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A medida do governo para reduzir em até 11% o preço final de carros populares poderá corroer mais da metade do lucro líquido da Localiza (RENT3) em 2023. Assim calcula o Itaú BBA, que prevê um impacto negativo entre R$ 900 milhões e R$ 1,5 bilhão no resultado do período, assumindo perdas de até 5% no valor contábil da frota da companhia. Atualmente, a casa prevê um resultado líquido de R$ 2,5 bilhões para a locadora de veículos no acumulado deste ano.
Ainda assim, o BBA manteve sua avaliação outperform (acima do desempenho de mercado) para a ação RENT3, com a justificativa de que a relação entre preço e lucro por ação (P/L) em 2024 está em 16 vezes, abaixo da média histórica de 20 vezes. Na avaliação dos analistas, o efeito negativo deve ser compensado por potenciais impactos positivos no curto prazo.
“O mercado parece mais focado em 2024 do que em 2023”, escreveram os analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano. “Preços mais baixos podem se transformar em ventos favoráveis ao crescimento”.
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A equipe de análise estima que se os incentivos do governo durarem por pelo menos seis meses e os preços forem reduzidos em aproximadamente 10%, a Localiza poderá adquirir mais 13 mil veículos, sem peso na alavancagem. Ou poderá comprar 26 mil veículos adicionais, caso por uma alavancagem 0,2 vez maior.
“Incorporando a frota adicional em nosso modelo, encontramos um potencial de lucro por ação de 3% a 7% em 2024. Isso levaria RENT3 a ser negociada a 15 vezes o preço por lucro por ação (P/L), um valuation atraente”, afirmam os analistas do BBA.
“Qualquer volatilidade potencial de curto prazo na depreciação provavelmente seria mais do que compensada por um crescimento mais alto, o que aumenta nossa visão construtiva sobre a ação”.
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Pela lógica do BBA, quando os preços dos veículos voltassem ao normal, com o fim das medidas de estímulo, os carros comprados por preços mais baixos poderiam ser vendidos por margens acima da média na divisão de seminovos.
Segundo a equipe de análise, se a Localiza adquirisse 39 mil carros extras no segundo semestre de 2023 e concentrasse as vendas desses veículos em 2025, veria uma menor depreciação em 2024 ou margem Ebtida em seminovos, no ano de 2025.
“Além disso, o volume adicional de veículos aceleraria a renovação da frota e beneficiaria os custos de manutenção”, diz o relatório. Com a soma desses fatores, os ganhos da Localiza poderiam ficar até 10% acima do esperado.
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De acordo com o BBA, reduções desse tipo feitas no passado provocaram perdas no valor das frotas e dos ganhos das locadores. A casa lembra quando o IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) de carros populares foi zerado em 2008 e a Localiza foi impactada por uma depreciação não-recorrente de R$ 90 milhões, o equivalente a 5% do valor da frota e aproximadamente 30% dos ganhos daquele ano.
Em 2012, em outro corte de impostos similar, a empresa enfrentou uma nova leva de custos de depreciação de aproximadamente R$ 145 milhões. Mais uma vez, a cifra foi equivalente a 5% do valor frota, com impacto de 30% no lucro líquido.
Desta vez, o BBA acredita que o impacto de uma desoneração sobre a frota da Localiza pode ser mais ameno. Isso porque os veículos da locadora tem um perfil mais premium, acima do teto do desconto do governo, prevista para carros que custam até R$ 120 mil.
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Goldman Sachs, BTG Pactual e XP também veem impactos ruins da na medida no curto prazo nas locadoras de veículos, mas vantagens para os próximos anos.
“Assumindo que as montadoras vão repassar preços mais baixos para o consumidor e que o preço dos carros usados siga essa tendência, os veículos atualmente no balanço das empresas diminuem de valor para venda”, afirma Pedro Bruno, analista de transportes da XP.
“Por outro lado, esse efeito é compensado no longo prazo e traz melhor perspectiva para o ROIC [retorno sobre patrimônio investido], ao permitir que as locadoras diminuam seu investimento para renovação e expansão de frota, ao comprarem carros mais baratos”.
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Para o analista, é possível que isso seja um incentivo para a redução da tarifa de aluguel, com o intuito de aumentar a demanda pelo produto.
Citi elevou preço-alvo da locadora, mas manteve recomendação de venda
Na última terça-feira (30), o Citi melhorou suas perspectivas com relação a Localiza e elevou o preço-alvo da ação de R$ 42 para R$ 51. O valor, porém, segue abaixo da atual cotação do papel, e o Citi manteve a recomendação de venda do ativo.
Para a equipe de análise do banco, o segmento de seminovos da empresa parece vulnerável a riscos negativos, ao mesmo tempo em que o preço de compra de carros não ajuda o retorno sobre patrimônio investido.
“Ainda que a eficiência e o controle de custos tenham apresentado melhoras no primeiro trimestre de 2023, a frota de idade avançada da companhia deve pesar negativamente sobre retornos”, diz o Citi. “Porém, damos à Localiza o benefício da dúvida, com juros mais baixos e custos fixos mais diluídos”.
No mesmo relatório, o banco também elevou o preço-alvo de Movida (MOVI3), de R$ 7,25 para R$ 8, mas rebaixou a recomendação para venda. Para os analistas do Citi, a desoneração de automóveis e juros potencialmente baixos devem ajudar a dar mais visibilidade sobre o lucro da ação da companhia.
“A decisão da Movida em descontinuar o guidance reforça nossas preocupações sobre volatilidade de ganhos”, escreveram os analistas.
Na avaliação do Citi, aparentemente a companhia vai precisar reduzir suas expectativas de crescimento para manter o balanço saudável e evitar queima de caixa.
“Ainda que a utilização da frota melhore, uma redução é esperada para este ano, enquanto o perfil ‘menos premium’ dos veículo poderá pressionar as tarifas de locação”.
No entanto, o Citi avalia que o mercado está mais focado em uma potencial redução dos juros do que nos fundamentos das empresas. “A desconexão entre fundamentos e performance das ações parece muito significativa agora”, escreveram os analistas, dizendo que as expectativas do mercado, tanto para Movida quanto Localiza, parecem otimistas demais.