Para Nobel de economia, um fator está impedindo crash como de 1929 – mas nem ele sabe direito explicar o que é

 "Não é apenas uma questão de taxas de juros baixas, é algo sobre a atmosfera americana", afirmou Robert Shiller à CNBC

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Conhecido por ter previsto a bolha imobiliária e ganhador do prêmio Nobel de economia de 2013, o economista Robert Shiller faz um alerta sobre o mercado acionário norte-americano, apontando que os valuations estão bastante esticados. Em entrevista ao portal americano CNBC nesta semana, Shiller apontou que há muitas similaridades (impressionantes, por assim dizer) do cenário atual ao de 1929, ano em que ocorreu o crash da Bolsa de Valores de Nova York e que desencadeou a mais grave crise econômica da história dos Estados Unidos.

Porém, engana-se quem pensa que Shiller está muito alarmado sobre o atual cenário para a Bolsa. Ao invés de prever uma queda épica para o mercado de ações nos EUA, ele está vendo razões para ser otimista. “O mercado está tão caro quanto esteve em 1929”, disse Shiller ao portal. “Em 1929, do pico até o fundo, houve uma queda de 80%. E o mercado realmente não estava naquela época muito acima do que está agora em termos do meu índice CAPE [a relação preço/lucro corrigido ciclicamente]. Então, há um sinal de atenção quando você se atenta a isso”, aponta ele. 

Porém, o professor de economia da Universidade de Yale reiterou à CNBC que há uma característica vital que protege os investidores de perder suas reservas: a psicologia do mercado. “Não é apenas uma questão de taxas de juros baixas, é algo sobre a atmosfera americana. É em parte a atmosfera de Trump. Os investidores adoram isso. Eu não posso explicar exatamente – talvez tenha algo a ver com possíveis [perspectivas de] cortes nos impostos. Mas eu não acho que é só isso. É algo mais profundo e que está empurrando o mercado americano “, acrescentou.

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Ao contrário de 1929, Shiller observa que não há muitas conversas sobre as pessoas que emprestam montantes exorbitantes de dinheiro para comprar ações. Além disso, ele observa que agora o mercado possui uma maior regulamentação.

Mas isso não quer dizer que Shiller está altista com relação às suas perspectivas para Wall Street. “Eu não quero encorajar demais as pessoas a colocarem muito dinheiro no mercado mais caro do mundo”, disse Shiller, que aponta que o país apresenta o maior índice CAPE entre 26 monitorados por ele. Ao mesmo tempo, ele não descarta que o mercado continue a registrar mais altas durante um longo tempo: se não meses, anos. Sobre isso, o economista ainda traça um paralelo curioso: “eu não chamaria isso de saudável, eu chamaria isso de obeso. Mas sabemos que algumas dessas pessoas obesas vivem 100 anos, então você nunca sabe”, disse Shiller. 

 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.