Ações do Nubank fecham em queda em NY e na B3, com resultado dividindo analistas; fintech destaca foco no longo prazo

Em reunião com analistas após resultados, executivos evitaram definir metas financeiras, mas abriram algumas expectativas para o ano

Vitor Azevedo

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O banco digital Nubank (NYSE:NU; B3:NUBR33) divulgou na última terça-feira (22)  seu primeiro balanço após sua abertura inicial de capital, registrando um prejuízo líquido de US$ 66,2 milhões no quarto trimestre de 2021 – cifra 36,1% inferior às perdas de US$ 103,7 milhões registradas no mesmo período de 2020 e melhor do que o consenso da Refinitiv, que apontava perda de US$ 138 milhões.

As ações registraram forte alta no after market da véspera após o balanço, seguindo com ganhos no pré-market de Nova York desta quarta-feira (23), chegando a avançar mais de 9% durante a manhã. Contudo, o movimento de ganhos foi perdendo força. Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) NUBR33 abriram com alta de cerca de 6%, mas viraram para perdas no fim da manhã e fecharam em baixa de 15,73%, a R$ 6,32 na B3. Na Bolsa de Nova York, as ações fecharem em queda de 14,55%, a US$ 7,52.

Os resultados dividiram os analistas de mercado. Para o Bradesco BBI, o Nubank registrou resultados mais fracos que o esperado, com tendências subjacentes negativas, com um conjunto de resultados de menor qualidade.

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O banco acredita que os dados de receita, que superaram a expectativa ao totalizarem US$ 635,9 milhões, alta de 224,3% na base anual, foram impulsionados principalmente por ganhos de menor qualidade devido ao forte desempenho da tesouraria, apesar da sólida receita de clientes, enquanto as receitas de tarifas também ficaram abaixo das expectativas.

Além disso, o crescimento relevante das provisões aponta para uma perspectiva negativa de inadimplência, devido à metodologia de perda esperada, reforçando a tese de que um ambiente macro mais fraco deve atingir o banco ao longo do ano. O banco mantém avaliação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para a ação do Nubank negociada em Nova York, com preço-alvo de US$ 5,00, ou queda de 43% em relação ao fechamento da véspera.

Já para o Itaú BBA, que também possui recomendação underperform para os papéis, com preço-alvo de US$ 8 (queda de 9,2% frente o fechamento da véspera), os resultados foram mistos. A expansão da receita total (com margem financeira e de serviços) foi beneficiada pela significativa aceleração da carteira de crédito (+28%) via crédito pessoal (+54%).

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O índice de inadimplência apresentou um aumento modesto de 10 pontos-base no trimestre, sendo um alívio para o mercado. Do lado negativo, o crescimento recorrente da receita de serviços de 18% no trimestre ficou abaixo das expectativas.

As despesas operacionais aceleraram (+37% na base trimestral), enquanto as despesas de provisão para créditos ruins aumentaram bem à frente da carteira de empréstimos, dada a política de provisão de “perda esperada” do banco. O índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) encerrou o trimestre com alta de 10 pontos percentuais, para 240%, ante previsão do BBA de estabilidade. Já o lucro ajustado de US$ 3 milhões superou as estimativas de consenso de uma perda de US$ 10 milhões.

Os analistas do BBA destacaram que a ação poderia até subir, principalmente após uma queda de 11% no dia anterior ao relatório. “Os resultados, no entanto, não alteram nossa visão cautelosa sobre as ações”, disseram eles destacando os desafios cíclicos e estruturais que a companhia enfrenta.

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O Morgan Stanley, por sua vez, ressaltou seu otimismo com o papel após o resultado, com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para os ativos e preço-alvo de US$ 16, ou potencial de alta de 82%, destacando que a fintech superou em muito as expectativas em adições líquidas de clientes, receitas, lucro bruto e lucro líquido. “Esperamos que as revisões para cima dos lucros aconteçam”, avaliam.

Os analistas avaliam que o Nubank está bem posicionado para construir uma das maiores e mais valiosas franquias bancárias da América Latina, com base em tecnologia, melhor satisfação do cliente, marca valiosa e forte desempenho.

“A empresa tem vários caminhos atrativos para aumentar o crescimento da receita, incluindo uma base de clientes em rápida expansão, lançamento e venda cruzada de novos produtos, novas geografias, fusões e aquisições e potencial expansão para novos verticais de negócios. Tendências demográficas favoráveis também ​​proporcionam oportunidade de crescimento”, avaliam.

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Os analistas da casa preveem que a receita tenha uma sólida taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) de 3 anos de 68%, no topo de todas as empresas de grande capitalização que cobrem na América Latina.

Foco no longo prazo

O Nubank realizou na noite da véspera, pouco depois da divulgação dos resultados, a sua teleconferência. Entre os destaques do encontro com analistas e gestores, algumas perspectivas do banco digital para o futuro – que, por estarem mais no longo prazo, os executivos preferem deixar em aberto.

“Infelizmente nós não fornecemos guidance financeiro porque nós estamos, e continuaremos mantendo, com o foco de longo prazo na frente do de curto prazo”, afirmou Guilherme Lago, diretor financeiro (CFO) do Nubank.

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Isso não quer dizer, contudo, que as perspectivas não sejam positivas. “Esperamos que 2022 seja um ano forte para nós. Acreditamos que faremos avanços em produtos de crédito e também nos outros, além de pretendermos trazer avanços em novas geografias”, comentou o CFO.

No quarto trimestre, a receita do banco registrou uma alta graças, justamente, ao maior número de clientes e também a maior receita por usuário.

Quanto ao número de clientes, atualmente em 53,9 milhões, sendo 52,4 milhões no Brasil, 1,4 milhão no México e 114 mil na Colômbia, o Nubank se vê acelerando no México, onde acredita já ser líder em emissão de novos cartões, e destaca também seu desempenho na Colômbia, onde esta há apenas 15 meses.

Oferecimento de novos produtos e maturação de clientes é foco

Na receita média por cliente, a ideia do Nubank é que o progresso virá através do oferecimento de novos produtos, da maturação de safras dos usuários e também devido ao avanço da carteira de crédito.

“A evolução de receita média por cliente ativo é um indicador que monitoramos de perto e ele está crescendo em todas as safras”, afirmou Lago. Na comparação anual, a receita média saltou de US$ 4,90 para US$ 5,60, mas o CFO apontou que nas safras mais maduras, a receita já passa de US$ 15 por usuário. “A medida que as safras vão amadurecendo, vamos nos tornando o principal banco de vários clientes e conforme lançamos novos recursos, também aumentamos nossa média de receita”, explicou.

Para ele, as novas safras de clientes devem chegar a níveis mais altos de receita média de forma mais rápida, isso explicado pelo fato de o Nubank estar acelerando a maturação dos seus usuários. “Nas primeiras safras nós só tínhamos  os serviços de cartão de crédito e de conta”, pontuou o diretor financeiro.

Os executivos defenderam ainda que, ao contrário de alguns comentários que rondam o mercado, os últimos clientes que entraram para a plataforma não são menos rentáveis do que os demais – alguns analistas já apontaram que o banco estaria buscando espaço entre as classes mais baixas. “Fizemos grande avanço em direção aos jovens de classe média e estamos fazendo bons avanços também nos jovens de classes mais altas, com foco em pessoas que não possuíam contas em bancos”, explicaram.

Neste ponto, os executivos do Nubank defenderam ainda que não veem o custo para a aquisição de clientes crescer. “As inovações chegam para ficar e o custo de aquisição deve ficar igual, pois não há por que clientes ficarem em bancos que cobram taxas mais altas e os obrigam a frequentarem agência se isso não se faz necessário”.

Os novos produtos, além de aumentarem a receita, são apostas, justamente, na busca para impulsionar o número de clientes. “Agora que temos a plataforma correta para parcerias, fica muito mais fácil lançar novas funcionalidades. Não queremos oferecer 10 mil produtos, estamos sendo cautelosos para fazer as escolhas certas. Quanto melhor as ofertas, mais clientes teremos e mais eles falarão de nós para seus amigos”, contaram.

“Aprimoramos nossa iniciativa de marketplace com a expansão da nossa plataforma por meio de parcerias estratégicas. Temos o prazer de informar que encerramos o ano com mais de 20 parceiros em 9 verticais diferentes”, comentou David Velez, presidente do Nubank. “Durante o quarto trimestre, nós iniciamos a parceria com grandes players de serviços financeiros e não financeiros, incluindo Magalu, Creditas, Via Varejo e Shopee”.

Nubank define maturação de clientes e cenário macro como possíveis risco para 2022

Ao mesmo tempo em que crê que os clientes mais recentes devem continuar impulsionando a receita, uma possível quebra de expectativa quanto a isso pode prejudicar a performance do banco digital.

“Com relação aos riscos, o que move a agulha mais forte em 2022 é que nós ainda temos que ver a maturação da nossas safras. Vimos a receita média por cliente ativo avançando, mas esperamos para ver se isso terá continuidade”, pontuaram.

Os executivos do Nubank afirmaram também que acompanham de perto a situação macroeconômica brasileira. “Não estamos insensíveis ao que está acontecendo no ambiente macroeconômico. Estamos monitorando os ativos de nossa carteira de crédito”, afirmaram. “O macro é uma incerteza para nós. Estamos olhando de perto para qualquer tipo de deterioração neste cenário. Se começarmos a vermos sinais, decidiremos se estamos confortáveis ou não com determinados produtos”.

De qualquer forma, os executivos defenderam que, se o macro ficar muito pior, o Nubank estaria suficientemente capitalizado para agir, uma vez que o capital levantado no IPO está “praticamente intocado”, apesar de não acreditarem que isso acontecerá.

Apesar da provável alta da inadimplência, com taxa de juros mais altas e inflação, a instituição não considera que o cenário piorará indiscriminadamente. “Esperamos que a normalização continue gradualmente e atinja os níveis pré-COVID tanto para cartões de crédito quanto para empréstimos pessoais”, declarou Youssef Lahrech, diretor de operações (COO).

O banco aumentou no quarto trimestre suas provisões para pagadores duvidosos, separando US$ 199,6 milhões para esta finalidade, ante US$ 55,7 milhões no mesmo período de 2020. “Quanto maior for a nossa taxa de crescimento, maiores são as provisões que temos que constituir, defendeu o CFO. “Quando as taxas de crescimento se normalizarem, nossas margens de lucro bruto verticais devem convergir para aquelas das nossas safras maduras”.

Por fim, avanço na frente operacional

De acordo com Guilherme Lago, o Nubank deve, ainda em 2022, continuar em sua busca por se tornar operacionalmente mais eficaz – algo que já foi visto no balanço, uma vez que as despesas desse tipo, apesar de terem crescido de US$ 28 milhões para US$ 65,8 milhões, se diluíram na receita.

“Continuaremos a buscar entregar todo esse crescimento ao mesmo tempo em que mantemos uma das plataformas operacionais com menor custo do setor”, afirmou o CFO. “Acreditamos que o NU tem um potencial de alavancagem operacional muito alto, impulsionado por vantagens profundas em custos nos quatro pilares tradicionais de custos dos serviços financeiros, com baixo custo de aquisição de clientes, baixo custo de atendimento, baixo custo de risco e baixo custo de captação”, defendeu.

O Nubank, para seu corpo executivo, tem frente ainda para diminuir seus custos de captação por oferecer um balanço simples, depósitos sólidos e mais. “Acreditamos que ter depósitos de varejo em moeda local a taxas competitivas é fundamental para financiar o negócio de crédito ao consumidor e melhor que outras fontes de captação, como financiamento por atacado e securitização”.

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