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SÃO PAULO – Desta vez, Personagens do Mercado vai atrás de um longo objeto de estudos dos agentes: a administração dos riscos. A partir desta premissa, a história aponta para o nome de Alfred Winslow Jones, tido como o pai dos hedge funds.
Com raízes na sociologia, pode-se dizer que Winslow caiu de paraquedas no mundo dos investimentos. Por outro lado, apenas suas origens o separam da rotina dos mercados. Por mais que seus passos não tivessem esta pretensão, acabaram por colocá-lo entre as figuras fundamentais para a atual estrutura dos mercados financeiros.
Vida, liberdade e propriedade
Nascido na Austrália, em 1900, foi morar nos Estados Unidos logo aos quatro anos. Com 23 anos, recebeu seu diploma de Harvard, com estudos na área de sociologia. Depois de trabalhar como tesoureiro de um navio mercante, passou a integrar o Serviço de Diplomacia dos Estados Unidos, se tornando vice-cônsul norte-americano em Berlin na época da ascensão de Hitler e da Grande Depressão dos Estados Unidos.
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Em 1941, já de volta aos Estados Unidos, recebeu o doutorado em sociologia pela Universidade de Columbia. Sua tese, “Life, Liberty and Property” tratava das atitudes tomadas no ambiente de uma firma de Akron, no estado de Ohio. A revista Fortune se interessou, publicando diversos trechos do trabalho.
Com o passar do tempo, Winslow se juntou ao editorial da Fortune, tendo contato mais direto com a rotina dos mercados. Ao escrever o artigo “Fashions in Forecasting”, pensou mais a fundo sobre análise técnica de ações, formulando suas primeiras ideias para o que viria a ser seu fundo.
Travas
Através da A.W. Jones and Co., sua companhia de investimentos, Winslow buscava encontrar uma maneira de eliminar os riscos de mercado com a utilização de operações travadas. A ideia inicial era comprar algumas ações alavancado e vender outras a descoberto.
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Suas compras e vendas tinham de envolver o mesmo montante no total. Analisadas separadamente, as duas operações podem ser consideradas arriscadas e de caráter altamente especulativo. Combinadas, no entanto, resultariam em um portfólio conservador, pois mitigaria o risco de mercado.
Além de prevenir eventuais perdas, a estratégia, quando certeira em relação à tendência, permitia que o fundo de Winslow ganhasse nas duas pontas, seja pela valorização das ações compradas, porque já as detinha, seja pela queda dos papéis vendidos a descoberto, pois poderia adquiri-los por valor inferior.
Hedge fund, pela primeira vez
O fato é que a alta rentabilidade das operações de Wislow passou a chamar atenção. Ainda assim, o termo “hedge fund”, propriamente dito, só iria aparecer 17 anos depois, em uma matéria da Fortune sobre o assunto. “Há razões para acreditar que o melhor gestor de investimentos dos dias atuais é um senhor quieto e quase nunca fotografado que se chama Alfred Winslow Jones”.
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O fato é que, em uma base de cinco anos, a A.W. Jones havia performado a rentabilidade média obtida pelos fundos mútuos em cerca de 44%. Os números e a chamada da Fortuna renderam popularidade à estratégia e pontuaram o surgimento da indústria de hedge funds. Quase três anos depois da publicação, eram contabilizados cerca de 140 hedge funds no mercado norte-americano.
A década de 1970, no entanto, freou o ímpeto dos hedge funds, principalmente por ser um período extremamente negativo para as commodities, por conta sobretudo do choque do petróleo. Posteriormente, nomes como o Quantum Fund de George Soros e o LTCM – Long Term Capital Management -, dos Nobeis Myron Scholes e Robert Merton foram popularizados.
Winslow ou Keynes?
Mesmo não aparecendo nos manuais como o pioneiro do que hoje é considerada a bilionária indústria dos hedge funds, o pai da teoria macroeconômica John Maynard Keynes não pode ser desassociado desta história. Por trás de seu legado como economista, Keynes se revelava um investidor de ótimos resultados.
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Uma matéria de 2007 do The New York Times trata Keynes como “day trader”, relacionando suas atividades ao surgimento do que depois viria a ser chamado de hedge. De um período entre 1928 e 1945, Keynes obteve um rendimento médio de 13,2% em suas aplicações, contra um período de relativa estabilidade da bolsa britânica (+0,5%).
O segredo estava em estratégias combinadas. Além das posições em ações, Keynes mantinha posições correlacionadas em títulos públicos, moedas e commodities, sempre utilizando sua percepção superior a respeito dos fenômenos macroeconômicos. Recorrendo aos princípios de risco específico (diversificável ou idiossincrático) e risco sistêmico (não-diversificável ou de mercado), a ideia básica era que todos os investimentos estavam sujeitos a mudanças no ambiente econômico.
Proteção
O livro “Hedge fund investment management”, de Izzy Nelken, cita que, em 1930, Keynes explicou que “mesmo se a oferta e a demanda estão equilibradas, os preços à vista devem exceder os preços futuros pelo tanto que os produtores [de commodities] estão dispostos a sacrificar para se protegerem, a fim de evitar o risco de flutuações de preços durante seu período produtivo”.
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Em resumo, na tentativa de atrair os especuladores a assumir o risco destas flutuações, os produtores tenderiam a vender sua produção para entrega futura com um desconto em relação à expectativa para os preços à vista no futuro, explica a obra de Nelken.