Para analistas, tendência de empresas abrindo capital de controladas “veio para ficar”

Comum no exterior, companhias brasileiras começam a descobrir benefícios de segregar operações tanto para si como para investidor

Anderson Figo

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SÃO PAULO – Empresas controladoras abrindo capital de controladas é uma tendência para os próximos anos, de acordo com analistas de mercado. Principalmente em época de retomada de crescimento após um cenário econômico adverso, abrir o capital de uma empresa controlada pode ser uma boa opção às chamadas parent companies, que, através da capitalização, conseguem manter um fluxo de caixa confortável em meio ao período de cautela.

“Como tem alta liquidez no mercado, você tem capital de sobra, isso se torna uma opção interessante para captar recursos para as empresas”, contextualiza Roberto Gonzalez, professor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios. Ele reforça que a prática de segregação das operações das empresas, embora bastante frequente no exterior, está só agora chegando ao Brasil, mas “que veio para ficar”. 

Na visão do analista William Castro Alves, da XP Investimentos, as atuais condições de mercado também contribuem para o maior número de lançamentos de empresas em bolsa, estimulando as companhias. “É uma tendência nova, simplesmente uma questão de condições de mercado. Se o mercado apresenta condições favoráveis, com a nossa bolsa subindo, mais pessoas procuram investir em bolsa, e se não estivermos em crise, obviamente que as empresas vão pensar em crescer”, argumentou. 

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Caso Multiplus
Um dos mais recentes exemplos de controladoras abrindo o capital de empresas controladas, a operação da TAM com a Multiplus foi bem recebida pelo mercado, que segue otimista com relação ao desempenho da controlada. Recentemente, o BTG Pactual iniciou sua cobertura sobre a Multiplus (MPLU3) de maneira bastante positiva. “Um negócio que tem demonstrado crescimento consistente, com fundamento sólidos nos últimos anos”. Esta é a descrição do banco nas palavras do analista Rodrigo Goes. “Modelo de negócio sólido, propício à forte geração de fluxo de caixa”, completou. 

Próximos IPOs
Apesar de ver a tendência para os próximos anos, os analistas revelam poucas apostas para os próximos IPOs de empresas controladas. O professor Roberto Gonzalez, contudo, se arrisca em dizer que o Santander pode vir a criar uma nova empresa para cuidar do setor de cartões, após a determinação federal que colocou fim aos contratos de exclusividade entre as operadoras de cartões de crédito e débito com as respectivas bandeiras (Visa e Martercard).

Em geral, o consenso é de que as próximas confirmações de abertura de capital surgirão pela CSN (CSNA3), através de sua subsidiária Casa de Pedra, e pela Usiminas, com ativos de minério. Ademais, as perspectivas também se voltam à novidades do setor financeiro, visto que o mercado brasileiro possui bons exemplos neste segmento, como Itaú Unibanco (ITUB4) e Itaúsa (ITSA4).

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“Recentemente o Banco Panamericano (BPNM4) foi questionado se ele está entrando no mercado adquirente, ele diz que sim, em conjunto com outro banco e com uma companhia aérea. De repente ficam três empresas acionistas de uma companhia adquirente e abrem o capital dessa empresa”, disse Gonzalez. “Tem dinheiro no mercado. Tendo dinheiro no mercado eu acho que é natural que as empresas queiram aproveitar essa oportunidade e captar recursos”, concluiu.

Partes relacionadas
Para Gonzalez, o aspecto mais importante que precisa ser levado em consideração antes de aplicar capital em empresas controladas é a relação das operações que envolvem as duas empresas. O professor destaca que, mesmo fazendo parte de ramos iguais de operações ou não, ambas as companhias devem possuir direções diferentes, reduzindo os riscos aos acionistas da empresa controladora ser beneficiada de alguma maneira na tomada de decisões.

“O acionista da empresa que acabou de entrar no mercado pode não ter ações da controladora, mas ele quer ter garantias de que vai ter rentabilidade e que a relação entre as duas companhias será em práticas de mercado, sem nenhum prejuízo à empresa controlada para poder ter benefícios enquanto acionista. Então partes relacionadas têm que ser uma coisa muito aberta, bastante explicativa”, destacou Gonzalez.

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Divisão de segmentos
Para a analista-chefe da Spinelli Corretora, Kelly Trentin, o mais importante deste processo é que o mercado passa a avaliar cada segmento da empresa individualmente. A analista defende que o acionista não avalia do mesmo modo as duas estruturas juntas. “A ideia é tentar valorizar um ativo que você tem dentro da sua estrutura completa”, completou.

“A leitura que se faz é que abrindo o capital de uma empresa subsidiária, o mercado passa a precificar aquele negócio em separado, então ele avalia melhor os ativos que tem ali. Se você juntar as duas partes, ela acaba tendo uma soma maior do que se você tivesse uma parte só e aquela que está sendo separada embaixo dela”, argumentou Kelly.

O sócio-responsável pela abertura de capitais da Ernest & Young, Paulo Sérgio Dortas, avalia que a divisão dos segmentos de uma mesma empresa através da abertura de capital de pequenas ou médias subsidiárias só traz benefícios. “Por exemplo, em mineração você pode ter a parte de industrialização, extração e logística. Então as empresas começam a perceber que faz sentido entender um pouco mais o negócio, identificando o segmento mais gerador de caixa e podendo abrir o capital dele como outra empresa”, disse.

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