Lucrar no Brasil é visto como suspeito, diz Alexandre Schwartsman

Para o ex-diretor do Banco Central, é um erro forçar as empresas mais lucrativas do país a contribuir com o desenvolvimento

João Sandrini

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SÃO PAULO – Alexandre Schwartsman tem se transformado em um dos mais ferinos críticos da política econômica do governo. À medida que cresce o intervencionismo estatal na economia, o ex-diretor do Banco Central, ex-economista-chefe do Santander e sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica eleva o tom de suas críticas.

Para ele, é um erro forçar as empresas mais lucrativas do país a contribuir com o desenvolvimento. “Desde quando ganhar dinheiro é um problema? Nos Estados Unidos, o Steve Jobs virou um herói. Lá, ganhar dinheiro é uma coisa boa. No Brasil, não se admite o sucesso empresarial. Aqui, ganhar dinheiro é suspeito, é aparentemente incorreto, não é bem-visto”, diz ele à Revista InfoMoney. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Revista InfoMoney – Há um excesso de intervenção do governo na economia?
Alexandre Schwartsman – Há um grau de intervenção que não deu certo em nenhum país do mundo. Por que daria certo no Brasil? Só porque Deus é brasileiro?

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IM – As maiores e mais lucrativas empresas do Brasil parecem estar sendo chamadas a dar sua contribuição ao país. Você concorda com essa política?
AS – Parece um mau critério. Desde quando ganhar dinheiro é um problema? Nos Estados Unidos, o Steve Jobs virou um herói. Lá, ganhar dinheiro é uma coisa boa. No Brasil, não se admite o sucesso empresarial. Ganhar dinheiro aqui é suspeito, é aparentemente incorreto, não é bem-visto. Qual é o problema de a Vale ganhar dinheiro? Ela não tem que dividir com ninguém, não.

IM – A produção de petróleo e de etanol não tem crescido como esperado. Seriam dois exemplos de como a maior interferência estatal pode afastar investimentos?
AS – Sim. Não temos um desempenho pífio em produtividade por acaso. Estamos colhendo o que plantamos. No caso do pré-sal, antes de se discutir como o petróleo seria extraído, já se discutia como o dinheiro seria dividido. A galinha dos ovos de ouro ainda não tinha posto ovo nenhum, mas já se discutia a partilha desses ovos. Precisa primeiro produzir, não é? Em relação ao etanol, o governo pressiona os usineiros a não reajustar os preços na entressafra, mas depois não vem mais investimento.

IM – Foi errada a forma como o governo lidou com a renovação das concessões do setor elétrico?
AS – Reduzir o preço da energia com a eliminação de impostos é correto. Mas foi feito de uma maneira bem forçada. Eles desvalorizaram brutalmente o valor das concessões. Não é à toa que está havendo destruição de valor do setor elétrico, da Petrobras ou do setor bancário na Bolsa. Os acionistas desses setores devem estar bem infelizes.

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IM – No setor bancário, não faz sentido o governo tomar medidas para reduzir os spreads?
AS – Os bancos não são tão lucrativos assim. Ainda que o Itaú tenha uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido acima de 20%, a média do setor bancário está em 13% a 14%. É bem menor que o retorno da Vale, por exemplo. A história do spread bancário é curiosa. Os spreads são muito menores do que o número apresentado pelo BC, que deixou criar-se uma lenda de que os bancos têm um ganho gigantesco. De qualquer forma, você acha que o governo deve punir o Itaú e a Vale porque eles lucram muito?

IM – No caso das teles, em que o serviço é ruim, o governo não deveria pressioná-las?
AS – As teles têm uma regulamentação diferente porque são monopólios ou oligopólios que lidam com serviços públicos. Se a qualidade despencou, tem que se cumprir o marco regulatório. O governo chegou a fazer uma intervenção e proibir a venda de novas linhas, mas semanas depois levantou a proibição. Eu garanto que, em algumas semanas, o serviço não melhorou. O próprio governo é que esvaziou as agências que deveriam tomar conta desses serviços. Ficar avaliando se o setor lucra muito ou pouco é um erro. O que importa é se ele está cumprindo ou não o contrato de concessão. Serviço público deve ter compromisso de qualidade.

IM – O que muda na cabeça do empresário com tantas intervenções estatais?
AS – O governo não dá incentivos ao empreendedorismo. O que vale mais a pena no Brasil de hoje: pensar em um produto inovador ou se aproximar do BNDES para conseguir a liberação de um empréstimo subsidiado? O que o empresário quer é tomar dinheiro com juros de 6% ao ano ou então negociar barreiras a concorrentes estrangeiros. Pense no produtor de vinho brasileiro. Vale mais a pena investir para aumentar a qualidade do produto nacional ou tentar convencer o governo a impor barreiras aos importados? Investir em lobby é muito mais barato do que investir em produção. Quem está protegido não precisa se preocupar com aumento da produtividade. A Apple só tem tantas sacadas geniais porque sabe que, se pisar na bola, a Samsung estará no encalço deles.

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IM – Quando o governo aumenta as barreiras para carros importados, ele diz que é para proteger os empregos no país…
AS – Mas não estamos com falta de emprego. O setor automotivo é um negócio extraordinário. Eles têm proteção quando estão mal e incentivos quando estão bem. Quanto as montadoras já levaram em pacotes de estímulos? R$ 1 milhão por emprego? Seria melhor distribuir esse dinheiro aos trabalhadores.

IM – Alguns setores beneficiados com juros subsidiados são os de frigoríficos e celulose. Nesse caso, o governo prega a formação de campeões nacionais em setores em que o país é competitivo. Faz sentido?
AS – Se somos tão bons, por que o governo precisa ajudá-los? A ideia de formação de campeões nacionais tem criado verdadeiros monopólios. A consolidação de setores geralmente envolve o fechamento de algumas plantas. Só aqui o governo subsidia até a redução do emprego. No fundo, quem é próximo do poder consegue arrancar um subsídio contando uma historinha.