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SÃO PAULO – Com o advento das exportações em volume significativo, a partir do segundo semestre do ano passado, o milho passou a registrar recordes de preços, fato que desencadeou um processo de quebra de modelo no mercado doméstico do cereal.
Se antes, as agroindústrias, especialmente de carnes, adquiriam o milho – principal insumo para o segmento de proteína animal – em operações “spot”, de agora em diante, as fabricantes terão que se planejar e formar estoques para não correr o risco de ter que pagar valores acima do que estavam acostumadas ou até de ficar sem o produto, situação comum neste primeiro semestre.
Segundo o Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Neri Geller, o aumento das exportações de milho é uma conquista do País, não sendo um retrocesso. “A indústria tem que planejar a partir de agora, fazer estoques”, diz o secretário, que acrescenta: “o tempo do milho a nove, dez reais passou. O preço daqui para frente será o da paridade de exportação na casa dos vinte reais”.
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De acordo com Lucas Brunetti, analista sênior de commodities do banco Pine, a agroindústria, que vivia da compra de milho da “mão para boca”, terá que passar a fazer uma espécie de “hedge” para aquisição do produto.
O executivo do agronegócio, Paulo Herrmann, presidente da John Deere Brasil, comenta que um caminho, daqui em diante para pecuaristas e granjeiros de aves e suínos, será o de produzir a ração, como, por exemplo, o milho, em instalações próximas às áreas de criação dos animais. “O transporte de milho não suporta o preço do frete”, pontua.
Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), afirma que o pecado é o Brasil estar exportando commodity em grão ao invés de carne, um produto de maior valor agregado. Segundo o dirigente, a falta de milho também pode provocar alterações no abastecimento interno de carnes.
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Sem especificar o que, de fato, seria, Turra assinala que se faz necessária uma política que equilibre os embarques de milho, proposta que é rechaçada por representantes dos produtores, que corroboram o posicionamento do Mapa de que as agroindústrias precisam investir na formação de estoques do produto.
Na avaliação de Lucas Brunetti, um recuo nas cotações do milho ainda não está no radar. Um diagnóstico mais preciso, diz o analista do banco Pine, depende do resultado da colheita de segunda safra, e especialmente da intenção de plantio do ciclo de verão.