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SÃO PAULO – Em meio a uma queda de 18% no acumulado de 2021 até o fechamento de sexta-feira (26) das ações, os resultados do quarto trimestre da Oi (OIBR3; OIBR4) eram muito aguardados pelos investidores.
Não só pelos números de um 2020 marcante para a companhia, que começou o seu plano de venda de ativos no período em busca de deixar a recuperação judicial, mas também por trazer indicações para o ano de 2021. E as informações, tanto do resultado quanto dos executivos em teleconferência, foram bem recebidas pelos investidores.
Na última segunda-feira (29), a ação OIBR3 fechou com ganhos de 5%, a R$ 1,89, enquanto os papéis PN subiram 6,36%, a R$ 2,51. Na sessão desta terça, os papéis voltam a subir: OIBR3 fechou com alta relativamente modesta, de 1,59%, após chegar a avançar 6,88% na máxima do dia, enquanto OIBR4 teve ganhos de 7,17%, a R$ 2,69, com os papéis acumulando ganhos respectivos de 6,7% e 14% em apenas dois pregões.
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Balanço
Olhando estritamente para o balanço companhia, os dados podem não animar tanto, com os números seguindo as tendências dos últimos resultados com queda na maioria das linhas de receita e indicadores operacionais, conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos.
A companhia apresentou um lucro líquido de R$ 1,798 bilhão no quarto trimestre de 2020, revertendo o prejuízo de R$ 2,281 bilhões visto um ano antes, mas graças a R$ 3,4 bilhões em créditos fiscais devido aos prejuízos. Em 2020, a Oi encerrou o ano com prejuízo líquido consolidado de R$ 10,528 bilhões, piorando a marca negativa de R$ 9,095 bilhões de um ano antes.
A receita líquida de R$ 4,77 bilhões no quarto trimestre de 2020, por sua vez, representa uma baixa de 2,9% em relação a igual período de 2019. O resultado foi impactado pela queda de 5,7% frente igual mesmo trimestre de 2019 no segmento residencial e de 3% no segmento de mobilidade pessoal.
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Porém, houve crescimento de 288,5%, em relação ao último trimestre de 2019, nas receitas de fibra ótica, que atingiram R$ 480 milhões. Esse número é especialmente importante, uma vez que a empresa pretende se tornar o maior provedor de infraestrutura de telecomunicação no país após a conclusão da venda de seus ativos: “Por isso, é importante para Oi expandir a infraestrutura de fibra ótica o mais rápido possível”, avalia a Levante.
A Guide Investimentos também ressalta em relatório que o ponto principal é o fato de que as operações de fibra já superam a queda das outras operações, garantindo uma perspectiva positiva de que a companhia atinja o breakeven (preço de equilíbrio para as suas operações) no curto prazo.
O negócio de fibra da Oi atingiu 9,1 milhões de casas passadas pelo Brasil (casas com infraestrutura de cabeamento para fibra óptica) em 2020, com 2,1 milhões de casas conectadas (clientes que de fato pagam pelo serviço), alta de 212% na comparação com o número de casas conectadas do quarto trimestre de 2019.
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Foco na fibra óptica
Em teleconferência com analistas, realizada na tarde da última segunda (29), a operadora ainda destacou os seus planos de expansão, afirmando que lançará no segundo trimestre o seu serviço de fibra óptica no estado de São Paulo, tanto para clientes residenciais como para empresas.
No estado, a empresa possui 5.200 quilômetros de rede óptica prontos, com planos de alcançar 400 mil domicílios cobertos (com o serviço estando disponível para ser contratado ) em 2021. A estimativa feita pela companhia é de um total de dois milhões de lares cobertos em 2022.
O anúncio da entrada em São Paulo acontece em um momento em que a Oi está em negociações exclusivas com a Globenet e fundos geridos pelo BTG Pactual para vender uma participação de 51% da InfraCo, unidade de fibra óptica que deve atuar como rede neutra – ou seja, prestando serviços para diversas empresas, além da Oi. O acordo de exclusividade vence em 5 de abril, após ser prorrogado pela companhia no início de março. A operação avalia a estrutura de InfraCo em R$ 20 bilhões, criando uma das maiores empresas de infraestrutura de fibra óptica do Brasil, com meta de atingir 32 milhões de casas passadas até 2025.
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Conforme aponta Guilherme Gattas, analista de ações da Mauá Capital, a Oi está se transformando de uma empresa de telecomunicação para uma companhia focada em fibra óptica. “A fibra que está ganhando muita relevância e em 2020 representou 65% dos investimentos da Oi. A operação móvel e a parte de cobre (a tecnologia antiga para voz) tiveram investimento também porque a Oi precisa continuar tocando esses negócios antes da venda, mas eles caíram. O próprio [CEO] Rodrigo Abreu falou no call que ele diminuiu bastante a alocação de capital nesses business, que drenavam o caixa e que eram um grande problema da Oi”, diz.
Ao mencionar que o balanço da Oi endereçou uma preocupação importante de investidores, que era a capacidade de expansão na fibra óptica, Gattas cita o dado apresentado de take up rate, que mostra o percentual de casas conectadas em relação às casas passadas. O percentual subiu de 14,7% em 2019 para 23% em 2020. “É um percentual que mostra que a empresa consegue ativar muitos clientes, em relação ao que investe. E o management disse que quer chegar a um take up rate de 25% em 2021.”
A Oi tem capacidade de manter os investimentos?
Os analistas destacam que o leilão da InfraCo será importante para que a companhia consiga prosseguir com os seus investimentos no segmento. Ainda mais levando em conta que, conforme aponta a Levante, um outro ponto importante do resultado foi o fluxo de caixa operacional, que consiste basicamente em subtrair do Ebitda (métrica para geração de caixa operacional) o valor dos investimentos feitos pela companhia, também conhecido como capex (ou investimentos em capital).
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No quarto trimestre, o fluxo de caixa operacional consolidado de rotina foi negativo em R$ 245 milhões e, nas operações brasileiras, foi negativo em R$ 269 milhões. No acumulado do ano de 2020, o fluxo de caixa consolidado de rotina foi negativo em R$ 1,454 bilhão e, nas operações brasileiras, foi negativo em R$ 1,423 bilhão. No quarto trimestre e no ano todo de 2020, esse resultado negativo ocorreu principalmente em função do elevado investimento no projeto de expansão de fibra ótica, “para garantir a execução de seu plano de transformação”, destacou a companhia. Cerca de 65% do capex foi para o segmento de fibra em 2020, ante 39% em 2019.
“A Oi vem investindo mais do que vem gerando de caixa, o que chama a atenção considerando que a maior parte do dinheiro dos leilões (incluindo R$ 16,5 bilhões da venda dos ativos de telefonia móvel) ainda não entrou na conta da companhia”, avalia a equipe de análise.
Contudo, segundo o analista de ações da Mauá, na teleconferência, a Oi conseguiu demonstrar estratégias viáveis para sustentar a expansão no segmento. “A Oi precisava mostrar, dada posição de caixa disponível, como pretende alcançar o crescimento todo prometido. De fato, mostraram que é possível, tanto porque a posição de caixa hoje dá alguma margem para tocar o business, quanto porque apresentaram estratégias de financiamento possíveis”, diz.
Dentre as opções para financiamento da expansão da fibra óptica, estão a emissão de debêntures (como as realizadas em fevereiro deste ano e no fim de 2020), as próprias receitas geradas pelos serviços de fibra óptica e os recursos provenientes do leilão – como o de data center e torres, e o potencial adiantamento de recursos da rede móvel, enquanto as autorizações regulatórias não forem aprovadas (veja mais sobre os leilões).
Gattas destaca que, além de mostrar as fontes de financiamento, a empresa também justificou que será possível entregar os resultados na fibra óptica porque os custos com a implementação da fibra nos lares vem caindo. Antes, o investimento necessário (capex) era de R$ 1.200 (R$ 300 por casa passada somado aos R$ 900 por domicílio conectado). Agora, caiu para R$ 900 por domicílio, principalmente devido a negociações de longo prazo com fornecedores.
Outra métrica avaliada pelos analistas sobre a Oi tem sido a eficiência de sua equipe, que conseguiu expandir em 15% e 20% o número de casas passadas e o número de conectadas por dia, respectivamente, desde meados de 2019. “Esses dois fatores impactam positivamente a situação atual da Oi devido às suas restrições de liquidez e devem fazer com que a companhia continue apresentando resultados sólidos. Isso também será importante para permitir que a Oi apresente forte geração de caixa, à medida em que alcançar 32 milhões de casas passadas em 2024”, apontam Fred Mendes, Cristian Faria e Gustavo Tiseo, analistas do Bradesco BBI.
Desta forma, os analistas do banco classificaram tanto os resultados da Oi quanto a teleconferência como positivos, pois proporcionaram mais visibilidade sobre o potencial do negócio de fibra e também para a sustentabilidade a médio e longo prazo. A evolução no segmento, para eles, é o principal catalisador para que a ação OIBR3 chegue ao preço-alvo de R$ 3,40, ou um potencial de alta de 79,89% em relação ao fechamento de segunda-feira.
“Além disso, vemos a empresa sendo cada vez mais avaliada com base em seus fundamentos, em vez de ser avaliada como uma ação puramente guiada por eventos específicos”, apontam. Eles também afirmam que o leilão da InfraCo pode ser um gatilho positivo de curto prazo. Os analistas do BBI reforçaram a Oi como top pick (ação preferida) entre as companhias de telecomunicações na América Latina, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os papéis.
Pontos de atenção
Em seu relatório, a Levante também chama atenção para o aumento da concorrência no segmento. “Acreditamos que o setor vive uma corrida pela fibra, com competidores como a Vivo (VIVT3) fechando uma parceria com um fundo canadense para criação de outra rede neutra no país e a TIM Brasil (TIMS3) tentando formar uma parceria para acelerar a expansão de sua rede privada de fibra óptica. Com múltiplos de valuation maiores que os das próprias operadoras, o mercado de fibra óptica parece ser a grande fonte de crescimento para o setor nos próximos anos. Além disso, a ampliação deste tipo de infraestrutura é inevitável para uma adoção em larga escala do 5G no país”, avalia a equipe de análise.
Assim, as movimentações neste mercado serão acompanhadas de perto pelos investidores, principalmente os de Oi, uma vez que esse será cada vez mais o foco da companhia, passando agora a atuar numa região dominada pela Vivo, a paulista. A Vivo tem 47% de todos os acessos de banda larga com fibra óptica no estado, enquanto a TIM aparece em segundo lugar, com 6%, seguida de Americanet (5%) e Claro (4,3%). Em escala nacional, os números da Oi no segmento são promissores, com a companhia tendo conquistado 1,4 milhão de novos clientes em 2020, ante 899 mil da Vivo em igual período.
Além do segmento de fibra óptica, mais pontos de atenção. Em relatório assinado pelo analista Luís Sales, a Guide Investimentos diz esperar que, no lado da telefonia móvel, o processo de venda das suas operações caminhe para uma finalização até o final deste ano.
“Essa operação será de suma importância para equalizar as dívidas da companhia e possibilitar a saída do processo de recuperação judicial”, afirma Sales. Durante a teleconferência, executivos da Oi afirmaram que pretendem encerrar seu processo de recuperação judicial no quarto trimestre deste ano.
Em reportagem anteriormente publicada pelo InfoMoney, analistas afirmam que é pouco provável que o Cade, o órgão antitruste brasileiro, barre definitivamente a venda da Oi móvel, mas impedimentos que atrasem o processo podem agravar a situação financeira da empresa, que tem dívidas agressivas. Outro risco ainda, também considerado baixo, seria uma reviravolta no leilão da InfraCo, com o BTG desistindo da oferta, sem o aparecimento novos interessados no pior cenário. Mas qualquer atraso também nessa licitação pode gerar volatilidade para as ações.
Conforme explicam os analistas, enquanto os leilões não forem 100% concluídos, a incerteza seguirá rondando os papéis.
Porém, aponta Sales, mesmo no pior cenário, em que a venda das operações móveis não aconteça, a empresa deve caminhar para o breakeven de suas operações e começar a apresentar geração de caixa operacional positiva a partir de 2022. A operação de fibra tem expectativa de crescimento de 50% na receita para o ano, com perspectiva de adição de mais 1 milhão de clientes.
“Portanto, acreditamos que nesse momento as ações da Oi se encontram em patamares de preços interessantes, configurando-se como um investimento que possui ótima relação de risco-retorno”, diz o analista da Guide, que recomenda compra da ação OIBR3, com preço-alvo de R$ 3,00 até o final de 2021 (ou potencial de alta de 58,73% frente o fechamento de segunda-feira).
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