Magazine Luiza (MGLU3) ou Via (VIIA3): qual varejista de e-commerce deve se destacar no 4º trimestre de 2022?

Cenário macro deve seguir como fonte de pressão, mas empresas mostrarão melhoras por ambiente competitivo mais racional; Magalu deve ter melhores números

Vitor Azevedo

(Foto: Germano Lüders
(Foto: Germano Lüders

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Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) publicam na quinta-feira (9) seus resultados do quarto trimestre. As duas companhias divulgam seus números após o Mercado Livre ([ativo=MELI3]) já ter publicado seu balanço, que agradou analistas, e antes da Americanas (AMER3), que se encontra no meio de um “furacão” com a recuperação judicial, que torna seu balanço público no dia 29.

O Mercado Livre chegou a empolgar investidores com a divulgação do seu resultado. A companhia argentina, muito atuante no Brasil, trouxe uma receita líquida de US$ 3 bilhões, alta de 40,9% na base anual.

“Acreditamos, porém, que o resultado do Mercado Livre não pode ser considerado uma base para os da Magazine Luiza e da Via, visto que é um player com execução diferenciada. No Brasil, o Mercado Livre conseguiu entregar um crescimento de dois dígitos na Black Friday, enquanto o setor varejista reportou queda nas vendas”, explica Lucas Lima, analista da VG Research.

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De acordo com dados da Neotrust, as vendas na Black Friday e na Cyber Monday recuaram ao menos 30% na comparação de 2022 com 2021. De forma geral, o esperado é que o quarto trimestre venha, contudo, um pouco melhor, tanto na base trimestral quanto na anual.

“As companhias devem apresentar crescimento no volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês), tanto na comparação anual quanto na trimestral, beneficiadas pelo evento da Copa do Mundo. Essa evolução, porém, também se dará pela base de comparação fraca”, diz Lima. “No e-commerce, esperamos melhores resultados, favorecidos pela Copa do Mundo. Aguardamos ver melhores dinâmicas de crescimento, com as lojas físicas se recuperando enquanto a dinâmica do marketplace (3P) apresenta uma melhora pela fraca base de comparação e sazonalidade da Black Friday”, corrobora a equipe de analistas da XP Investimentos, liderada por Danniela Eiger.

O BTG vai no mesmo sentido, defendendo que o GMV total do setor deve crescer 7% no ano, mas destaca que o cenário incerto já fez algumas companhias diminuírem seus investimentos – o que deve trazer impacto nos crescimentos.

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Os analistas da Genial Investimentos questionam se as companhias vão dar lucro nesse trimestre e respondem que não, mesmo diante da sazonalidade positiva para o varejo. Para a equipe, o Magalu deve apresentar um resultado mais sólido que Via, com uma evolução de duplo dígito em todos os canais e uma maior geração de caixa operacional.

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Via deve ter vendas online recuando

Em grande parte, a Via é a que deve ser a maior impactada pelo corte de investimentos, principalmente no seu braço online. A companhia, para o BTG, deve trazer um recuo de 4% em seu GMV online na base anual. A XP vai na mesma linha, prevendo um recuo de 4%, com a companhia normalizando suas categorias de cauda longa (venda de uma grande variedade de itens em pequenas quantidades), apesar de projetar que o volume de vendas totais crescerão 5,5%, principalmente por conta das lojas físicas.

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“Esperamos que as vendas líquidas da Via cresçam 8% ano, para R$ 4,6 bilhões, impulsionadas principalmente pela recuperação das lojas físicas (vendas mesmas lojas de 10,8%), enquanto as operações online devem continuar reportando resultados fracos”, comenta o Citi, em relatório.

Ao mesmo tempo, é consenso que o ambiente mais racional deve fazer a Via trazer uma melhora da sua margem bruta. A margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), contudo, deve cair no curto prazo, uma vez que a companhia pode ter gastos excepcionais com vendas, administração e gerais (SG&A, na sigla em inglês), em meio ao processo de reestruturação (com mais despesas trabalhistas, por exemplo).

“Acreditamos que esses investimentos mais baixos podem limitar seu potencial de crescimento. Posto isto, reconhecemos alguns sinais positivos, como a qualidade da sua carteira de crédito, a monetização de créditos fiscais (que podem compensar os gastos com passivo trabalhista) e o aporte pontual de caixa do Bradesco, de R$ 1,75 bilhão, para renovação da parceria nos cartões”, explica o Citi.

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Para o banco americano, esses fatores ainda afastam o temor de problemas com liquidez da Via, em meio à crise de crédito causada pela fraude ocorrida na Americanas (AMER3), sua concorrente direta.

“Estimamos que a Via tenha encerrado 2022 com R$ 3,8 bilhões em caixa após o acordo com o Bradesco. Isso se compara a R$ 1,67 bilhão em dívidas com vencimento neste ano e R$ 350 milhões em passivos trabalhistas a serem pagos. Vale lembrar que a empresa indica R$ 1,9 bilhão em impostos a recuperar a serem monetizados em 2023”, afirmam os analistas.

A Genial aponta que, dada a sazonalidade do 4º trimestre, espera ver uma desalavancagem financeira da Via neste trimestre. O combo de maior nível de Ebitda somado a renovação do contrato de parceria com o Bradesco e a otimização de capital de giro, com os estoques caindo próximo a 100 dias (versus 119 dias em 4T21) e fornecedores subindo a 190 dias (versus 161 dias em 4T21) deve levar a uma geração de caixa operacional nesse trimestre (e também no ano).

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Dado os maiores custos de dívida e de juros do CDCI, o resultado financeiro líquido da Via deve subir 43,9% e alcançar 7,3% da receita líquida (+188 pontos-base no ano), ficando negativo em R$ 630 milhões nesse trimestre. “Com a renovação da parceria com o Bradesco, esperamos que a antecipação de recebíveis fique em um nível menor do que o apresentado no 3º trimestre, negativo em R$ 202 milhões”, avalia a Genial.

O consenso Refinitiv projeta uma receita líquida de R$ 8,5 bilhões para a Via e um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 593 milhões. Para a última linha do resultado, a expectativa é de um prejuízo de R$ 212,5 milhões.

Magazine Luiza ganhando espaço

Se a Via deve ver suas vendas online recuar por conta de suas mudanças operacionais, a Magazine Luiza, para analistas, deve ganhar espaço por conta do retrocesso das concorrentes. A companhia, nos trimestres passados, vinha falando que havia uma “irracionalidade competitiva no setor” que a impactava diretamente.

“Esperamos que o Magazine Luiza reporte melhores resultados no quarto trimestre, com recuperação das vendas nas lojas físicas e no e-commerce próprio (1P), embora ainda limitado pela macro desafiador, enquanto a rentabilidade continua a melhorar pelo cenário competitivo racional”, expõe a equipe da XP.

O Itaú BBA vai na mesma linha, afirmando esperar um crescimento de vendas mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) de 10,6%, com a Copa e com a melhora competitiva. Já para o GMV online, a expectativa é de um avanço de 12% no ano.

“As margens brutas devem sustentar a tendência de expansão observada nos últimos trimestres, com um melhor mix de produtos (estimamos alta de 180 pontos-base, para 27,1%”, diz a equipe do BBA, chefiada por Thiago Macruz. “Isso, combinado com a diluição das despesas gerais e administrativas, pode levar a um aumento de 330 pontos-base na margem Ebitda, para 5,9%”.

A Genial Investimentos aponta que, com um maior nível de Ebitda e uma otimização de capital de giro, com o giro de estoques caindo abaixo dos 100 dias (versus 122 dias em 4T21) e fornecedores subindo a 139 dias (versus 136 dias em 4T21), o trimestre deve ser de forte geração de caixa operacional para o Magalu.

Dado o cenário macroeconômico de juros mais elevados, com uma Selic média saindo de 7,75% para 13,75% em 12 meses, também espera-se um maior custo de dívida ainda pressionando o resultado financeiro líquido do Magalu na comparação anual. “Estimamos que essa linha cresça 98,7% na base anual, alcançando 4,6% da receita líquida (+196 pontos-base ano a ano), chegando a -R$ 493 milhões nesse trimestre”, avalia.

O consenso Refinitiv espera que a Magazine Luiza trará uma receita líquida de R$ 10,6 bilhões, um Ebitda de R$ 599,8 milhões e um prejuízo líquido de R$ 78,84 milhões.

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