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SÃO PAULO – A Souza Cruz (CRUZ3), uma das mais tradicionais empresas de capital aberto do Brasil, deve sair da Bolsa em breve. O Grupo British American Tobacco (BAT), seu acionista controlador, anunciou a intenção de fechar o capital da subsidiária brasileira na manhã desta segunda-feira (23). Se confirmada, será uma operação histórica. A companhia, maior fabricante de cigarros do Brasil, é uma das mais antigas da Bolsa, tendo estreado na Bolsa do Rio de Janeiro em 1946, sendo posteriormente listada na Bolsa de Valores de São Paulo, em 1957.
O fato curioso é por que a BAT decidiu anunciar essa OPA agora. Embora a Souza Cruz seja um caso raro na Bolsa (desde janeiro de 2001, a ação subiu impressionantes 5.602% – tendo apenas 4 anos negativos), os últimos anos não têm sido nada fáceis para a companhia, com o número de fumantes caindo e, consequentemente, a venda de cigarros, enquanto o mercado ilegal tem avançado, o que fatalmente afetou o que era um dos maiores atrativos da empresa: os fartos dividendos. O yield (rendimento) dos dividendos passou de aproximadamente 10% para média abaixo de 5% nos últimos três anos.
Então, por que a BAT resolveu comprar agora todas as ações da Souza Cruz em circulação no mercado, ou 24,7% do capital da empresa (378,1 milhões de ações), gastando cerca de R$ 10,1 bilhões?
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Para a casa de research Empiricus, a resposta é simples: expectativa de fluxo de caixa livre crescente, que é efetivamente sobre no caixa da empresa após cumprir todas as obrigações operacionais e de investimentos.
Isto porque olhando a relação entre o preço da ação e o fluxo de caixa (como pode ser visto na reta em vermelho abaixo), ela tem caído em função do movimento dos papéis na Bolsa em 2013 e 2014 (período que acumulou baixa de 30%), enquanto o fluxo de caixa (reta em azul) tem sido consistente – apesar do recuo ano passado.
Ou seja, o que a BAT quer com a OPA é convergir essas retar: pagar em vermelho para ficar com azul futuramente, diz a Empiricus.
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Fonte: Bloomberg
E não é só isso. Para a BAT compensaria comprar o restante das ações da Souza Cruz agora, com o dólar em um dos melhores patamares dos últimos dez anos (hoje a R$ 2,87). Além disso, ela não terá os custos e despesas para manter uma empresa de capital aberto no Brasil, disse o analista Flávio Conde.
Mas não é só ela que ganha, já que os acionistas, que tantos dividendos receberam ao longo de algumas dezenas de anos, ainda receberão um prêmio de 13% sobre o fechamento de ontem de uma das mais tradicionais empresas do mercado.
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Nos 57 anos de mercado, a Souza Cruz quase sempre derrotou os investidores que tentaram operar na venda. Nos últimos 15 anos, os papéis encerraram apenas 6 no negativo, levando a fama de uma das empresas que melhor retorna o acionista. Um estudo feito de 2000 até 2012, mostrou que em todos esses anos a companhia conseguiu entregar rentabilidade sobre patrimônio superior a 35% – sendo que em 2008, em plena crise, a Souza Cruz entregou quase 80% de retorno sobre o patrimônio.
Não é à toa que a BAT fecharia o capital da empresa, e não diferente que o mercado esteja realmente “comprando” a notícia. Hoje, as ações da companhia disparam 7%, a R$ 25,36 – bem próximas ao valor da OPA de R$ 26,75, deixando uma margem de desconto para embutir o risco de não materialização da operação. Mas, a julgar pela pequena margem de desconto, o mercado considera a deslistagem de Souza Cruz como praticamente certa, diz a Empiricus.