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SÃO PAULO – “O hedge fund do bilionário Paul Singer tem cerca de trezentos funcionários, mas ele conseguiu levar a Argentina, um país de 41 milhões de pessoas, em uma posição bastante humilhante”. É com essa frase que o portal americano CNBC inicia uma reportagem em que destaca o perfil do excêntrico bilionário que levou os “hermanos” a terem que decretar a segunda moratória em doze anos.
Paul Singer, de 69 anos, mostrou como fundos de hedge endinheirados podem exercer influências nas dívidas soberanas do país, em caso parecido com a aposta bem-sucedida de George Soros contra a libra em 1992. Nos últimos treze anos, a gestora do bilionário, a Elliot Management, acumulou títulos soberanos do governo argentino e se tornou um de seus principais credores, com US$ 1,5 bilhão a receber.
Gestoras como a de Singer estiveram no centro da polêmica entre o governo e os credores, uma vez ela é uma dos conhecidos “fundos abutres”, investindo em papéis de empresas e de governo que estão à beira do colapso, com a Elliot sendo considerada uma das maiores.
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Singer nasceu em 22 de agosto de 1944 e crescer em Nova Jersey, EUA. O bilionário se formou em psicologia pela Universidade de Rochester, mas seguiu carreira como advogado em Wall Street depois de se formar em direito pela Universaidade de Harvard.
Em 1977, com o intuito de investir o patrimônio da família, de US$ 1,3 milhão, criou a Elliot Management, que acabou se tornando a Elliott Associates and Elliott International Limited, com uma gestão total de ativos de US$ 24 bilhões.
Singer, desde o seu início como investidor, foca em ativos problemáticos, comprando dívidas de empresas à beira da falência e está envolvido em alguns dos maiores casos de reestruturação, como da Chrysler. Porém, conforme ressaltou um perfil do investidor elaborado pela CNN, as perdas sofridas no início da carreira aumentou a aversão ao risco, que ainda o influencia na tomada de decisões. Por exemplo, ele não se alavanca em seus investimentos.
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Peru e Congo também foram alvos de Singer
O começo de Singer em seus investimentos em dívida soberana foi em 1996, quando o fundo comprou US$ 11 milhões em dívidas do Peru. Em 1998 um tribunal dos EUA decidiu que não poderia comprar a dívida com o único propósito de processar o devedor. A decisão foi revogada em 2000 e ganhou por volta US$ 58 milhões.
Depois do Peru, veio a República Democrática do Congo. Ele comprou US$ 10 milhões em títulos do país e recebeu US$ 127 milhões de volta.
Agora, com a vitória que o fundo abutre impôs à Argentina ao recusar a troca de dívida e e levar o país à justiça, alguns especialistas do mercado de dívida dizem que a batalha já pode ter mudado o equilíbrio de poder em direção a credores nos mercados de dívida, segundo relata a CNBC. Países em crise agora podem ter mais dificuldade para obter alívio dos credores após o calote em sua dívida, eles afirmam.
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Arquivos legais indicam que o valor de face dos títulos do governo argentino detidos por Singer eram de US$ 170 milhões, mas a empresa provavelmente adquiriu muitos deles por muito menos do que isso. Elliott e outros investidores estão agora em busca de um retorno total de US$ 1,5 bilhão, que inclui anos de juros não pagos.
Ainda assim, aponta a CNBC, há também algo a se dizer sobre a batalha que revela a visão de mundo de Singer. Um doador republicano com tendências libertárias, ele se manifestou quando ele pensa que os governos e as empresas têm prejudicado os direitos dos credores.
“Ele não entrar em brigas por causa da luta. Ele acredita profundamente no Estado de direito e que os mercados livres e sociedades livres possam aplicá-los”, destacou um gestor de fundos de hedge, Daniel S. Loeb.
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Disputa remonta a 2001
E as origens da disputa na Argentina retomam a 2001, quanto os hermanos, oprimidos pela carga da dívida soberana, decidiu declarar o primeiro default. Posteriormente, o país ofereceu para trocar os títulos por outros que valiam menos. A maioria dos credores aceitou a troca, mas alguns decidiram lutar contra o governo para que ocorresse o reembolso integral, incluindo a unidade da Elliot chamada NML Capital.
Segundo a CNBC, não está claro se o fundo de Singer espera que a Argentina o pague agora, após ter conseguido receber de Peru e Congo em situações semelhantes. Os que apoiam Elliott destacam que as apostas em títulos de países à beira de um default compõem apenas uma pequena parte da carteira e acrescentam que a empresa não processa países que são claramente incapazes de pagar as suas dívidas. A Argentina, segundo eles, tem recursos para pagá-los.
Singer, no entanto, acha que há razões mais nobres para proteger os direitos dos credores. Em particular, ele argumentou, isso irá ajudar a reforçar a economia de um país. “Imagine o quanto de capital um país como a Argentina pode atrair”, escreveu em um artigo de 2005 em conjunto com Jay Newman, outro funcionário da Elliott.