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Nos últimos dias, notícias sobre proposta do Banco Central para redução de juros do cartão de crédito voltou a ganhar destaque no mercado.
Segundo o Broadcast, na segunda-feira, além de limitar os juros do rotativo, o BC propôs aos setores um máximo de 12 meses para o parcelado sem juros, o que contou com certa anuência dos varejistas desde que esse prazo não seja novamente reduzido, como desejam os grandes bancos.
A autoridade monetária também propôs alguma limitação para a tarifa de intercâmbio no cartão de crédito. Este taxa é a tarifa cobrada pelos emissores de cartão. Hoje, não há valor máximo em transações com cartões pré-pagos e de crédito – seu valor médio pode ultrapassar 1% por operação.
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Cabe destacar que o Congresso aprovou neste mês uma lei que estabeleceu 90 dias (a partir do dia 3 de outubro) para que o Conselho Monetário Nacional (CMN) defina um limite para os juros do rotativo do cartão. A taxa média cobrada na modalidade está em 445,7% ao ano.
Caso não seja encontrada uma solução no prazo, a lei define que a taxa do rotativo não poderá exceder o valor original da dívida, o que representa juros totais de 100%.
Em meio a rumores de mercado e ainda um cenário de indefinição, analistas de mercado têm destacado quais seriam os impactos para o setor bancário e as adquirentes.
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Na visão do Goldman Sachs, essa seria parte de possíveis mudanças no produto de cartão de crédito rotativo, que atualmente leva a taxas de juros mensais de até 15% (+440% de forma anualizada).
“Este é provavelmente um ponto de partida para entender como a redução das parcelas se refletiria nas taxas de juros rotativos, na antecipação de recebíveis dos adquirentes e no consumo. Acreditamos que existem vários elementos móveis que podem impactar os lucros dos bancos e dos adquirentes, o que limita a capacidade de saber qual seria o impacto final”, apontam os analistas do banco.
Eles também ponderam que essas são discussões iniciais, sendo que provavelmente haverá muito ruído até que uma resolução final seja alcançada.
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Diferentes impactos
Para o Goldman, embora qualquer limite à taxa de intercâmbio de cartões de crédito seja negativo para os bancos, pode haver uma gama de aspectos que limitaria o impacto final. Por um lado, depende se a taxa de intercâmbio é limitada como um todo ou se apenas o intercâmbio que se refere a parcelas acima de 12 meses, o que é um percentual relativamente pequeno.
Além disso, os bancos poderiam se beneficiar da redução do número de prestações sem juros, uma vez que isso provavelmente levaria a menores riscos de crédito, o que por sua vez pode levar a taxas de juros mais baixas.
“Na verdade, os empréstimos inadimplentes em cartões de crédito rotativos chegam a 50%. Por isso, embora os bancos cobrem uma taxa de juro elevada, não recebem juros sobre quase 50% destes empréstimos”, avaliam os analistas.
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Outra proposta em cima da mesa é cobrar juros sobre a dívida consolidada, onde os bancos podem potencialmente cobrar uma taxa de juro mais baixa sobre um saldo devedor maior.
Para o Goldman, entretanto, as empresas adquirentes enfrentam um risco existencial para os seus modelos de negócio devido a qualquer redução significativa nas prestações sem juros, uma vez que uma grande porcentagem dos seus ganhos provém do pagamento antecipado destas contas a receber aos comerciantes.
Além disso, as duas maiores empresas adquirentes (a Rede, do Itaú ITUB4 e a Cielo CIEL3, de propriedade do Bradesco BBDC4 e Banco do Brasil BBAS3) do Brasil são propriedade de bancos, o que pode distorcer os incentivos.
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No entanto, PagBank (PAGS34) e Stone (STOC31) criaram uma concorrência significativa na indústria de adquirência, inclusive estimulada pelo Banco Central. Portanto, potenciais reduções nas taxas de intercâmbio ajudariam a reduzir qualquer impacto negativo da redução das parcelas sem juros para os adquirentes.
“Observamos também que com base nos dados da Mastercard e Visa, a taxa de intercâmbio tende a ser maior para parcelas mais longas, o que pode facilitar o ajuste, acreditamos. Por fim, embora a Cielo tenha a menor exposição ao parcelamento sem juros, ela poderá ser impactada negativamente por reduções no intercâmbio, dada a sua participação na Cateno, que ganha o intercâmbio para os cartões emitidos pelo Banco do Brasil. Na verdade, cerca de 60% dos volumes de cartões da Cateno estão relacionados ao crédito”, aponta.
O Goldman ainda avalia que o Volume Total de Pagamentos (TPV) cresceu a um CAGR ( taxa de crescimento anual composta) “impressionante” de 23% entre 2019-2022, refletindo maior penetração de cartões.
Com base no TPV, os emissores de cartões podem cobrar taxas de intercâmbio, que eram em média de 1,6% para cartões de crédito, 0,5% para cartões de débito e 1,2% para cartões pré-pagos no final de 2022.
“Ressaltamos, no entanto, que os cartões pré-pagos estão sujeitos a um limite de 0,7% desde o 2T23, enquanto os cartões de débito estão sujeitos a um limite de 0,5% desde 2018. Do ponto de vista do emissor do cartão, o Itaú continua sendo o líder de mercado com 23% de participação, enquanto a Nu, controladora do Nubank (ROXO34), ganhou mais espaço recentemente com 13% de participação”, apontam os analistas.
Enquanto isso, o principal adquirente é agora a Rede, do Itaú, com 25% de participação de mercado, enquanto PagBank e Stone permaneceram entre 10-11% de participação de mercado nos últimos trimestres. Por fim, os analistas observam que as transações com cartão de crédito em 7 parcelas ou mais representam 15% do volume total de crédito. “Com base em conversas com empresas de pagamento, acreditamos que o volume de transações acima de 12 parcelas gira em torno de um dígito ou menos do volume total de cartão de crédito”, avaliam.
Já na visão do Citi, levando em conta todos os pontos, a proposta do BC pode ser positiva para as adquirentes, também citando o dado de que as transações com sete ou mais parcelas representam apenas cerca de 15% do volume total do cartão de crédito, e a maioria desse volume deve ficar entre sete e doze parcelas. “Ainda assim, dada o duration das compras acima de 12 parcelas, a economia [com essa limitação] deve ser pequena, mas não irrelevante.”
“O limite para o intercâmbio não estava nas discussões até o momento, e ainda não há estimativa do nível do limite, por isso é difícil calcular possíveis impactos — mas acreditamos que este é um desdobramento mais positivo das discussões… pelo menos para as adquirentes.”
Limitar o parcelado sem juros é uma medida demandada pelos bancos, que contam com o risco da operação e apontam inadimplência maior nas compras com mais prestações. Já a criação de um teto para a tarifa de intercâmbio — que fica com bancos e financeiras — traria efeitos negativos para o setor e poderia beneficiar as adquirentes. Assim, no saldo final, a limitação do parcelado sem juros e a criação de um teto no intercâmbio tende a ser positiva para as adquirentes.
Visão para os bancos
Na visão do Goldman, o Nubank é mais exposto à mudança na tarifa de intercâmbio, mas possivelmente menos exposto à limitação do parcelamento.
O Nubank cobra em média 1,4% de taxa de intercâmbio sobre transações com cartão de crédito, enquanto o Inter (INBR32) tem taxa de 1,5% e o Itaú de 1,7% em média (a média do setor é de 1,6%). Como Bradesco, BB e Santander (SANB11) não divulgam dados separados, também presumem 1,7% para essas empresas.
Em relação às receitas totais, Nubank e Inter são os mais expostos às taxas de intercâmbio de cartão de crédito (11% das receitas totais), seguidos pelo Itaú (7%).
“No entanto, observamos que isso pode não ser necessariamente um risco”, afirmam, levando em conta os possíveis limites propostos. Além disso, se um limite for implementado apenas para transações de 12 parcelas ou mais, também o impacto será menor para empresas com menor exposição a esse tipo de transação. “Vemos no Banco Central do Brasil que o NU tem a menor exposição a empréstimos de cartão de crédito acima de 360 dias (0,1%), seguida pelo Inter (1,2%) e pelo Itaú (1,8%)”, destacam os analistas do Goldman.