O que esperar para a Petrobras (PETR4) após as eleições? Gestores respondem a 9 perguntas-chave sobre futuro da estatal

Temas levantados em pesquisa feita pelo Bradesco BBI vão desde a cenários com aumento dos investimentos em capital a de privatização da companhia

Lara Rizério

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Depois da euforia com a Petrobras (PETR3;PETR4) passado o primeiro turno das eleições, em meio à disputa presidencial apertada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e à eleição de um Congresso conservador, muitos questionamentos sobre o futuro da estatal em caso de mudança de governo seguiram no radar. O temor dos investidores é de políticas de maior intervenção na petroleira em caso de eleição do petista, ao mesmo tempo que alguns desses receios se dissiparam com a possibilidade de contraposição com o Legislativo de outro espectro político.

De forma a ancorar as estimativas levando em conta o cenário eleitoral, o Bradesco BBI fez uma pesquisa com um total de 55 fundos de investimento para entender quais caminhos a companhia deve tomar, trazendo 9 perguntas-chave sobre alterações no rumo da estatal.

De acordo Vicente Falanga, analista do BBI, possuir a Petrobras pode se encaixar mais em uma estratégia de “volatilidade” se houver uma mudança de governo.

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“À medida que o Brasil se aproxima da segunda e última rodada de suas eleições presidenciais de 2022, há várias perguntas na mente dos investidores sobre o que esperar de uma Petrobras nesse cenário. (…) Esperávamos que o mercado estivesse ancorado principalmente no que chamamos de cenário ‘BEAR 2.0’ (…) em que a Petrobras não tem paridade de preços de combustível e aumenta seus níveis de capex (investimentos em capital) para US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões por ano”, aponta Falanga.

Este cenário justificaria um Valor Presente Líquido (NAV) justo por ADR (American Depositary Receipts ou recibo de ações, na prática os ativos negociados na Bolsa de Nova York) de US$ 15 (versus o target atual de US$ 20 por ADR ), afirma. O target atual de US$ 20 representa um potencial de valorização de 38% em relação ao fechamento da véspera do ativo PBR (equivalente ao ordinário PETR3), enquanto o de US$ 15 representaria um potencial de valorização de 4%.

Falanga aponta que a maioria dos investidores que responderam à pesquisa tem uma visão parecida, ainda que com algumas divergências, como em temas se a Petrobras reduzirá dividendos no próximo ano, imediatamente após a eleição de um novo conselho, ou se este será um processo gradual, ao longo dos anos, entre outras questões.

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Confira abaixo as principais questões sobre a Petrobras e as respostas dos gestores:

1. Assumindo uma mudança de governo, e com a maioria do Congresso agora formada pela centro-direita, os cargos de: (1) Ministro de Minas e Energia e (2) CEO da Petrobras deverão ser de nomes historicamente ligado a partidos de centro-esquerda?

85% dos investidores que responderam à pesquisa esperam que essas duas posições sejam preenchidas por nomes ligados a partidos políticos de centro-esquerda (e não por nomeações técnicas), enquanto 15% responderam que não.

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“Após o primeiro turno das eleições, com a notícia de que os partidos de centro-direita formaram a maioria no Senado e na Câmara, pensava-se que os investidores atribuiriam uma probabilidade mais equilibrada de essas posições-chave ficarem com nomes claros de centro-esquerda”, avalia.

O analista pondera que poderia ser caro para um novo governo formar coalizões no Congresso; portanto, algumas posições-chave podem ficar com nomes mais centristas.

A esmagadora maioria os investidores, no entanto, acredita que o MME e a Petrobras ficarão com nomes que estão historicamente ligados a partidos de centro-esquerda. Se isso não acontecer, as ações podem reagir positivamente, avalia Falanga.

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2. Em um cenário de mudança de governo, a Petrobras reduzirá o dividendo pago ao longo do tempo?

A grande maioria (96%) acredita que sim.

O analista do BBI aponta concordar com esta constatação. “Se ocorrer uma mudança de governo, as decisões de alocação de capital ao longo do tempo provavelmente favorecerão investimentos em vez de devolver capital aos acionistas”, avalia.

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3. Em um cenário de mudança de governo, a Petrobras manterá a política política de paridade internacional de preços (PPI)?

71% acreditam que não será mantido, o que o BBI também vê como mais provável.

No entanto, aponta, talvez não haja manutenção da paridade apenas em períodos em que o preço do petróleo sofra pressões de alta. “Isso, a nosso ver, pode ser no segundo semestre de 2023, quando o Federal Reserve poderia sinalizar o fim de um ciclo hawkish (de aperto das condições monetárias, levando a uma alta das commodities)”, avalia.

Falanga aponta ainda perceber que mesmo membros de partidos de centro-direita às vezes discordam da paridade internacional. “Se um novo governo decidir pressionar por mudanças na política de preços, acreditamos que conseguiria muitos adeptos”, avalia.

4. Sobre política de dividendos, acredita: (i) que ela não mudará; (ii) a Petrobras reduzirá sua política de pagamento logo após a eleição da nova diretoria, até o mínimo legal de 25% do resultado; (iii) a Petrobras reduzirá sua política de pagamento após a eleição da nova diretoria – não no mínimo legal, mas em algum lugar entre o que é hoje e o mínimo legal; ou (iv) a Petrobras só reduzirá sua política de pagamento gradualmente, quando seu programa de capex começar a aumentar.

O BBI aponta que essa foi a pergunta que talvez tenha resultado no menor consenso. Enquanto 40% acreditam que os dividendos serão reduzidos ao longo do tempo, quase 60% acreditam na redução imediata dos dividendos.

1,92% responderam i); 30,77% responderam ii); 26,92% responderam iii) e 40,38% responderam iv).

“Também não sabemos bem o que esperar, mas tendemos a pensar que os dividendos não serão reduzidos imediatamente, mas sim gradualmente. Achamos que isso pode depender, em última análise, da resposta à pergunta 1, sobre se haverá nomeações ligadas a partidos de centro-esquerda, que podem adotar uma abordagem mais dogmática sobre dividendos, enquanto nomeações mais centristas seriam menos inclinadas a fazê-lo”, avalia o analista.

Uma abordagem mais pragmática sugeriria que, se nenhum projeto importante for desenvolvido, o novo governo pode se beneficiar dos dividendos da Petrobras.

5. O investimento em capital (capex) anual da Petrobras está atualmente em torno de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões. Em caso de mudança de governo, quanto acredita que este nível pode subir em 2 anos?

Mais de 50% (54%) veem níveis de capex de longo prazo indo para de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões por ano.

Isso provavelmente também refletiria em alguns projetos de refino brownfield e grandes projetos de transição energética, como parques eólicos offshore.

Cerca de 2% veem que não haverá aumento no capex, 19% acreditam que irá para US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões, 17% de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões e 8% veem investimentos acima de US$ 25 bilhões.

6. O que mais protege a Petrobras hoje: (1) a Lei das Estatais, (2) estatuto social, ou (3) nenhum deles é efetivo?

Os fundos de investimentos também se mostram divididos aqui. Uma parcela considerável acredita que a Lei das Estatais protege mais a empresa (46%), 10% acreditam que é o estatuto, enquanto um grande grupo é bastante cético e não acredita nem na Lei nem nos estatutos da empresa (44%).

“Observamos que os estatutos mudam com os novos membros do conselho e, infelizmente, a forma como a Lei das Estatais é escrita permite que outras leis alterem seu texto. Além disso, em relação à paridade de preços, não há fórmula especificada na Lei das Estatais, o que amplia as possibilidades de execução”, aponta o analistas.

7. Uma empresa petrolífera deve investir quantias significativas em projetos de transição energética como a eólica offshore?

50% dos respondentes disseram que não, 8% que sim e 42% a depender da taxa interna de retorno (TIR).

O BBI concorda que as empresas petrolíferas não devam direcionar grandes montantes em tais projetos de transição, avaliando que o Brasil deva buscar diferentes players para atuar no processo, e não usar uma entidade de combustível fóssil para isso.

“Acreditamos que investimentos como projetos eólicos offshore não estão dentro do escopo dos principais objetivos da Petrobras, podendo trazer grandes desequilíbrios nos preços de geração no longo prazo. Expectativas já apontam para um mercado de geração superofertado nos próximos 5 anos e, portanto, se uma empresa do porte da Petrobras investir em mais projetos, o excesso de oferta pode se tornar ainda mais significativo, afastando alguns investidores racionais importantes”, avalia.

Embora a Petrobras não precise negligenciar completamente os projetos de transição, ela deve se concentrar naqueles que pegam carona nas vantagens competitivas da empresa, como as que já estão sendo desenvolvidas por ela. Enquanto isso, acelerar o desenvolvimento de certos grandes campos, como Búzios e Mero, aumentaria a arrecadação de impostos para a sociedade brasileira em meio a um futuro incerto para o petróleo, e também ajudaria o Brasil a desenvolver sua agenda “S” (social) da sigla ESG.

8. Hoje, dados os fundamentos da empresa, qual seria o cenário de baixa para o preço das ações, supondo que o mercado não goste de novos movimentos de alocação de capital, com corte na política de dividendos?

52% acreditam que o intervalo seria de US$ 7 a US$ 9 por ADR PBR seria razoável (R$ 19 a R$ 24 por ativo em reais). Na véspera, os ativos PBR fecharam a US$ 14,45.

6% veem o ativo entre US$ 11 e US$ 13 (R$ 29 a R$ 35 em reais); 27% entre US$ 9 e US$ 11 (entre R$ 24 e R$ 29 em reais) e 15% abaixo de US$ 7 (abaixo de R$ 19 em reais).

9. Se o atual governo for reeleito com uma forte plataforma de privatização, até onde iria o preço da ação até o fim de 2022?

46% dos investidores acreditam que de US$ 20 a US$ 25 por ADR (R$ 53 a R$ 66 por ação em reais) versus US$ 14,45 de fechamento da véspera.

25% acreditam entre US$ 15 e US$ 20 (R$ 40 a R$ 53), 19% entre US$ 25 e US$ 30 (R$ 66 a R$ 80) e 10% veem acima de US$ 30 (além de R$ 80).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.