Opep+: Por que o forte corte de produção da Arábia Saudita contribuiu pouco para impulsionar os preços do petróleo

Arábia Saudita fará um corte adicional de 1 milhão de barris por dia, mas anúncio foi ofuscado por preocupações com a demanda

Felipe Moreira

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No último domingo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) fechou um acordo para estender os cortes de produção até 2024 e dar aos Emirados Árabes Unidos uma cota maior no próximo ano, de acordo com um comunicado do grupo.

No entanto, Arábia Saudita, maior exportadora da commodity, fará um corte voluntário adicional de 1 milhão de barris de petróleo por dia, como parte de um acordo fechado pelo cartel.

O mercado de petróleo reagiu à notícia com alta na véspera, chegando a subir mais de 3% no intraday, mas depois amenizou os ganhos. O contrato futuro do brent para agosto fechou com avanço de apenas 0,76%, a US$ 76,71 o barril, após ter chegado a saltar 3,4% na máxima da sessão.

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Nesta terça, por volta das 7h40 (horário de Brasília), o mesmo contrato caía 1,68%, a US$ 75,42, com temores de desaceleração global ofuscando o corte de produção, corroborando a visão de analistas de que o corte de produção da Arábia Saudita poderia dar certo suporte para o mercado de petróleo, mas no curto prazo, com outros fatores impactando os preços.

Na sessão desta terça, o mercado repercute o noticiário apontando preocupações de recessão após os dados do PMI de serviços nos EUA.

O crescimento do setor de serviços dos Estados Unidos perdeu força em maio com a desaceleração de novos pedidos, levando uma medida dos preços pagos pelas empresas por insumos a uma mínima de três anos, o que pode ajudar o Federal Reserve na luta contra a inflação.

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O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) disse nesta segunda-feira que seu PMI não manufatureiro caiu para 50,3 no mês passado, de 51,9 em abril. Leitura acima de 50 indica crescimento no setor de serviços, que responde por mais de dois terços da economia. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI não manufatureiro subiria para 52,2.

“O mercado continua focado no risco de demanda com preocupações de recessão após os dados dos EUA. O PMI de serviços dá espaço para uma pausa no avanço da taxa de juros pelo Fed”, disse Ole Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank.

Os agentes do mercado estão esperando para ver se o Federal Reserve aumentará ou manterá as taxas de juros em junho. Taxas de juros mais altas podem reduzir a demanda por petróleo.

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O temor de enfraquecimento da economia ficou ainda mais abalado por dados que mostraram que as encomendas industriais alemãs caíram inesperadamente em abril.

“Se os próximos dados econômicos sugerirem pressão inflacionária arraigada e os investidores apostarem em novos aumentos nas taxas de juros, as previsões de demanda poderão ser revisadas para baixo, neutralizando efetivamente o impacto ostensivamente otimista da última decisão de produção (Opep+)”, disse Tamas Varga, da corretora PVM.

Impacto de curto prazo já era esperado

Logo após o anúncio das decisões da Opep+, o Morgan Stanley apontou que o anúncio do corte na produção da Arábia Saudita para julho, poderia apoiar os preços do petróleo a curto prazo. “No entanto, se a Arábia Saudita reduzir a produção para 9 milhões de barris por dia, isso deixaria espaço significativo para o fornecimento de petróleo aumentar quando o mercado se ajustar novamente”, avaliaram os analistas do banco.

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No final das contas, conforme o Morgan Stanley, a perspectiva de médio prazo para os balanços entre oferta e demanda parece não ter mudado muito como resultado desses anúncios. A cota de produção agregada totaliza 40,46 milhões de barris por dia para 2024. Como mencionado, isso não inclui cortes voluntários adicionais, portanto, levando em consideração os compromissos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos para 2024, isso indica uma produção de 40,46 – 0,5 – 0,144 = 39,8 milhões de barris por dia para 2024.

O Credit Suisse comentou, que para vários produtores africanos e para a Rússia, o novo acordo simplesmente alinha suas cotas com a produção atual, ou seja, sem reduções extras. Além disso, os Emirados Árabes Unidos podem até aumentar a produção. “Portanto, parece que a Arábia Saudita está fazendo o trabalho pesado sozinha”, diz o relatório.

De qualquer forma, segundo analistas do banco suíço, as últimas iniciativas devem garantir uma dinâmica de estoque mais favorável no verão (agora provavelmente implicando em estoques maiores do que os sazonais – se os cortes forem estendidos além de julho), o que pode elevar os preços modestamente a partir daqui.

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Nesse contexto, o Credit afirmou que a “ação mais recente da Opep+ é mais um reconhecimento de um mercado físico mais fraco do que o esperado e a desaceleração da atividade industrial não é um bom presságio”. Analistas pontuam que poderemos ver o retorno das vendas dos contratos futuros caso o cenário macro permaneça fraco ou enfraqueça ainda mais – semelhante ao que aconteceu depois do corte surpresa da Opep em abril.

Olhando para o futuro, para que o mercado tenha uma alta sustentável, o Credit Suisse acredita que precisaríamos ver o ímpeto econômico voltando, o que pode não acontecer até o final do ano ou apenas em 2024.

O Goldman Sachs pontuou duas principais conclusões dessa reunião de domingo. Primeiro, a entrega do primeiro corte na produção pela Arábia Saudita em três meses após um corte anterior, com os estoques comerciais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tão baixos quanto estão hoje, enquanto o amplo acordo sobre níveis e avaliações de bases estão em consonância com a capacidade do grupo de proteger e aproveitar de forma preventiva seu poder de fixação de preços excepcionalmente alto (dado o subinvestimento fora da Opep).

Em segundo lugar, o anúncio compensa parcialmente alguns riscos de baixa para as suas previsões de preço de dezembro de 2023 e abril de 2024 de US$ 95 o barril (bbl) e US$ 100/bbl, respectivamente, incluindo uma oferta superior na Rússia, Irã e Venezuela, e alguns riscos de baixa para a demanda futura da China devido à fraqueza do setor petroquímico global.

Segundo cálculos do Goldman Sachs, esse corte adicional sugere um impulso para o valor do Brent em dezembro de 2023, variando de US$ 1 a US$ 6 por barril, dependendo se o corte dura de 1 a 6 meses (assumindo nenhum sinal negativo de demanda). O impacto imediato no mercado desse corte saudita provavelmente será menor, pois leva tempo para reduzir os estoques, e o mercado provavelmente já atribuía uma probabilidade significativa de um corte na reunião de domingo.

Enquanto isso, o JPMorgan reforçou que o mercado continua focado na demanda (previsão de +1,6 milhão de barris por dia para o ano fiscal de 2023, de acordo com previsões do banco), mas o banco segue com o argumento de que o fornecimento (+2,7 milhões de barris por dia no primeiro trimestre de 2023) é a principal questão. A Arábia Saudita mostra novamente que está disposta a fazer um esforço unilateral adicional para concluir os acordos da Opep+ e equilibrar a oferta e a demanda.

O JPMorgan prevê o barril tipo Brent em US$ 90/bbl no terceiro trimestre e US$ 94/bbl no quarto trimestre, e disse que parecem estar bem fundamentadas com base na oferta e demanda.

Para Bradesco BBI, o anúncio é positivo para os preços do petróleo que estão enfraquecendo com a atividade global mais fraca devido à China. “O corte deve ajudar os preços do Brent a ficarem próximos de US$ 80 a US$ 85/bbl”, projeta o banco.

(com Reuters)