, maior banco de investimentos japonês, figurava, até pouco tempo, entre uma das companhias cogitadas pelo mercado. Todavia, as diferenças de fuso-horário entre o Japão e os EUA e aprovações regulatórias dificultariam o negócio entre as duas empresas.

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Sem a ajuda do Fed e do Tesouro

De acordo com fontes consultadas pelo Wall Street Journal, as intenções de Fuld consistem em fechar a venda de seu banco até a próxima segunda-feira, antes da abertura das praças asiáticas. Tal dura empreitada vem contando com a ajuda do Fed e do Tesouro norte-americano. Contudo, as autoridades não devem atuar de forma direta, isto é, por meio de auxílio financeiro, assim como fizeram no caso do Bear Stearns.

Dois fatores são avistados pelos analistas para tal suspeita. O primeiro deles, o fato de que o nervosismo gerado em função dos problemas enfrentados pelo Lehman Brothers nem de longe se equipara ao turbilhão constatado acerca do Bear Stearns. Ademais, há ainda o chamado “risco moral”.

Após ter resgatado o Bear Stearns em março e, há pouco, as agências Fannie Mae e Freddie Mac, o Federal Reserve poderia assumir um perigoso papel de “salvador” de qualquer instituição financeira que incorresse em apuros nos EUA. Isso para não falar nas dificuldades políticas e financeiras que um novo resgate traria, em tempos de eleições e de déficit orçamentário crescente.

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Histórico das tensões

Na última quarta-feira, o Lehman Brothers divulgou ao mercado a prévia de seus resultados no terceiro trimestre desse ano, com estimativas de um prejuízo líquido de US$ 3,9 bilhões. Concomitantemente, o banco anunciou também um plano de reestruturação de suas atividades, passando pela redução no pagamento de dividendos e na exposição às hipotecas residenciais em 47%.

Todavia, tais medidas estratégicas pouco surtiram efeito sobre a percepção deteriorada dos investidores acerca da companhia, cujos papéis acumularam nos últimos três pregões uma derrocada de cerca de 70%. E não são somente os investidores que vêm se mostrando temerosos quanto à firma.

Analistas do Citi e do Goldman Sachs reduziram sua recomendação às ações do Lehman, preocupados especialmente com um rebaixamento do rating, já cogitado pelos analistas da Moody’s, que posicionou sua nota concedida à firma em estado de revisão. A agência de classificação de risco afirmou que o rating de dívida da instituição será cortado caso não seja realizada uma “parceria estratégica” com um forte parceiro.

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