Oi dispara mais de 50% com fim da recuperação judicial, mas por que analistas não estão otimistas?

Empresa continua endividada e focada em um negócio de alta concorrência

Mitchel Diniz

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A sentença que decretou o fim da recuperação judicial da Oi (OIBR3;OIBR4) deixou os acionistas eufóricos por diversos motivos. As ações vão poder ser acessadas por fundos de investimentos que antes não podiam montar posição na empresa, o que tende a diminuir a volatilidade dos papéis. Hoje, a maioria dessas ações, negociadas na casa dos centavos, está em poder do investidor pessoa física.

Outra vantagem é que as ações têm chances de fazer parte de índices, sendo elegível até mesmo a integrar o Ibovespa após o grupamento que 10 para 1 deve ocorrer já no início de 2023. A vantagem disso é que os papéis vão poder fazer parte de fundos que replicam esses índices.

Com isso, na sessão pós-decisão, nesta quinta-feira (15), os papéis abriram em disparada, que se manteve durante boa parte do dia. Cabe destacar o baixo valor de face dos ativos, que leva a uma mudança percentual grande com qualquer mudança de centavos no papel. A ação OIBR3, mais líquida, chegou a subir até os R$ 0,27 no dia, ou avanço de 59%, mas reduziu ganhos, fechando em alta de 29,41% (a R$,022). Já os ativos OIBR4, de menor liquidez, subiram até R$ 0,87, ou salto de 98%; no fim do pregão, os papéis subiram 52,27%, a R$ 0,67.

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Apesar da longa espera, analistas e gestores ouvidos pelo InfoMoney elogiaram a capacidade da Oi em sair de recuperação judicial (RJ), o que poucas empresas no Brasil conseguem fazer. No entanto, chamam atenção para o fato de que a situação financeira da companhia continua difícil, com uma dívida de aproximadamente R$ 22 bilhões, e fichas apostadas num negócio altamente disputado pela concorrência: os serviços de banda larga e fibra óptica.

O cenário macroeconômico também joga contra a Oi. “A saída da recuperação da judicial permite que a companhia faça dívidas com custo mais baixo, o que não significa que ela vá conseguir. Além do alto endividamento, há um cenário de juros elevados”, observa Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research.

A Selic a 13,75% encarece não só novos empréstimos tomados pela companhia como também eleva o valor da dívida que a Oi tem atualmente. A empresa tem hoje o desafio de conciliar esses passivos com investimentos na expansão de seu negócio de fibra óptica.

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“Na minha visão a saída da recuperação judicial não é um passe de mágica para alterar os fundamentos. A empresa vem entregando evoluções operacionais importantes, mas também tem desafios significativos pela frente no front financeiro”, afirma o analista Ricardo Schweitzer, especialista em investimentos.

Ele acredita que, após a conclusão da RJ, haverá mais gente olhando para o papel, porém a tese da empresa “segue longe do consensual”.

Igor Guedes, analista do setor de telecomunicações da Genial Investimentos, diz esperar um período de dificuldades para a Oi em 2023, com um resultado financeiro “muito negativo”. Ele acredita que o turnaround da empresa deve ser prejudicado por grandes chances de uma deterioração da situação fiscal no Brasil e vê perspectiva para juros ainda maiores.

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Além disso, Guedes avalia que as novas estratégias de negócio da companhia ainda são pouco relevantes em suas receitas. “Do outro lado, os custos não parecem arrefecer da maneira como esperávamos”, afirma.

Negócio de fibra óptica enfrenta alta concorrência

Com a venda da Oi Móvel para as ex-concorrentes TIM (TIMS3), Vivo (VIVT3) e Claro, e de torres de telefonia fixa para a Highline, o principal ativo da companhia hoje é uma participação minoritária na V.tal (ex-InfraCo). Fundos do BTG Pactual adquiriram o controle da empresa de fibra óptica este ano.

“A venda do controle pela Oi para os fundos do BTG não nos pareceu ruim, uma vez que não víamos possibilidade da empresa investir em capex e o negócio de rede neutra necessita de capital intensivo”, afirmou Guedes.

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A queima de caixa da Oi foi o que fez a Logos Capital zerar sua posição na Oi no primeiro semestre de 2021. A gestora chegou a alcançar participação de 8% no capital social da companhia um ano antes, quando os papéis despencaram em meio a uma queda generalizada de ativos, provocada pela pandemia da Covid-19.

“Se a estratégia de expansão da Oi fosse bem executada, traria muito valor para empresa. Tínhamos um preço-alvo para ação de R$ 2 a R$ 2,50. Mas percebemos que a empresa iria queimar muito mais caixa do que prevíamos e isso assustou”, afirma Luiz Guerra, sócio da Logos.

Segundo ele, a Oi compete tanto com as empresas incumbentes do setor quanto as regionais da expansão da fibra óptica. Unifique (FIQE3), Desktop (DESK3) e Brisanet (BRIT3) são exemplos de companhias que se capitalizaram na B3, nos últimos anos, com esse intuito. Na avaliação de Guerra, estas empresas estão muito baratas hoje na Bolsa, o que também tira a atratividade da Oi.

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Por outro lado, ele acredita que a V.tal tende a ser uma consolidadora do setor e que a empresa vai valer mais ao longo do tempo, o que é bom para a Oi. “O setor ainda tem muito apelo”, disse ele.

“O IPO da V.tal pode eventualmente sair, mas acreditamos que não será no curto prazo. Vemos ainda a V.tal necessitando mais capex para passagem de casas, crescer mais a rede para se tornar mais madura e desenvolvida, além de um cenário macro brasileiro que teria que ajudar na sua precificação, o que não parece que irá ocorrer em 2023″, acrescenta Igor Guedes, da Genial.

O que esperar das ações?

Guedes ainda vê um viés negativo para os papéis da Oi, mesmo com a conclusão de sua recuperação judicial.

“Apesar de acumular uma queda forte, ainda entendemos que há espaço para novas quedas, principalmente se todas as dificuldades financeiras e operacionais se mantiverem, causando novos prejuízos e aumentando sua dívida total”, afirma.

Ainda que essa pendência esteja aparentemente resolvida (cabe recurso à decisão do juiz), Guerra, da Logos, diz que a Oi continua sendo uma empresa que dá dor de cabeça. “Podemos voltar a olhar sim para o papel, pois o time de gestão da companhia é muito bom. Mas hoje estamos mais entusiasmados com a TIM, que é uma empresa que não tem alavancagem e gera caixa”, afirma.

“Acreditamos que há sim uma possibilidade de atrair investimentos, porém, essa possibilidade ainda nos parece pouco provável. Para o investidor institucional a empresa representa um risco muito grande”, diz Guedes, da Genial.

“A companhia terá que continuar um projeto de austeridade severo e ser muito disciplinada agora para atrair mais investimentos no médio prazo  – algo como 2 a 3 anos”, acrescenta.

Em entrevista ao Stock Pickers do InfoMoney, André Jakurski, sócio e diretor da JGP, lembra que a lei de recuperação judicial dá prioridade ao credor em detrimento do acionista.

“Hoje em dia, quando se faz uma RJ, os credores podem apresentar um plano de reestruturação. Eu acho que no caso da Oi, se isso acontecer, os acionistas vão virar zero. Os credores é que vão assumir a companhia”, alerta.

A JGP também foi uma gestora que zerou sua participação na Oi após projeções de alto endividamento da companhia.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados