Otimismo cresce na construção, mas retomada ainda vai demorar

Nos próximos meses, os indicadores de atividade setorial ainda estarão refletindo a queda na demanda ocorrida em 2015 e 2016. O início das contratações do PMCMV e a retomada de obras paralisadas poderão atenuar, mas não compensar plenamente essa queda.

Equipe InfoMoney

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Ana Maria Castelo, pesquisadora do Ibre/FGB

Depois de alguns meses de expectativa, o governo anunciou a ampliação das metas do Programa Minha Casa Vida e a revisão de alguns parâmetros – como valor dos imóveis, renda máxima dos beneficiários e taxa de juros. Além disso, no mercado de média renda, os empréstimos com recursos da poupança foram favorecidos com a elevação do valor limite dos imóveis financiados.

O conjunto de medidas deverá repercutir favoravelmente na atividade, mas não imediatamente. A sondagem da construção realizada pela FGV/IBRE em fevereiro com as empresas da construção de todo o país mostrou que a confiança empresarial registrou pequeno recuo em relação ao mês de janeiro.

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O resultado pode até parecer inesperado, considerando as medidas anunciadas, mas a decomposição do Índice de Confiança mostrou que o índice que capta a percepção sobre a atividade corrente (ISA) registrou piora, enquanto as expectativas (IE) melhoraram de forma bastante expressiva, respondendo positivamente a melhoria do cenário macroeconômico e setorial.

Os indicadores de 2016 permitem entender bem o que acontece com o ISA. A construção encerrou o ano com uma queda no PIB estimada em 5,3%. As empresas fecharam mais de 400 mil postos de trabalho e no último trimestre, a PNAD contínua mostrou que até o mercado informal sofreu com a queda na realização de reformas e obras de manutenção nas residências.

A enorme crise fiscal afetou severamente o investimento público em todos os níveis e como consequência a infraestrutura do país desceu mais um degrau ao registrar investimentos abaixo do patamar mínimo necessário para recompor a depreciação do baixo estoque já existente. No mercado imobiliário, as vendas continuaram a decrescer, refletindo a deterioração da renda e do mercado de trabalho, assim como a piora das condições de crédito.

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Assim a atividade seguiu em declínio deixando um legado negativo para 2017. A sondagem da FGV indica que a percepção em relação ao ambiente de negócios corrente chegou ao fundo do poço em maio, melhorou desde então, mas tem permanecido relativamente estável, em um patamar muito baixo, desde o último trimestre de 2016. A carteira de contratos também está em patamar considerado abaixo do normal pelas empresas.

Vale notar ainda que a construção é o setor com o mais baixo indicador de confiança empresarial e ainda há um maior número de empresas assinalando intenção de demitir do que de contratar nos próximos meses.

Por outro lado, tem havido uma progressiva melhora das expectativas, especialmente em relação à demanda prevista para os próximos meses. O segmento de Edificações está entre os que registraram a maior alta de expectativa em relação à demanda.

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Mas nos próximos meses, os indicadores de atividade setorial ainda estarão refletindo a queda na demanda ocorrida em 2015 e 2016. O início das contratações do PMCMV e a retomada de obras paralisadas poderão atenuar, mas não compensar plenamente essa queda.