Menos surpresas positivas nos resultados e mais expectativas por novo governo: os destaques da temporada do 3º tri

Temporada foi um pouco pior que a anterior, diz XP, mas ainda sólida; bancos e varejo sentiram inadimplência, papel e celulose foi destaque em commodities

Lara Rizério

(Getty Images)
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A divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2022 (3T22) trouxe sinalizações importantes para o mercado, mostrando impacto da alta dos juros para as companhias, além de trazer as expectativas de diversas empresas sobre o próximo governo.

De acordo com análise da XP, em relatório assinado pelos estrategistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, os resultados do terceiro trimestre das empresas brasileiras foram sólidos, mesmo sendo uma temporada um pouco pior que a anterior.

Cerca de 55% das empresas reportaram lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) acima do que os analistas da casa projetavam, 10% foram em linha, e os 35% restantes abaixo do que esperavam. Quanto à receita, 54% das empresas superaram suas expectativas, 17% foram em linha e 30% vieram abaixo.

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No 2T22, 71% das empresas tinham superado as projeções para o Ebitda, enquanto que, no 1T22, foram 62%. Além disso, os resultados que foram abaixo das estimativas da casa foram significativamente superiores do que no último trimestre, de 21% no 2T22). Olhando para a receita líquida, os resultados que superaram as suas estimativas aumentaram um pouco nesse trimestre (52% superaram as projeções no 2T22). Enquanto isso, as receitas líquidas que ficaram aquém das expectativas da casa aumentaram significativamente (24% no trimestre anterior).

Os números, na avaliação da casa, continuam refletindo fatores que marcaram o primeiro semestre: inflação crescente levando os bancos centrais a apertar suas políticas monetárias, refletindo em desaceleração e crescentes temores de uma recessão econômica. “Acreditamos que o mercado já esperava uma desaceleração nos resultados do terceiro trimestre, que acabou ocorrendo, porém não em uma grande magnitude. Dessa forma, as estimativas de lucro esperadas para os próximos 12 meses foram revisadas ligeiramente para baixo pelo consenso de mercado”, apontaram os estrategistas.

Os estrategistas observam que, no período, o LPA (Lucro por Ação) do Ibovespa subiu 3,4% quando comparado ao 2T22, e 20,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (3T21). Isso é explicado, em grande parte, pela queda da inflação e algumas empresas conseguindo repassar uma parte dos custos mais altos aos consumidores. De acordo com dados fornecidos pela Bloomberg, para o ano de 2022, os analistas esperam que os lucros desacelerem mais no 4T22, aponta a XP.

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As receitas continuaram a crescer 4,1% em relação ao último trimestre e 26,9% em relação ao mesmo trimestre de 2021. Já o Ebitda caiu 13,7% frente abril e julho deste ano, mas cresceu 5,5% frente julho e setembro de 2021.

Os estrategistas apontam que, ao longo dos últimos meses, o aumento das taxas de juros levou ao aumento das despesas e custos financeiros, impactando a rentabilidade e as margens das empresas. Mesmo com as receitas apresentando crescimento, impactadas positivamente pela inflação, as companhias não conseguiram repassar integralmente o aumento de seus custos ao consumidor final. Neste trimestre, a margem Ebitda (relação entre Ebitda e receita líquida) do Ibovespa caiu quase 0,54 ponto percentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior e 1,63 p.p. na comparação anual.

Um dos pontos de atenção no trimestre foi o impacto do avanço da inadimplência em alguns setores, como para bancos e varejistas. Algumas instituições elevaram a sua cautela  na aprovação de novos financiamentos e também as reservas para perdas futuras com o crédito, em meio a um cenário de juros ainda elevados e o baixo crescimento da economia brasileira esperado para 2023.

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Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11), instituições com forte atuação no financiamento ao consumidor, viram seu lucro cair e ampliaram as chamadas Provisões para Devedores Duvidosos (PDD). O Bradesco mais do que dobrou (116%) ante o mesmo período de 2021 a reserva contra eventuais calotes, que atingiu R$ 7,267 bilhões. No Santander, a PDD somou R$ 6,209 bilhões, alta de 68,9% em relação ao mesmo período de 2021 e de 8% ante o trimestre anterior.

Enquanto isso, no setor, Banco do Brasil (BBAS3) se apresentou como o grande destaque, beneficiado, principalmente, por um robusto incremento em sua margem financeira bruta (NII), que se deve principalmente ao robusto crescimento de sua carteira de crédito, à reprecificação de suas operações de crédito nos últimos trimestres e aos melhores resultados de sua tesouraria. O Itaú (ITUB4) também apresentou bons números, ainda que não tão surpreendentes quanto do banco estatal.

No setor de varejo, o Magazine Luiza (MGLU3), que registrou prejuízo líquido de R$ 166,8 milhões no terceiro trimestre, fez uma reserva de R$ 590,4 milhões para créditos de liquidação duvidosa no cartão próprio – que responde pela maior fatia das vendas a prazo da rede. Roberto Bellissimo, diretor financeiro da varejista, destacou que a inadimplência estava artificialmente baixa no terceiro trimestre de 2021 por conta dos auxílios (dados pelo governo) e está voltando para os níveis pré-pandemia.  Na Via (VIIA3), dona da Casas Bahia e do Ponto, os créditos vencidos acima de 90 dias, que eram 7,4% dos financiamentos a receber no terceiro trimestre de 2021, subiram para 8,4% no mesmo período deste ano.

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Também entre as empresas impactadas pela conjuntura doméstica, muitas delas ainda seguem de olho nas sinalizações para a partir de 2023 do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente as empresas de consumo, construção civil e educacionais, que eram apontadas como as grandes promessas com a manutenção do Auxílio Brasil e expectativa de que avancem o Minha Casa Minha Vida (nome que deve voltar após mudança no nome para Casa Verde e Amarela) e também o FIES.

Contudo, durante novembro, as ações desses setores tiveram forte baixa com à alta dos juros futuros com piora do risco fiscal e também com indefinições sobre os programas. Entre as construtoras, Direcional (DIRR3) adotou cautela em teleconferência. “Tem realmente como ver como vai funcionar o programa, até porque a situação fiscal do país ainda é delicada, com volume de gastos muito alto no período da pandemia”, disse Ricardo Ribeiro, CEO da empresa.

Já Ricardo Paixão, CFO da MRV (MRVE3), durante participação no Por Dentro dos Resultados, projeto no qual o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior, destacou que o novo governo deve ter uma ênfase maior no quesito popular. “A gente acha que deve ter alguma mudança no programa [Casa Verde e Amarela], algo mais superficial, como o próprio nome [que deve voltar a ser Minha Casa Minha Vida], mas também pode ter alguma medida mais agressiva, como um desconto maior, uma participação maior do orçamento da OGU, o Orçamento Geral da União, principalmente nas faixas mais baixas do programa, tanto na faixa 1 como no início da faixa 2”, disse o executivo.

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Entre as educacionais, Roberto Valério, CEO da Cogna (COGN3) também mostrou cautela sobre os programas do governo eleito. “A quantidade de informações é muito limitada. Lula falou diversas vezes sobre investimento em educação e retomada do FIES. Recebemos a notícia de maneira positiva porque o mercado precisa, há muitos brasileiros que gostariam de estudar e não tem condições, mas temos pouca informação sobre o tamanho do programa e as condições”, disse o executivo, em entrevista ao InfoMoney.

Eduardo Parente, CEO da Yduqs (YDUQ3), também mostrou prudência ao falar sobre o programa em teleconferência com analistas após o resultado. “Eu não sei nada além de vocês, sabemos que o presidente eleito tem dado sinais nesta direção [retomada do Fies], o que seria bastante saudável. Seria uma injeção de receita muito grande, segundo nossas contas preliminares, mas ainda não há como estimar isso de fato”, disse.

Sobre os resultados em si das empresas de educação, os analistas do Bank of America destacaram que as companhias relataram sinais gerais positivos de recuperação, com a Cogna tendo resultados melhores do que o esperado com expansão da margem bruta, enquanto Ânima (ANIM3) e Cruzeiro do Sul (CSED3) relataram resultados positivos com aumento dos ingressos em ensino à distância e crescimento também no campus. Já a Yduqs teve resultados mistos no período, com um Ebitda acima do esperado, mas matrículas mais fracas.

Confira abaixo mais setores que ganharam destaque nesta temporada e também as ações que se sobressaíram no 3º tri:

Quais setores desapontaram e quais superaram as expectativas

Quanto aos setores, empresas de agro, alimentação & bebidas, saneamento e transportes foram destacadas pela XP como as que reportaram um Ebitda acima das expectativas da casa. De destaques negativos, estiveram empresas dos setores de bens de capital e financeiro.

Commodities: como esperado, papel e celulose foi destaque

Ferreira, Jennie e Rebecca apontam que um destaque desta temporada de resultados foi o setor de papel e celulose. A Irani (RANI3) apresentou outro conjunto de bons resultados, impulsionados por: (i) maiores volumes de papelão ondulado devido à recuperação da demanda e aumento da capacidade produtiva em Santa Catarina (Gaia II); (ii) redução de preços nos segmentos de papelão ondulado e resinas; e (iii) os custos permaneceram estáveis, mesmo com a queda dos preços de aparas.

Contudo, como esperado, as outras companhias do setor, caso de Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3) também tiveram um bom resultado, apesar de impactadas pela alta dos custos, sendo destaque entre os materiais básicos.

A Klabin registrou resultados fortes no terceiro trimestre, impulsionados pelo segmento de celulose e pela divisão de papéis e embalagens, destaca o Itaú BBA; os números, segundo o banco, foram em linha com as suas estimativas. Com isso, o Ebitda ajustado total da companhia alcançou R$ 2,3 bilhões no período, crescimento de 20% em um ano e de 25% em relação ao segundo trimestre. Já a Suzano, destacam os analistas da casa, registrou o melhor resultado da história no terceiro trimestre e acima do esperado pelo mercado, que já tinha expectativas otimistas. Com sólido desempenho em suas linhas de negócios e depreciação do real frente ao dólar, o Ebitda atingiu o recorde de R$ 8,6 bilhões no trimestre, aumento de 36% na comparação trimestral e anual.

Em mineração e siderurgia, os resultados da Gerdau (GGBR4) continuaram fortes e foram destaque, na visão da XP. A América do Norte manteve margens Ebitda muito boas (30%), apesar de um cenário macro mais desafiador, enquanto outras unidades de negócios reportaram resultados mais enfraquecidos com menores volumes, preços e custos ainda pressionados. O anúncio de dividendo da Gerdau foi inclusive o grande destaque entre as empresas do setor.

Após a temporada de resultados, o BBA atualizou seus números para o setor de mineração e siderurgia, mantendo recomendação equivalente à compra para as ações de Gerdau e Usiminas (USIM5). Para 2022, mantiveram projeção de Ebitda de cerca de R$ 22 bilhões em 2022 diante de sólida performance nos Estados Unidos. Porém, espera queda no Ebitda em 2023, para R$ 14 bilhões, devido a menores preços de aço no mercado doméstico e nos Estados Unidos.

“Por ter uma exposição inferior em minério de ferro, a Gerdau continua sendo nossa principal escolha. No entanto, também gostamos da proposta de risco-retorno da Usiminas dado a sua forte geração de caixa e valuation atrativo”, avaliam. Já para CSN (CSNA3) e Vale ([ativo=VALE]), a recomendação segue neutra. Os números da Vale, por sinal, foram considerados decepcionantes, com o Ebitda abaixo do esperado uma vez que, além da queda do minério, os custos ficaram acima do esperado. O rali recente do minério fez com que as ações ganhassem fôlego, com alta de cerca de 20% em novembro, mas ainda há cautela em meio a preocupações com o processo de reabertura da economia da China.

Já no segmento de petróleo e gás, o Bank of America aponta que o maior destaque em exploração e produção ficou para PRIO (PRIO3), com fortes números com produção animadora e baixo custo de extração, além da PetroReconcavo (RECV3), cujas receitas foram impulsionadas por preços de gás natural acima do esperado. A Petrobras (PETR3;PETR4), por sua vez, teve mais um balanço positivo, com destaque para o upstream (exploração e produção de petróleo e gás), bem como Gás e Energia, mas com o risco político rondando a companhia e ofuscando os números do período.

Já entre as distribuidoras, a Ultrapar (UGPA3) apresentou números acima do esperado pelo banco em Ipiranga, Ultragaz e Ultracargo, sendo o destaque para os analistas do banco. Na mesma linha, o Itaú BBA destacou que o Ebitda da Ultrapar, de R$ 893 milhões no trimestre, ficou acima da sua expectativa de R$ 689 milhões, devido, principalmente, à Ipiranga e Ultragaz.

Varejistas: cenário macro ainda impacta companhias, mas há boas opções

No Varejo, a XP avalia que o principal destaque foi o segmento de consumo discricionário, com Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3) apresentando bons resultados. Adicionalmente, o Assaí ([ativo=ASAI3) continuou apresentando um trimestre sólido apesar da pressão das despesas pré-operacionais.

Para os analistas da XP, o macro desafiador impactou os resultados do setor em geral, sendo o principal desafio para as empresas de e-commerce por conta da redução do tíquete médio e queda de volumes, enquanto as operações internacionais também estão sofrendo.

Contudo, a demanda das varejistas de alta renda continua sólida, com indicativos positivos para o 4T, apesar da desaceleração trimestral por conta da base de comparação mais normalizada. “Por fim, destacamos que grande parte das empresas ainda não estão sentindo os efeitos positivos da extensão do Auxílio Brasil, exceto o Grupo Mateus [ativo=GMAT3])”, avalia. Sobre a companhia, a XP destacou que houve sólido crescimento de receita e avanço da margem Ebitda na comparação trimestral, mas com uma piora na dinâmica de capital de giro, uma vez que as melhores negociações com fornecedores não foram suficientes para compensar o impacto de maiores estoques para fazer frente ao plano de expansão, além de maiores níveis de recebíveis dada a maior parcela de pagamentos com cartão de crédito.

Os serviços financeiros continuam se destacando negativamente entre as varejistas, com aumento das taxas de inadimplência e um tom cauteloso à frente, apesar da melhora marginal.

O clima segue sendo um ofensor de vendas para a categoria de vestuário, dado o inverno prolongado que acaba impedindo a retomada de vendas da coleção de primavera/verão. Para o quarto trimestre, as empresas permanecem com uma visão cautelosa, enquanto as temperaturas de outubro permaneceram mistas e o impacto da Copa do Mundo deve acontecer à medida que o evento evolui.

Assim, o tom segue cauteloso para os últimos três meses do ano, avalia a XP, exceto para o varejo de alimentos. “O orçamento apertado das famílias, aliado à preocupações com o impacto da Copa do Mundo nas vendas, levaram as empresas a passar uma mensagem mais cautelosa em relação aos resultados do 4T22. No entanto, o varejo alimentar se destacou, com as empresas mais otimistas frente aos eventos de final de ano e à alta da inflação de alimentos”, aponta.

O Bank of America também vê o consumo de alta renda como mais forte, com geração de receita e margens resilientes. Já Renner (LREN3), na visão do banco, ficou em linha com o esperado, mas impactado pelo clima mais frio e alta da inadimplência, com impacto na financeira. No e-commerce, Mercado Livre (MELI34) superou as expectativas com receita de anúncios e menores provisões para dívidas; já a modesta expansão de vendas e margem do Magazine Luiza foi compensada por maiores despesas com juros, enquanto a Americanas (AMER3) decepcionou com o declínio das vendas online, avaliam os analistas. Entre as varejistas de alimentos, o Assaí teve fortes vendas ajudadas por conversões acima do planejado.

Em farmácias, d1000 (DMVF3) e Pague Menos (PGMN3) foram os destaques, na visão da XP.

O Itaú BBA, por sua vez, apontou a Panvel (PNVL3) como a farmacêutica de sua cobertura que apresentou os melhores números. “O forte ritmo de expansão de lojas combinados com aumento de produtividades nas lojas (SSS, ou vendas nas mesmas lojas, de 15% nas lojas maduras) levaram a um crescimento robusto de receita, com ganhos de margem bruta por maior participação de genéricos no mix de produtos”, destacam os analistas da casa, que ainda apontam que o grupo teve ainda ganho de market share (participação) em todos os estados da região Sul.  Já RD (RADL3), antiga Raia Drogasil, também apresentou bons números, com as vendas mesmas lojas maduras e o desempenho digital (novamente) em destaque e melhorando a implantação do ecossistema omnichannel.

Construção civil e shoppings

Olhando para o setor de construção civil, a XP destaca que os resultados foram sólidos para nomes como Cury (CURY3), Cyrela (CYRE3) e JHSF (JHSF3), com sólidas vendas líquidas e lançamentos.

O Goldman Sachs, após a temporada, reiterou a sua visão positiva para a Cyrela, dado um balanço saudável e sinais de poder de precificação, levando a uma melhora material nas perspectivas de margem bruta. Já MRV (MRVE3) foi impactada pelas vendas menores da subsidiária americana Resia no trimestre, diante de uma perspectiva cada vez mais desafiadora para o segmento nos EUA. A EzTec (EZTC3), por sua vez, registrou uma maior queima de caixa.

Sobre o possível retorno na faixa 1 do novo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) com Lula eleito, o Goldman ressalta que, atualmente, nenhuma das empresas de sua cobertura estão atualmente expostas a essa faixa (embora a Direcional tenha sido uma participante importante do programa no início de 2010) nem manifestou intenção de participar se recriada. “Além disso, há uma falta de definição de um caminho a seguir para o Grupo 1, incluindo financiamento potencial e estrutura do programa, pois o governo eleito ainda não definiu sua posição”, avalia o banco.

Entre outras construtoras em destaque, mas do lado negativo, a Tenda (TEND3) apresentou resultados fracos conforme o esperado no 3T22, especialmente afetados por uma significativa compressão da margem bruta ajustada devido (i) ao aumento nos custos de materiais, principalmente concreto; (ii) maiores provisões, devido ao aumento da inadimplência líquida; e (iii) efeitos não recorrentes. Do lado positivo, a margem bruta das novas vendas acelerou, embora a XP não veja que esse aumento afete os resultados financeiros no curto prazo.

Olhando para frente, no geral, as empresas de média renda mantiveram uma postura cautelosa, apesar da melhora nos números operacionais do 3T22, destaca análise do Itaú BBA. O discurso das construtoras de baixa renda permaneceu positivo para demanda e custos, com conclusões um tanto ambíguas quanto à discussão de um potencial aumento nas condições para as camadas mais baixas do programa habitacional do governo.

Já os shoppings mantiveram o tom otimista do 2T22, citando a estabilização dos números operacionais em níveis saudáveis. Eles indicaram que as vendas ficaram estáveis ​​em outubro de 2022 (versus 3T22) e devem permanecer ​​pelo restante do trimestre.

Os CEOs também indicaram pouca preocupação com o impacto da Copa do Mundo nas vendas no 4T22. As companhias veem espaço para um crescimento real dos aluguéis e uma estabilização dos custos, destaca o BBA. O Bank of America destacou que as principais empresas que apresentaram seus números para o trimestre – Multiplan (MULT3), Iguatemi (IGTI11), brMalls (BRML3) e Aliansce Sonae (ALSO3) essas duas últimas avançando para uma fusão, mostraram resiliência no aumento dos aluguéis.

A Multiplan aparece como a principal escolha do setor para a XP. Na avaliação da casa, a companhia apresentou resultados excelentes e acima das suas estimativas no 3T22, impulsionados pelo crescimento do aluguel nas mesmas lojas (SSR) acima do esperado, representando um crescimento real de 9,1% nos últimos 12 meses. Como resultado, a receita de locação atingiu níveis recorde para um terceiro trimestre, acelerando a receita líquida (avanço de 41% anual). Além disso, as vendas em outubro aumentaram 26,2% em relação a 2019, o que deve levar a uma tendência positiva de vendas no 4T22, na visão da casa.

Agro, alimentos e bebidas

Nos setores de agro, alimentos e bebidas, a XP avalia que a Ambev (ABEV3) apresentou resultados sólidos, com o Brasil melhor do que o esperado e suficiente para compensar um desempenho decepcionante em suas unidades internacionais. O volume consolidado foi recorde para um terceiro trimestre e essa tendência positiva permitiu que os preços aumentassem em 8 dos 10 principais mercados da empresa.

O Bank of America aponta que, entre as companhias de alimentos, os resultados continuam a se normalizar em geral com margens mais baixas nas divisões dos EUA, enquanto o Brasil apresenta melhora, principalmente no segmento de carne bovina. Um destaque pós-balanço ficou com a JBS (JBSS3), com as ações saltando quase 12% após o resultado e tendo Seara como o principal destaque, com melhorias significativas tanto no trimestre quanto no ano, com desempenho acima dos seus pares.

Já os players de açúcar e álcool enfrentaram um terceiro trimestre difícil com impacto negativo dos preços dos combustíveis. O negócio de distribuição de combustíveis da Raízen (RAIZ4) também foi impactado por perdas de estoque. No espaço agrícola, a SLC (SLCE3) teve um forte conjunto de resultados conforme o esperado com custos sob controle, enquanto os volumes no período permaneceram praticamente estáveis em cerca de 845 mil toneladas.

Outros setores para ficar de olho

Em tecnologia, mídia e telecomunicações, Positivo (POSI3) e Totvs (TOTS3) apresentaram bons resultados devido ao crescimento da receita, aponta a XP.  A Positivo continua se beneficiando de sua maior diversificação de receita, compensando a desaceleração do segmento de varejo, enquanto a Totvs registrou sólido desempenho de receita líquida,  expansão da margem Ebitda e lucro caixa em alta de 52% no ano, destaca a casa.

No setor de saúde, Hypera (HYPE3) reportou fortes resultados, com lucro líquido de R$ 470 milhões (9% acima da estimativa da XP). A Rede D’Or (RDOR3) também apresentou resultados ligeiramente positivos, com lucro líquido de R$ 396 milhões. As receitas cresceram 4,6% no trimestre e os destaques positivos foram os aumentos nos tickets médios (+5,3% no trimestre para hospitais e +7,4% no trimestre para oncologia).

Por outro lado, as ações da Qualicorp (QUAL3) desabaram mais de 15% na sessão após a divulgação do resultado. O destaque negativo, mais uma vez, foi o churn (taxa de cancelamento) bastante alto, com dados de adições brutas de vidas desafiadores diante de um repasse de preço maior nesse período.

A Hapvida (HAPV3) viu suas ações desabarem 13,67% após o resultado. Contudo, segundo o BBA, a companhia reportou resultados “decentes”, com forte adição de vidas líquidas de 122 mil na base trimestral e um preço (ticket) médio que voltou a crescer (3,1% contra o trimestre anterior), um reflexo dos reajustes de preço nos segmentos corporativo e individual. Isso fez com que a receita líquida crescesse 9% em um ano. “Embora a margem Ebitda (rentabilidade operacional) da empresa tenha ficado abaixo das nossas expectativas, as tendências foram menos hostis do que o mercado temia”, avaliou o BBA, enquanto o Credit Suisse destacou que a rentabilidade mais fraca poderia ofuscar as notícias positivas com o crescimento orgânico.

Já em bens de capital, os principais destaques foram Fras-le (FRAS3) e WEG (WEGE3) com resultados acima do esperado, avalia a XP.

Na visão do Bank of America, a WEG apresentou lucro forte e robusto crescimento de receita, redução de custos de matérias-primas e ganhos de escala. A Rumo apresentou bons resultados, pois a empresa conseguiu aumentar substancialmente as tarifas no trimestre (avanço anual de 23%), repassando integralmente o aumento do preço do diesel para os consumidores. A Ecorodovias registrou expansão decente de tráfego, fortes aumentos de tarifas e bom controle de custos; Enquanto isso, a empresa anunciou um reequilíbrio financeiro reconhecido pela Artesp sobre um investimento realizado em 2008.

A Randon (RAPT4) apresentou resultados positivos devido ao volume acima do esperado e preços médios superiores, enquanto a Tupy (TUPY3) apresentou bons números, impulsionados principalmente pela incorporação da Teksid e pela recuperação dos mercados de veículos no Brasil e no exterior, enquanto a empresa obteve ganhos de escala e redução marginal nos custos de matéria-prima.

Já as locadoras de veículos Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3) apresentaram resultados decepcionantes, com uma deterioração nos preços de venda de carros e depreciação dos veículos mais do que compensando a expansão das tarifas. As companhias aéreas Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) relataram rentabilidade ainda pressionada, apesar do crescimento de receita.

Em transporte e logística, a Hidrovias do Brasil (HBSA3) apresentou resultados operacionais positivos e sólidos, avalia a XP, enquanto a Rumo (RAIL3) também reportou bons resultados com forte desempenho de receita.

As empresas elétricas e de saneamento, na visão do BofA, apresentaram resultados mistos no 3T22. As distribuidoras de energia foram o destaque positivo, caso de Equatorial (EQTL3), Energisa (ENGI11), Neoenergia (NEOE3) e CPFL (CPFE3) devido aos custos controlados (menores perdas de energia e inadimplência), que mais do que compensaram os volumes fracos.

As geradoras de energia Eletrobras (ELET3), Cemig (CMIG4) e Copel (CPLE6) se destacaram negativamente devido aos menores preços e resultados de comercialização de energia. Em relação às empresas de saneamento, a Sabesp (SBSP3) foi vista como destaque positivo pelo banco americano, que apontou custos e inadimplência controlados, após trimestres de margens pressionadas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.