Nada pode parar a disparada do dólar e os emergentes são os que mais vão sofrer, dizem analistas

Enquanto o dólar encosta na marca de R$ 4,00 por aqui, muitos outros países estão sofrendo com o rali da moeda norte-americana 

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se no Brasil os investidores já estão assustados com a velocidade da alta do dólar, é bom saber que o cenário não é negativo apenas por aqui. No mundo todo a tendência é que a moeda norte-americana deve seguir seu rali e há analista afirmando que nada pode frear este movimento.

“Não há nada que impeça isso [alta do dólar] neste momento”, disse David Bloom, diretor global de estratégia cambial do HSBC, à CNBC na última terça-feira (5). “Como argumentamos, o dólar está de volta, a ciclicidade da economia americana é soberba”, continuou o analista. Para ele, boa parte da projeção vem do fato de que o Federal Reserve está a caminho de elevar as taxas de juros a um ritmo justo este ano, apoiado em robustos indicadores econômicos, enquanto outros bancos centrais do G10 estão constrangidos em fazer o mesmo.

“Não há nada que eu possa imaginar que possa impedir o Fed nas próximas semanas de subir de novo, e não há nada que eu possa imaginar que impeça o BCE de não fazer nada em suas reuniões”, disse ele. E esta visão mostra que o HSBC está mais “bullish” sobre o dólar do que a maioria das outras casas de análise.

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“Não achamos que o posicionamento seja tão pesado, ninguém é um super comprador em dólar, as pessoas estão ficando cada vez mais neutras por serem pessimistas, então há bastante gasolina no tanque”, afirmou para a CNBC.

Organizações financeiras como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), além de outros bancos, já disseram que a tensões comerciais poderiam alterar a previsão otimista para a economia, e que a recuperação do dólar é insustentável.

Bloom contesta essa visão, por exemplo, dizendo que não apenas os drivers negativos para o dólar parecem já embutidos em seu preço, mas que os temores de uma guerra comercial são exagerados. “É um pouco chato, mas eu não chamaria isso de uma guerra comercial […] essas coisas acontecem, eu acho que as pessoas estão ficando um pouco alarmistas sobre isso”, disse.

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Risco para os emergentes
Já nesta quinta-feira (7), Simon Derrick, estrategista-chefe de câmbio do BNY Mellon, ressaltou que o dólar ainda tem espaço para subir, parecendo particularmente forte no curto prazo, e que isso dará mais uma pancada nos mercados emergentes. Segundo ele, porém, se o aumento das taxas impostas por Donald Trump prejudicar a confiança do mercado na economia dos EUA no longo prazo, o “quadro poderia ser muito diferente”.

O desenvolvimento nas últimas 24 horas foi “fascinante” para a moeda norte-americana, disse Derrick. O euro atingiu sua máxima de 10 dias contra o dólar na quarta-feira, após comentários do economista Peter Praet, do BCE, de que o banco debaterá em breve o término de seu programa de compra de títulos. Segundo ele, isso irá afetar o rendimento dos Treasuries norte-americanos, o que pesa em todo o mercado.

Para o especialista, isso deixará sua marca nas economias emergentes, especialmente aquelas que estão expostas a altas dívidas denominadas em dólar. “Vai acontecer no iene, na Turquia, no Brasil, no México – essas são as moedas que vão sofrer da mesma forma que sofreram há algumas semanas”, disse Derrick.

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“Acho que vamos ver muito mais pressão sobre as moedas dos mercados emergentes mais uma vez e o mercado ainda não está focado nisso”, completou o especialista citando os recentes dados da economia dos EUA, como o forte relatório de emprego da semana passada.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.