Minerva (BEEF3): ação chega a cair 8% após balanço, mas ameniza queda; analistas reiteram visão positiva

Analistas veem resultado do 4º tri marcando fundo de lucratividade, com melhora de preços e fim rápido da suspensão às exportações para China

Lara Rizério

(Arte: Leonardo Albertino)
(Arte: Leonardo Albertino)

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Em um cenário já visto como desafiador para os frigoríficos, com as mudanças de ciclo de gado nos EUA e, mais recentemente, com o caso confirmado de “vaca louca” no Brasil, a expectativa era de que a Minerva (BEEF3) se destacasse nos resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) dentre as empresas do setor, ainda que seus números também não empolgassem tanto.

Porém, os resultados da companhia vieram abaixo do esperado, fazendo com que as ações fechassem esta sexta-feira (24) em queda de 2,37%, a R$ 11,52, ainda bem longe das mínimas no dia, quando chegaram a cair 8,05%, a R$ 10,85.

O frigorífico registrou prejuízo líquido de R$ 25,7 milhões no quarto trimestre de 2022. O valor representa uma reversão significativa ante o lucro de R$ 150,3 milhões reportado em igual período de 2021. O consenso Refinitiv apontava para lucro líquido de R$ 203 milhões.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) alcançou R$ 607,5 milhões, queda de 17,4% sobre os R$ 735,3 milhões verificados no mesmo intervalo do ano anterior e abaixo dos R$ 713 milhões projetados pelo consenso Refinitiv. A margem Ebitda foi de 8,9%, ante 9,8% no quarto trimestre de 2021.

A receita líquida obtida entre outubro e dezembro somou R$ 6,839 bilhões, queda de 8,9% sobre os R$ 7,505 bilhões obtidos nos três meses do ano anterior e também abaixo das expectativas de R$ 7,8 bilhões. A receita bruta atingiu R$ 7,328 bilhões, recuo de 8,2% na comparação interanual.

Conforme destaca a XP, a redução da receita foi principalmente da Argentina (-42,7% na base anual) e Uruguai (-39,6%), apenas parcialmente compensada pelo Brasil (+5,6%).

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De acordo com os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, apesar da expectativa de aumento no volume (5,3% ano a ano), sustentada pelo ciclo do gado, os preços da carne bovina recuaram 5,8%, sinalizando um movimento empurrado e levantando preocupações sobre as projeções de curto prazo, especialmente com o recém anunciado caso atípico de vaca louca (EEB) que levou à paralisação das exportações de carne bovina do Brasil para a China.

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“O cenário de curto prazo permanece incerto, portanto a diversificação geográfica pode ser fundamental para um resultado positivo no consolidado”, avaliam os analistas.

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Cabe destacar que, no quarto trimestre, as exportações seguiram correspondendo a mais da metade da receita obtida pela Minerva no período: cerca de 69% do acumulado, ou R$ 4,573 milhões, enquanto o mercado interno foi responsável por R$ 2,755 milhões. Segundo a companhia, em nota encaminhada ao mercado, o resultado das exportações em 2022 consolida a Minerva como líder na exportação de carne bovina na América do Sul com aproximadamente 20% de market share.

O Itaú BBA destaca que o Ebitda ficou 8% abaixo da sua estimativa e 12% abaixo do consenso, com desempenho pior do que o esperado nas divisões brasileira e internacional. “Observamos que o momentum da Minerva deve continuar desacelerando no curto prazo, uma vez que as discussões sobre a reabertura das exportações de carne bovina brasileira para a China se tornam o principal catalisador da ação”, afirma.

Os analistas da casa lembram que a empresa também anunciou proposta de pagamento de R$ 209 milhões em dividendos, o que equivale a um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) de 3%.

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“Apesar dos resultados do 4T22 mais fracos do que o esperado, vemos como improvável que sejam um grande gatilho para as ações, já que questões sobre os níveis de estoque de carne bovina chinesa e a dinâmica global de oferta e demanda provavelmente definirão o tom para o case de investimento daqui para frente”, avalia o BBA, que segue com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para as ações, com preço-alvo de R$ 20 (ou potencial de valorização de 69,5% em relação ao fechamento da véspera).

A Genial Investimentos também apontou que já estava esperando um trimestre mais fraco para a Minerva, em linha com as expectativas do mercado, porém os resultados vieram ainda mais fracos.

“Isto pode ser explicado principalmente pelos menores volume e preço médio de venda no mercado externo, e pela piora no resultado financeiro da companhia, impactado por maiores despesas financeiras (dada a elevação da taxa de juros DI) e por um resultado de hedge cambial bastante negativo”, aponta.

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Entretanto, o ciclo positivo do gado no Brasil e no Paraguai, o qual deve proporcionar uma redução de custos e, consequentemente, implicar em uma expansão de margens, somado a uma crescente demanda oriunda da China com o término das restrições impostas pela política de Covid-zero, colaboram para que os analistas da casa sigam otimistas com as ações da companhia. Assim, mantêm o preço-alvo de R$ 20,00 e recomendação de compra para o frigorífico.

Sobre o caso de vaca louca confirmado no Pará, eles acreditam que a suspensão às exportações para a China não deva durar muito tempo, em especial devido ao caráter do caso (atípico, ou seja, sem possibilidade de disseminação) e pela expectativa do novo governo brasileiro apresentar uma postura menos combativa em relação à China.

“Assim, seguem otimistas com a companhia, a qual deve, em 2023, se beneficiar do momento positivo do ciclo do gado no Brasil e Paraguai, e apresentar um payout [dividendo em relação ao lucro] de, no mínimo, 50% do lucro líquido neste ano (cerca de R$ 600 milhões em dividendos, ou um dividend yield de 7,9%)”.

Após o resultado, o JPMorgan também seguiu com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para os ativos BEEF3. “Apesar dos resultados fracos, acreditamos que o trimestre deve marcar um fundo em termos de lucratividade e os investidores devem monitorar o momento da reabertura da China, bem como melhor tendência dos preços de exportação a partir daqui”, afirmam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.