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SÃO PAULO – Os ganhos de 67% Ibovespa “dolarizado” em 2016 fizeram nosso índice ser o melhor do mundo em termos de rentabilidade em dólar. Com uma alta tão expressiva, os tradicionais múltiplos utilizados pelos analistas fundamentalistas – como por exemplo o “P/L” (Preço/Lucro) -, que já não estavam “baratos” no ano passado, ficaram ainda menos atrativos, o que de certa forma poderia inibir investidores ávidos por comprar ações a um bom preço e vendê-las mais caro no futuro. Esta análise está faz sentido? Se você perguntar para um dos últimos vencedores do prêmio Nobel de Economia, a resposta pode ser “absolutamente não!”.
Isso é o que aponta um levantamento feito pela consultoria alemã StarCapital, que usou como base o “CAPE”, sigla para “Cyclically-Adjusted Price Earnings” (ou P/L ajustado ciclicamente). Esse múltiplo, desenvolvido pelo vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2013, Robert Shiller, foi usado para avaliar os ganhos do índice norte-americano S&P 500, comparando os preços das ações aos ganhos médios ao longo dos 10 anos anteriores – na prática: é um “P/L” com um “L” baseado nos últimos 10 anos, para retirar o efeito “cíclico” que um ano de grande euforia ou pânico pode trazer.
O que esse múltiplo pode dizer sobre o nível de preço da Bovespa? Muito mais do que você imagina. Segundo a StarCapital, de 40 MSCIs (índices teóricos de ações criados pelo banco Morgan Stanley para diversos países) de países emergentes e desenvolvidos analisados ao fim de 2016, o MSCI brasileiro possui o 4º menor CAPE, a frente apenas de Rússia, República Tcheca e Turquia. Ou seja: mesmo tendo sido a melhor bolsa de valores de 2016, o Brasil ainda é o 4º mercado mais barato do mundo, segundo este múltiplo.
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Se essa informação por si só já diz muito, saiba que em 2015 o Brasil estava na penúltima posição deste ranking, com apenas o MSCI da Rússia estando mais “barato” do que o nosso. Coincidência ou não, a Rússia ficou logo atrás do Brasil como melhor performance da bolsa em dólares no ano passado, com 58% de alta.
Alguém avisou isso antes? Pior é que sim
Um leitor mais crítico poderia comentar agora que analisar o passado depois que aconteceu não ajuda em nada e que essa análise só seria útil se tivesse sido feita do rali de 2016. O pior é que isso foi avisado sim.
Em 2014, Meb Faber, fundador da Cambia Funds, aplicou esta métrica para analisar mercados em todo o mundo em seu livro “Global Value: how to spot bubbles, avoid market crashes, and earn big returns in the stock market”. (Leia mais aqui) E através de sua conta no twitter, Faber publicou no dia 5 de janeiro de 2016 que o mercado de ações mais barato do mundo visto era o Brasil. Logo em seguido ele inclusive tuitou de maneira irônica que isso significava que começariam a aparecer várias notícias sobre por que não vale a pena investir no Brasil – fazendo alusão ao fato de que os momentos de maior pessimismo no noticiário econômico coincidem com os preços em níveis mais deprimidos das ações (veja abaixo os tuítes de Meb Faber).
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Podemos esperar uma nova disparada da bolsa brasileira por causa dessa análise? Basear uma tomada de decisão em apenas uma métrica pode ser perigoso, principalmente se tratando de um país com tantas incertezas políticas e econômicas como o Brasil. No entanto, os dados reforçam a percepção de que a Bovespa deve ter uma performance melhor que a média global. “É difícil afirmar se isso se dará nos próximos meses, mas ao longo do tempo, o Brasil tende a performar melhor porque está abaixo da média mundial em termos de preços de suas ações”, disse Tiago Reis, fundador da Suno Research e um dos investidores que exaltou essa análise feita por Faber.
As 10 bolsas mais baratas do mundo, segundo o CAPE:
País | Índice CAPE |
Rússia | 5,9 |
República Tcheca | 8,9 |
Turquia | 9,4 |
Brasil | 9,8 |
Polônia | 10,1 |
Portugal | 11,3 |
Cingapura | 11,4 |
Espanha | 11,7 |
Hungria | 12,5 |
Itália | 12,7 |
As 10 bolsas mais caras
Um dado interessante sobre os MSCIs mais caros pelo índice CAPE: ao fim de 2015, a Dinamarca era o país com CAPE mais elevado entre os 40 analisados e, no ano seguinte, o MSCI do país teve segundo pior desempenho: perdas de 13%.
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País | Índice CAPE |
Dinamarca | 33,3 |
Irlanda | 31,2 |
Estados Unidos | 26,4 |
Japão | 24,9 |
México | 21,5 |
Suíça | 21,5 |
Bélgica | 21,3 |
Suécia | 20,6 |
Canada | 20,5 |
Nova Zelândia | 20,3 |