MRV (MRVE3) teve trimestre mais duro de sua história, diz CEO; ações caem mais de 6% após balanço

Rafael Menin comentou que foi um trimestre “extremamente duro”, com uma conjugação de fatores negativos

Augusto Diniz

(Crédito: Jonne Roriz / Agência Estado)
(Crédito: Jonne Roriz / Agência Estado)

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A maior construtora residencial do país teve mais um trimestre difícil. Na apresentação dos resultados do terceiro trimestre, Rafael Menin, CEO da MRV (MRVE3), abriu a teleconferência reconhecendo os desafios, mas destacando o caminho que cada unidade do grupo está tomando para uma demonstração do resultado do exercício (DRE) mais animadora daqui para frente.

Neste momento, as ações da MRV recuam cerca de 6,7%, cotadas a R$ 8,81. No mês, as ações da construtora ampliaram as perdas na bolsa para 13,3% e no ano para menos 23,5%. A MRV registrou uma perda de 96% no lucro do terceiro trimestre, na comparação anual, para apenas R$ 7 milhões.

“Certamente foi o trimestre mais duro da história da companhia em função de uma conjugação de fatores negativos”, afirmou Menin. O primeiro deles foi margem bruta do grupo MRV, que continua baixa.

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“Faltou venda de produto da Resia (unidade dos EUA do grupo), que tem contribuído fortemente para os resultados positivos da MRV. Também não vendemos nenhum empreendimento da Luggo (unidade de aluguel no Brasil)”, disse sobre os outros dois fatores negativos.

“A conjugação desses fatores todos fez com que a MRV tivesse uma queima de caixa grande. Muito maior do que os números do trimestre anterior e um DRE nada bom”, comentou Menin a analistas de mercado.

“A nossa prioridade hoje é geração de caixa, desalavancar a companhia e voltar a margem bruta ao patamar que a gente entende como saudável”, afirmou.

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MRV e as unidades de negócios

Na teleconferência, o CEO da MRV fez uma explanação de cada unidade de negócios, onde ressalta estar “no caminho correto” as divisões.

No caso da MRV Brasil (habitação popular) e a Sensia (médio padrão), segundo o executivo, vêm apresentando uma recuperação gradativa e contínua no preço de vendas. “A margem no final do trimestre atingiu 28% e começa a ser um patamar palatável”, destacou.

“A Urba (loteamentos) continua com operação boa, com margem bruta saudável. Mas o crescimento será mais lento”, reconhece, citando que este segmento tem potencial, mas o grupo foca na sustentabilidade da operação.

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Na Luggo, de acordo com Menin, a vacância é próxima de zero e a empresa tem conseguido repassar os aluguéis acima da inflação. “É um produto superdesejado. A gente vai dar uma cadência menor de crescimento enquanto tivermos com o balanço um pouco mais alavancado”, disse.

Já no caso da Resia, a empresa tem focado no aluguel. “Num cenário que os juros para comprar imóvel saíram de 3% para 7%, as famílias têm tido mais dificuldade de comprar casa e o aluguel passa a ser a forma mais fácil ou viável de se morar”, explicou Menin.

“A gente está no momento mais crítico do mercado americano, mas mesmo assim estamos alugando numa velocidade muito elevada”, ressaltou.

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Retomada do MCMV

Sobre as questões voltadas à retomada pelo novo governo do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), mais voltado à baixa renda, quem falou na teleconferência sobre o assunto foi Eduardo Fischer, o outro CEO da MRV.

O executivo lembrou que o MCMV começou em 2009 e citou os governos nesse período que adotaram o programa. Segundo ele, mesmo com as mudanças de governo, a “estrutura” do programa se manteve a mesma.

“Obviamente, o governo Lula tem esse viés social um pouco mais forte e a gente entende que vai ter sim algum tipo de melhoria no programa. Talvez voltado às classes mais baixas”, disse Fischer.

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Para ele, existe “toda uma discussão de espaço fiscal (para se aplicar no programa), mas há mecanismos para fazer isso”. Fisher destacou o DNA da MRV no programa: “A gente tem dentro de casa todo um portfólio de produtos para endereçar a isso. A gente olha com otimismo porque fatalmente terá um empurrão a partir da virada do ano”.

O executivo, no entanto, disse que a participação da MRV na faixa 1, como nos moldes do passado, tem “interesse zero” dentro da empresa.

“Nunca participamos desse projeto lá atrás. Se ele voltar no mesmo formato anterior, a MRV não participará dele”, afirmou, citando que talvez com subsídio a faixa 1 possa se tornar mais atrativa.

Empresa descarta participar do aluguel social

Uma das propostas do novo governo para atender com moradia famílias de baixa renda também é adotar o chamado aluguel social com subsídio do governo, mas que exigiria a disponibilização de unidades habitacionais adequadas ao modelo.

“Foi ventilado a proposta (de aluguel social), mas não é um mercado que a gente vê com bons olhos. Não é um mercado que a gente vai participar”, afirmou Rafael Menin.

Custos estabilizados

O 3T22 foi marcado pela estabilização da pressão inflacionária nos materiais de construção observada nos últimos tempos, segundo relato da MRV na teleconferência com analistas.

“O que a gente viu ao longo do ano foi uma subida de preço muito forte (da unidade habitacional) acompanhada de uma subida de custos nos últimos 12 meses. Mas começamos a enxergar no 3T22 uma estabilidade nos preços de insumos”, contou Eduardo Fischer.

“O item importante, o concreto, ele ainda subiu um pouco no 3T22. Em outubro, no entanto, enxergamos estabilidade nesse item. As perspectivas são positivas já que a nossa subida preço (de unidade habitacional) continuará”, complementou.