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De acordo com dados publicados pela B3 nesta quinta-feira (28), os follow-ons, ou ofertas subsequentes de ações, já captaram R$ 29,3 bilhões em 2023, através de 17 operações, número que já quase supera as 19 movimentações do tipo de 2022. Analistas, no entanto, pregam que é necessário cautela por parte dos investidores ao participar dessas emissões, mesmo que para evitar as chamadas diluições.
Após 2022 ter sido considerado um ano de “mercado fechado”, os juros altos e a perspectiva de início de um ciclo de queda da Selic empurraram algumas companhias para o mercado de capitais neste ano. Contudo, as situações são discrepantes ao olhar caso a caso.
“2022 foi um ano onde o mercado de capitais esteve fechado. As empresas não tinham muito espaço para fazer emissões. Em 2023, o mercado de capitais voltou a se abrir, mas a gente está em um contexto onde os juros estão muito elevados. Então, para as empresas, está muito caro tomar dívida com os bancos. O mercado de capitais, por vezes, oferece uma oportunidade melhor nesse quesito”, explica Luan Alves, analista chefe da VG Research.
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Em outros momentos, como em 2020, o mercado de capitais se abriu porque as taxas de juros menores tornavam os ativos de risco mais interessantes. Isso acaba por gerar um forte fluxo de capital para a Bolsa de valores, com investidores procurando melhores retornos do que aquilo oferecido pelos rendimentos da renda fixa.
O fato de a Selic estar alta agora, apesar do início do ciclo de baixa, acabou impactando o balanço de muitas companhias. Diversas delas estão com as suas operações cambaleando, uma vez que o acesso mais difícil a crédito mingua os faturamentos, enquanto ainda são impactadas por gastos financeiros maiores, com suas dívidas custando mais.
Melhorando posição de caixa
“O que investidores têm de analisar, em primeiro lugar, é porque a empresa está fazendo um follow on. Se você sabe o porquê, sabe para onde vai os recursos”, explica João Daronco, analista da Suno Research.
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“Quando a companhia fala em reforço de capital de giro, por exemplo, é um nome bonito para dizer que ela não tem dinheiro para pagar salários e fornecedores, ou seja, para fazer a operação girar”, diz o especialista.
Quando se fala em um follow on “negativo”, o caso do Grupo Casas Bahia (BHIA3), antiga Via, é o mais mencionado.
Passando por uma reestruturação, a companhia lançou uma oferta de ações mirando o R$ 1 bilhão, mas levantou apenas R$ 622 milhões através da emissão de 750 milhões de novas ações, com a diluição girando perto de 47%.
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“A companhia está numa situação muito frágil, onde ela não tem uma posição de caixa robusta e precisa pagar um custo de dívida relativamente alto trimestralmente”, explica Alves, da VG. “Como o custo fixo da empresa é muito alto e ela não está conseguindo crescer resultados, ela não tem muita escolha. Se ela não fizer um follow on, ela vai precisar renegociar com bancos as condições de endividamento, ou decretar uma recuperação judicial”.
Segundo os especialistas, apesar de a varejista estar, no momento, com um pouco mais de caixa após a oferta, é necessário entender se ela não está “vendendo seu almoço para comprar a janta” – algo que será elucidado nos próximos resultados.
Follow on focando em investimentos
Em outros casos, contudo, follow ons foram realizados por companhias que estão visando à expansão dos seus negócios. Entre os destaques dessas negociações, segundo os especialistas, fica a Localiza (RENT3), que levantou R$ 4,5 bilhões.
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“A Localiza fez uma oferta recentemente, aproveitando o momento difícil para a aquisição de carros, para comprar veículos mais baratos. Ela gerou valor. Não precisava do capital, pegou o dinheiro após ver uma oportunidade”, comenta Daronco, da Suno. “Eles poderiam ter feito uma emissão de debêntures, por exemplo, mas como estão com precificação elevada, acima dos pares, acabaram aproveitando para colocar dinheiro para dentro”.
Já nas últimas semanas, empresas de capital intensivo começaram a captar para chegar com o caixa reforçado para “surfar” a tese de queda dos juros, casos das construtoras Direcional (DIRR3) e MRV (MRVE3), que, juntas, captaram pouco mais de R$ 1,4 bilhão.
No começo de 2023, as primeiras operações se voltaram para recuperar a estrutura de capital de empresas muito alavancadas, casos de CVC (CVCB3), Dasa (DASA3) e Hapvida (HAPV3). Houve, então, uma mudança do perfil das operações – o que não quer dizer, contudo, que outras empresas em situações delicadas não possam voltar a realizar uma operação do tipo.
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Análise de caso para caso
De olho em cada uma dessas situações, se é uma oferta para garantir a continuidade das operações ou focando em crescimento, investidores tomam suas decisões de aceitar ou não uma diluição.
“Nossa recomendação sempre é analisar os motivos do follow-on. Às vezes o investidor quer segurar para não vender no prejuízo, mas ele só aumenta. Tem uma frase que eu gosto muito que é: O menor prejuízo é o primeiro”, fala Daronco.
Ricardo Schweitzer, analista independente, vai no mesmo sentido, alertando também para as vezes nas quais empresas buscam expansão através de novas emissões.
“Se nós assumirmos que os recursos serão empregados pela empresa de uma forma efetivamente produtiva, que a empresa vai fazer bons investimentos, a tendência é que o lucro a médio e longo prazo cresça muito mais do que cresceria sem o aumento de capital. Nesse caso você tem um efeito de diluição no curto prazo que não é relevante, já que o resultado da oferta a longo prazo é positivo”, diz.
“E quando que um follow on para expansão não é positivo? É quando, por exemplo, a empresa usa esses recursos para fins ruins, como adquirir uma empresa não tão boa ou entrar em um outro segmento que acabe gerando prejuízos. Ai está destruindo valor, não só no sentido de pegar o dinheiro novo e rasgar, como na verdade diminuir a participação dos seus acionistas originais nos demais negócios remanescentes”, pondera.