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SÃO PAULO – Em 2020, o Ibovespa teve mais um ano de ganhos (+2,92%), mas bem abaixo do registrado em 2019 (quando subiu cerca de 31%) e também da expectativa dos analistas, que rondava para que o índice fechasse o período acima dos 130 mil pontos. Apesar de destacarem o cenário externo como um fator de preocupação, nem os mais pessimistas imaginavam entre o fim de 2019 e o começo do último ano o efeito da pandemia do coronavírus no mercado – e este foi o grande fator que guiou o benchmark da Bolsa em 2020.
O ano de 2020 passou, mas deixou a sua marca para o ano que inicia, que ainda terá uma grande dose de incerteza, o que leva a um otimismo cauteloso para o mercado acionário. Um grande número de casas de análise espera uma alta do índice, mas modesta, de 130 mil pontos, representando uma variação positiva de 9,23% frente o fechamento de 119.017 pontos no dia 30 de dezembro. De acordo com compilação feita pelo InfoMoney com 12 casas de análise, na média, a expectativa é de que o índice chegue a 130.666 pontos, uma alta de 9,79% na comparação anual.
O Bank of America está “overweight” (exposição acima da média do mercado) para as ações brasileiras em 2021, com perspectiva do índice a 130 mil pontos no próximo ano, puxado por perspectiva de recuperação dos lucros neste ano e no próximo para setores cíclicos, que têm maior peso no índice – materiais básicos, de petróleo e gás e financeiro.
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“O fluxo estrangeiro virou, mas óbvio que uma intensidade maior nesse movimento vai depender do nosso fiscal”, disse David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America, prevendo que o Brasil receberá US$ 60 bilhões em investimento direto no país (IDP) em 2021, acima dos US$ 45 bilhões previstos para 2020. Na América Latina, o mercado de ações brasileiro é o único com recomendação “acima da média do mercado”. O BofA está “marketweight” (exposição em linha com a média do mercado) em México e Peru, “underweight” (exposição abaixo da média) no mercado chileno e sem exposição a Argentina e Colômbia.
A XP Investimentos, também com projeção do índice a 130 mil pontos, reforça a visão de que o crescimento da economia deva impulsionar de maneira relevante o lucro das empresas neste ano. Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, aponta que os emergentes voltaram ao centro das atenções, sendo que algumas ações cíclicas e com desconto agora atraem maior interesse estrangeiro. Embora o mercado tenha se recuperado bastante rápido e alguns riscos permaneçam no horizonte, a visão ainda é “construtiva”, aponta.
Com a mesma previsão de pontos para o índice, o BB Investimentos ressalta que o benchmark da Bolsa deverá avançar refletindo tanto a recuperação econômica doméstica quanto a global. A maior liquidez internacional e a taxa básica de juros (Selic) baixa serão catalisadores e deverão manter o cenário mais otimista.
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“A percepção é que 2021 será um ano de recomposição de preços dos ativos, apoiada com consistência na consolidação da recuperação econômica mundial. Entre outros, destacam se os seguintes fatores: taxas de juros em baixos patamares mundialmente, principalmente nas grandes economias; permanência de vasta liquidez global para manter o suporte necessário à reativação econômica; liberação de vacinas para o coronavírus fato que poderia levar logo à normalização das atividades; e, como impulsionador, existem sinais de uma demanda reprimida em decorrência do impacto adverso ocasionado pela pandemia, associada a uma capacidade ociosa capaz de elevar a oferta”, ressalta a equipe de análise do BB Investimentos.
Entre os riscos no radar, o BB-BI destaca que se sobressaem imbróglios inerentes às negociações das reformas essenciais que viabilizem uma trajetória cadente para o déficit fiscal doméstico. Já entre os riscos externos, a possibilidade de
um novo acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China, bem como a eficácia da vacina
contra o coronavírus.
André Carvalho e equipe, do BBI, veem o índice a 130 mil pontos neste ano e a 140 mil pontos em 2022, também ressaltando que os riscos serão gradualmente comprimidos e haverá uma recuperação de lucros consistente. Alguns temas-chave para as ações no Brasil em 2021 para eles são: (i) política e política fiscal ainda no centro das discussões; (ii) recuperação de lucros significativa provavelmente num contexto de crescimento de PIB tímido e (iii) vacinação de Covid-19.
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Para o BBI, os preços altos de commodities devem suportar o cenário de recuperação de lucros em 2021 e 2022. Setorialmente, analistas do BBI projetam crescimento de lucro acima do consenso para empresas produtoras de commodities, de saúde e tecnologia, enquanto estão abaixo do consenso no setor de consumo básico e de energia e saneamento.
Eles também apontam um cenário em que o índice possa chegar aos 140 mil pontos neste ano, caso o prêmio de risco (ou ERP, medida de retorno esperado de um mercado acionário em relação a uma taxa de retorno livre de risco, como a de títulos do governo) convirja para a média histórica. Os riscos para ações no Brasil, na avaliação do BBI, em 2021, são de: (i) inflação surpreendendo para cima e aumentando a chance do BC de aumentar Selic em 500 pontos-base a 600 pontos-base em 2021 e 2022 (atualmente em 2% ao ano); (2) o Congresso enfraquecendo materialmente a ancoragem fiscal e o (3) apetite global por risco caindo substancialmente, no caso de deterioração do cenário da Covid-19, por exemplo.
Entre aqueles que já preveem o índice ainda um pouco acima dos 130 mil este ano, está o Safra, com projeção do índice a 131 mil pontos. Além do cenário de juros baixos, a continuidade da agenda de reformas e a expectativa de respeito ao teto de gastos, os estrategistas ainda pontuam que, no cenário internacional, a eleição do democrata Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos tende a gerar uma política externa menos volátil, o que deve se refletir em um melhor ambiente de negócios, principalmente para os países emergentes.
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Eles ainda apontam cinco fatores devem continuar incentivando o retorno dos estrangeiros ao mercado brasileiro: i) entrada num período de recuperação de atividade econômica, o que deve gerar resultados crescentes para as empresas nos próximos anos; ii) o cenário externo que tende a dar suporte ao preço das commodities; iii) retomada e posterior manutenção do equilíbrio fiscal passada a pandemia; iv) possibilidade de estabilização do real (estimativa do dólar em R$ 5,35 em 2020 e R$ 5,45 em 2021 e v) o fato do Ibovespa em dólar está bem distante da máxima atingida em maio de 2008 (cerca de 50% abaixo), deixando ainda um bom espaço para recuperação.
Já o JPMorgan projeta que o índice encerre o ano que vem a 134 mil pontos, também destacando a recuperação dos resultados corporativos e a expectativa de que o mercado local siga se beneficiando de uma rotação para ações de valor e papeis mais cíclicos, especialmente por conta do grande peso que bancos e empresas ligadas a commodities possuem dentro do índice.
O banco espera que o governo brasileiro avance com uma agenda básica, incluindo a PEC emergencial e temas micro – como o projeto da autonomia do Banco Central e a nova lei do gás natural. Mas ainda há cautela em relação às questões domésticas, com relação às chances de um avanço significativo de reformas estruturais, e monitoram as discussões sobre o cumprimento do teto de gastos.
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“Nossa visão é de que o teto se mantém, mas o debate fiscal continua”, disse Emy Shayo, estrategista de ações para a região do banco, em entrevista recente à Bloomberg. Para a materialização do cenário otimista do banco – Ibovespa a 150 mil pontos no fim de 2021 -, seria necessário uma surpresa maior em relação à entrega de reformas, além de uma recuperação mais forte que o esperado, de acordo com Shayo.
Projetando o Ibovespa a 135 mil pontos, o Santander também destaca a rotação global para ações cíclicas enquanto que, no Brasil, ainda há um baixo posicionamento do investidor estrangeiro e o valuation da Bolsa local ainda é atrativo. Em dólares, o Ibovespa acumulou baixa de 20% em 2020, ficando abaixo de todos os outros índices acionários de referência rastreados pela Bloomberg.
Se o cenário base é o índice a 135 mil pontos, no cenário pessimista do banco, com uma recuperação menor do que a esperada do lucro das empresas e percepção de que a taxa de juros maior mais à frente, o índice iria a 85 mil pontos. Já em um ambiente da chamada “recuperação em V” da atividade econômica, com uma forte retomada da lucratividade e expectativa de juros mais baixos na ponta longa, o índice poderia chegar a 155 mil pontos este ano.
Confira as projeções das casas de análise para o Ibovespa em 2021:
Instituição | Projeção para 2021 | Potencial de valorização* |
Necton | 140.000 | +17,63% |
Santander | 135.000 | +13,43% |
Guide Investimentos | 135.000 | +13,43% |
JPMorgan | 134.000 | +12,59% |
Safra | 131.000 | +10,07% |
XP Investimentos | 130.000 | +9,23% |
Bradesco BBI | 130.000 | +9,23% |
Bank of America | 130.000 | +9,23% |
BB Investimentos | 130.000 | +9,23% |
Ativa | 128.000 | +7,55% |
Goldman Sachs | 125.000 | +5,03% |
Morgan Stanley | 120.000 | +0,83% |
Média | 130.666 | +9,79% |
*em relação ao fechamento de 30 de dezembro de 2020, a 119.017 pontos
Ações e setores preferidos
A perspectiva é de ganhos para o Ibovespa e, neste cenário, os estrategistas também destacam quais são os setores que podem ganhar mais.
Como já apontado acima, as ações dos setores ligados a commodities, que tiveram um bom desempenho em 2020, seguem no radar de preferências para este ano, além de continuarem as apostas sobre a rotação cíclica no mercado dos papéis de crescimento para os de valor.
O BBI também está com exposição acima da média no setor financeiro, em ações com características bond-like (que possuem um comportamento mais parecido com títulos, com receitas resilientes e com alto pagamento de dividendos), em papéis do setor de petróleo e com exposição abaixo da média no setor de consumo.
As top picks do BBI para 2021 são: Itaú (ITUB4), B3 (B3SA3), Iochpe-Maxion (MYPK3), JBS (JBSS3), MDias Branco (MDIA3), Natura & Co. (NTCO3), Enjoei (ENJU3), o papel do Mercado Livre negociado na Nasdaq (BDR negociado na B3 com o ticker MELI34) Yduqs (YDUQ3), Petrobras (PETR4), BR Distribuidora (BRDT3), NotreDame Intermedica (GNDI3) e Hermes Pardini (PARD3), Oi (OIBR3), Meliuz (CASH3), Totvs (TOTS3) e Santos Brasil (STBP3). No setor de energia e saneamento, os estrategistas têm na carteira Eletrobras (ELET3), Omega Geração (OMGE3) e Energisa (ENGI11); no setor de commodities, estão Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3).
Já a XP Investimentos possui uma carteira Top 10, com a visão dos ativos que podem ter um desempenho acima do Ibovespa no médio prazo. Em dezembro, ela era composta por B3 (B3SA3), Banco do Brasil (BBAS3), Gerdau (GGBR4), Omega, Ambev, Tenda (TEND3), Petrobras, Vale, C&A (CEAB3) e Via Varejo (VVAR3) – veja mais clicando aqui.
O BB Investimentos tem uma carteira composta por 22 ações, apesar de ter recomendação neutra para alguns setores dos quais elas fazem parte. Os analistas estão neutros com o setor bancário, apontando que, apesar de ter mostrado resiliência durante a crise, os desafios à frente são muitos. Porém, recomendam os ativos de ABC Brasil (ABCB4), BTG Pactual (BPAC11) e Itaú.
Eles também possuem recomendação em Vale em mineração, Petrobras e BR Distribuidora em óleo e gás, possuindo visão positiva para ambos os setores. Para a Vale, a equipe de análise destaca que a empresa continuará se beneficiando do cenário de demanda aquecida na China, possibilitando uma remuneração dos acionistas via dividendos. Já para as outras duas companhias, são esperadas novas dinâmicas para o setor com a conclusão da venda das refinarias da Petrobras, enquanto o setor de distribuição de combustíveis deve manter a gradual recuperação do volume de vendas observada desde.
No setor agro e de alimentos, recomendação para i) SLC Agrícola (SLCE3), esperando que o cenário continue positivo para o setor; ii) São Martinho (SMTO3), com perspectiva de que os preços de açúcar devam seguir em alta corroboradas pela expectativa de menores estoques devido à menor produção tailandesa e a indefinição em torno do subsídio indiano iii) e, por fim, para a BRF (BRFS3). Neste último caso, pela visão de manutenção da demanda por carne de frango em 2021 e pelo valuation atrativo em comparação aos pares.
A visão é neutra para os setores de energia, varejo e educação, mas eles destacam preferência para Alupar (ALUP11), Centauro (CNTO3), Magazine Luiza (MGLU3) e Yduqs (YDUQ3) dos setores. Para saneamento, a visão é positiva com o novo marco regulatório do setor, os leilões até o momento bem sucedidos e o calendário de revisão tarifária: a preferida nesse cenário é a Copasa (CSMG3). Ecorodovias (ECOR3), Localiza (RENT3), Simpar (SIMH3) aparecem entre as preferências do setor de transportes, enquanto Tupy (TUPY3) e WEG (WEGE3) são as preferidas do setor de bens de capital.
Na carteira LatAm All-Stars do Santander para o ano, que compila as principais ideias de ações dentro do universo da América Latina, 5 dos 10 papéis são de empresas brasileiras. Bradesco (BBDC4) está na carteira, com a equipe de estrategistas levando em conta o preço considerado baixo em que os papéis estão sendo negociados e também pelo progresso com o corte de despesas e o alto índice de cobertura do banco com relação à inadimplência.
BR Distribuidora, por conta do valuation, Rumo Logística (RAIL3) por conta de sua exposição ao setor agrícola, e Totvs (TOTS3) também estão no portfolio. No caso da Totvs, a indicação se dá pelo fato de 80% da sua receita ser recorrente e por ser um player que se beneficia da tendência de digitalização. Por fim, completando a gama de papéis brasileiros na carteira do Santander, está a Vale, com a revisão para cima das perspectivas para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) em 2021 – para US$ 23 bilhões – e o fato do ativo da mineradora ainda negociar com um desconto de 30% em relação aos seus pares.
(com informações da Bloomberg)