BRF (BRFS3) anuncia ex-CEO da Marfrig (MRFG3) como novo presidente; ação cai 1,10%, com piora do mercado

Gularte ocupou o cargo de CEO da Marfrig Global Foods por mais de 4 anos, tendo apresentado renúncia em 29 de agosto

Felipe Moreira

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A BRF (BRFS3) e a Marfrig (MRFG3) anunciaram nesta manhã mudanças em seus principais cargos executivos. As companhias informaram nesta terça-feira (30) que Miguel de Souza Gularte deixará o cargo de CEO da Marfrig (MRFG3) para assumir a posição de diretor presidente global da companhia.

A mudança no comando da empresa ocorre na esteira do pedido de renúncia apresentado, em 29 de agosto de 2022, por Lorival Nogueira Luz Jr. do cargo de Diretor Presidente Global da BRF. Luz foi o mais longevo presidente da BRF desde a aquisição da Sadia pela Perdigão.

Atualmente, a Marfrig detém 33,27% da BRF, sendo o principal acionista da empresa. As ações de ambas as companhias têm ganhos: às 10h32 (horário de Brasília) desta terça-feira (30), os ativos BRFS3 subiam 4,46%, a R$ 17,10, enquanto MRFG3 subia 3,92%, a R$ 14,57. Contudo, com a piora do mercado, Marfrig virou para queda e fechou em baixa de 3,78%, a R$ 13,49, BRF foi amenizando os ganhos e também fechou em queda, mais branda, de 1,10%, a R$ 16,19. Na máxima do dia, BRFS3 chegou a subir 8,49%, a R$ 17,76.

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Gularte ocupou o cargo de Diretor Presidente da Marfrig Global Foods por mais de 4 anos, tendo apresentado renúncia também em 29 de agosto de 2022.

Miguel de Souza Gularte e o Lorival Nogueira Luz Jr. iniciarão um período de transição que será concluído até 30 de setembro.

Para o lugar de Goularte, o Conselho de Administração da Marfrig aprovou a eleição de Rui Mendonça Junior para o cargo de CEO da empresa.

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Mendonça Junior é engenheiro de formação, com MBA em Gestão de Agronegócios, atua no setor há mais de 40 anos em diferentes áreas como operacional, produção e financeira possui também experiencia internacional em operações na Austrália e Estados Unidos. Está na Marfrig desde 2007 onde atualmente ocupa o cargo de Diretor de Industrializados América do Sul.

Por fim, a BRF informou que essa indicação não sinaliza intenção, neste momento, de fusão entre a companhia e a Marfrig Global Foods.

Na avaliação da XP, a nomeação de Miguel Gularte como CEO da BRF foi inesperada. “Porém, embora sua experiência venha do setor de carne bovina, a nosso ver é mais fácil passar de um ambiente mais volátil para um calmo do que o contrário”, avaliam os analistas.

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Para eles, Miguel deve ser capaz de tornar a BRF mais ágil, eliminando a inércia incômoda que era responsável por oportunidades perdidas no passado da BRF. “Ele também poderia aumentar a participação das exportações em sua receita, algo que vemos como positivo. Aguardamos uma estratégia mais detalhada da BRF para os próximos anos. A posição de CEO na Marfrig (MRFG3) é um desafio menor agora, mas conforme anunciado pela companhia, Rui Mendonça está assumindo como CEO da Marfrig e esperamos uma transição tranquila”, destacam os analistas. Eles mantêm recomendação neutra para BRF e de compra para Marfrig.

O Morgan Stanley, por sua vez, apontou não estar surpresa ao ver a reação positiva das ações na BRFS3 hoje, mas vê que é muito cedo para tirar conclusões sobre se, sob uma nova liderança, a BRF realmente entregará a tão esperada reviravolta de suas operações e conversão de fluxo de caixa.

“Para contextualizar, a principal concorrente da BRF no Brasil, a Seara, da JBS JBSS3, vem ganhando participação nas principais categorias, ao mesmo tempo em que acelera os investimentos locais. O comentário recente da BRF, por outro lado, concentrou-se na contenção do capex à medida que a empresa continua consumindo dinheiro”, apontam os analistas.

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Para eles, a mudança de CEO na BRF é certamente uma grande mudança; pode muito bem significar que está chegando uma mudança significativa na estratégia de longo prazo, especialmente considerando que o novo CEO é uma indicação direta da nova controladora (Marfrig). Portanto, o anúncio de hoje é realmente significativo.

“Dito isso, achamos que é muito cedo para avaliar ou quantificar as implicações de longo prazo da mudança. Do ponto de vista operacional, nossa principal ressalva seria a concorrência, já que a Seara está maior agora, com marcas mais relevantes, penetração e capacidade de produção – e com um forte colchão de caixa da JBS para respaldar. Ainda em relação às operações da BRF, outro ponto que pode ser levantado é que, desde um início de ano muito difícil com os resultados do 1T22, a BRF tem se manifestado bastante em cortar custos e fazer mudanças”, avaliam os analistas, citando uma notícia de que a empresa cortaria 25% de seus cargos de direção/sênior visando uma estrutura corporativa mais enxuta e ágil. “Isso foi um sinal, talvez, de que mudanças maiores na gestão poderiam chegar depois”, complementam.

Do ponto de vista da estrutura societária, uma das principais questões que os investidores colocaram ao Morgan é se Marfrig e BRF podem ter indicado um caminho para uma fusão.

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“Não temos nenhum conhecimento disso, ou se as empresas discutiram isso. Mas é uma pergunta plausível, já que a Marfrig se tornou a maior acionista e controladora da BRF (com 33% de participação). O último anúncio de uma mudança de CEO provavelmente fará com que os investidores continuem fazendo as mesmas perguntas, mas simplesmente não temos base para avaliar se as empresas podem estar se movendo em direção a um eventual acordo”, aponta o banco.

Segundo os analistas, o mais importante no momento, também com base em interações recentes com investidores, é que o mercado provavelmente está reagindo positivamente hoje à BRF com base na percepção de que i) alguma redefinição do plano estratégico da BRF estava atrasada, e que ii) ter a Marfrig nomeando novos a liderança na BRF poderia sinalizar um compromisso de longo prazo por parte do controller (lembrando que um dos desafios históricos da BRF era a rotatividade da gestão).

O Morgan, apesar do anúncio de hoje, continua underweight (exposição abaixo da média do mercado) para BRF devido a desafios estruturais (competição no Brasil, geração de caixa limitada). “Já para Marfrig, o anúncio hoje não é tão significativo (como vemos no nível da BRF, é claro), em parte porque é provável alguma continuidade da estratégia atual. Na Marfrig, nada mudou no nível de controle, enquanto o novo CEO vem de dentro e com bastante experiência”, aponta o banco, que tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para o papel.

O JPMorgan também tem recomendação equivalente à venda (underweight) para os ativos BRFS3, mas vê a notícia como neutra. “A mudança na gestão não chega a ser uma surpresa e dá à empresa uma boa lufada  de ar fresco depois de alguns trimestres turbulentos. Além disso, os investidores estão otimistas com a Gularte, que também é muito próximo de Marcos Molina. Gularte também foi responsável por melhorando o nível de operação, eficiência e estratégia comercial da Marfrig South America”, avaliam.

Por outro lado, avalia o JP, a experiência da Gularte tem se concentrado principalmente na indústria de carne bovina, “e achamos que o movimento pode frustrar alguns investidores que pensavam que alguém com mais experiência nas outras proteínas (porco e frango)”, concluem.

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