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Um case ainda binário, uma grande oportunidade de compra ou uma ação que, ponderando os riscos, vale a pena estar posicionado? Passados alguns dias do resultado do primeiro turno que impulsionou as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) com o saldo de um Congresso mais conservador e uma disputa mais apertada entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) para o segundo turno, analistas divergem sobre a tese na petroleira estatal.
No acumulado da semana, os ativos da petroleira acumulam ganhos de cerca de 10%. Além da alta do petróleo, a valorização ocorre em meio à visão de que um eventual governo do PT com um Congresso mais conservador teria menor poder de interferência na companhia, em meio ao histórico das últimas gestões do partido de ingerências na estatal. Durante a campanha no primeiro turno, Lula vinha se posicionando contra a política atual de preços da empresa, que segue a paridade internacional do petróleo, ao mesmo tempo em que defendia mais investimentos em refinarias pela companhia, o que é visto como uma alocação com retornos mais baixos para ela.
Ao mesmo tempo, a própria chance maior de o atual presidente Bolsonaro ganhar acabou por impactar positivamente a precificação dos ativos, uma vez que a visão geral é de medidas mais amigáveis ao mercado (ainda que seu mandato também tenha sido marcado por algumas intervenções na estatal).
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Às vésperas do primeiro turno, no último dia 29 de setembro, o JPMorgan publicou um relatório chamado “Esqueça política, Petrobras está barata de qualquer maneira”, reiterando assim a sua recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para o ativo.
Os analistas destacaram os fluxos de caixa com o o preço do petróleo brent acima de US$ 80 o barril e um potencial de valorização atrativo para a companhia mesmo em um cenário mais intervencionista.
Para avaliar os principais riscos para a Petrobras ao longo das eleições, o banco fez algumas análises de sensibilidade para entender os impactos de uma abordagem mais intervencionista na empresa.
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Para eles, há três questões principais que a empresa pode enfrentar: (a) a política de preços de paridade de importação, que poderia ser revisada, com a estatal vendendo combustíveis com desconto em relação aos preços internacionais; (b) a petroleira poderia aumentar sua participação na importação de combustíveis e vender com desconto nos mercados domésticos; e (c) pior alocação de capital, com capex [investimentos em capital] em projetos que não proporcionam retornos atrativos.
“Descobrimos que a falta de disciplina de capital pode ser o aspecto mais prejudicial para a empresa, sendo que cada US$ 4 bilhões em aumento anual de capex de refino poderia reduzir nosso valor justo em US$ 0,50 por ação, em média”, apontaram.
Contudo, segundo a equipe, a estatal brasileira é forte geradora de caixa. Caso o barril do brent permaneça próximo de US$ 80, a empresa não deve sofrer muito mesmo num cenário mais intervencionista. Para a instituição financeira, a estatal tem um potencial de valorização de 58% até o fim de 2023.
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O Goldman Sachs, em relatório publicado na última quarta-feira (5), destacou que segue com recomendação de compra para os ativos da estatal, com preço-alvo de R$ 34,90 para o papel ordinário (PETR3) e de R$ 31,70 para a preferencial (PETR4).
Ao realizarem uma comparação com o cenário da companhia entre 2011 e 2015, quando houve uma forte intervenção (que é o grande temor para 2023), os analistas Bruno Amorim, Joao Frizo e Guilherme Costa Martins veem a companhia como mais resiliente atualmente.
Para os analistas, independentemente do resultado do pleito, que vem (e pode continuar) gerando volatilidade para as ações da empresa, a companhia enfrenta menos riscos de intervenção governamental do que em 2011, quando ocorreu o último ciclo de forte intervenção. Mas, mesmo que ocorra intervenção, a situação da empresa atualmente deve fazer com que as consequências sejam menos negativas.
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“A principal conclusão é que, de uma perspectiva operacional, o negócio de exploração e produção de petróleo está muito melhor (custos menores, capex menor, geração de caixa mais forte). Assim, uma intervenção similar à do ciclo de 2011-15 na política de precificação de combustíveis poderia levar a um resultado menos negativo”, completam.
Os analistas ressaltam que, durante a maior intervenção entre 2011 e 2015, com um agravamento de alocação de capital ineficiente, o fluxo de caixa da estatal foi para o negativo, enquanto houve alta da alavancagem. Mas, com a “virada” [turnaround] nas operações da companhia entre 2016 e 2021, com a paridade internacional dos preços dos combustíveis, capex mais otimizado e desinvestimentos de ativos não-centrais, além do período mais recente marcado por dividendos altos e queda do endividamento, a companhia está mais forte hoje.
No momento, ela se beneficia de menores capex de exploração e produção (com os investimentos no pré-sal da última década), de custos de produção menores, de margens positivas e de menor capex de refino.
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O Goldman, além de esperar impactos menores, avalia que a própria possibilidade de intervenção caiu em relação ao período anterior levando em conta a consistência na distribuição de altos proventos e a implementação de medidas para moderar os preços dos combustíveis e impulsionar o investimento em energias renováveis.
O banco aponta que o fato de a companhia vir distribuindo valores elevados, somados aos impostos pagos à União (mais altos atualmente devido à maior rentabilidade) reduzem eventuais incentivos para eventuais ingerências.
Assim, a visão para o papel é positiva, ainda que prefira exposição a produtoras independentes de petróleo, como a PetroReconcavo (RECV3).
Indo mais além, a Genial Investimentos elevou a recomendação para os papéis da Petrobras para compra logo após o primeiro turno, avaliando que o resultado dele foi positivo para o case da estatal.
“Essencialmente, a eleição de Deputados Federais e Senadores com orientação ideológica diversa ao atual líder na corrida eleitoral (candidato Lula – PT), deve trazer um contrapeso interessante às eventuais tentativas de alterações de leis ou estatuto da empresa, que por sua vez foram pontos fundamentais para o turnaround da empresa. Além disso, não podemos descartar a reeleição do atual Presidente Jair Bolsonaro (PP), que por sua vez deve manter a orientação estratégica da empresa para os próximos anos – este sim, o grande gatilho de valor de curto prazo para os papéis da empresa”, apontaram os analistas.
A Genial destaca que a companhia negocia a um múltiplo muito descontado em relação aos seus pares internacionais percebidos com alto risco de governança (empresas russas, principalmente), forte geração de caixa (com uma relação de 30% do Fluxo Caixa/Valor de Mercado esperado para 2023) e alto potencial de pagamento de dividendos (16% de rendimento esperado para 2023, ou montante do dividendo sobre o preço da ação, isso sem considerar proventos extraordinários) e, dessa vez, com um cenário menos nebuloso em relação ao cenário base previamente apresentado.
Riscos no radar
Se por um lado alguns analistas seguem com recomendação de compra ou estão ainda mais otimistas com a companhia após o primeiro turno, outros ainda mostram cautela grande com o papel.
Os analistas do BTG Pactual seguem com recomendação neutra para os ativos PETR4, com preço-alvo de R$ 41 (ainda um potencial de alta de 265). Eles destacam que o resultado da eleição agora parece estar em aberto. Para uma estatal como a Petrobras, isso significa uma gama de possibilidades de alocação de capital à frente (e política de preços em menor grau), embora a probabilidade de preservação do status quo tenha aumentado ligeiramente.
Eles questionam se o resultado eleitoral apertado poderia conduzir a uma Petrobras mais “ao centro”. O banco tende a acreditar que isso reduz, sem dúvida, as chances de uma mudança significativa nas macropolíticas brasileiras, o que poderia levar a argumentar que teria efeitos colaterais positivos sobre a Petrobras.
“No entanto, nossa percepção é que as políticas relacionadas às estatais (ou seja, micropolíticas) são um pouco menos dependentes de macropolíticas e até mesmo do apoio do Congresso e mais impulsionadas pelos projetos políticos presidenciais. Em última análise, acreditamos que o valor da Petrobras permanece muito binário”, reforçam os analistas.
O BTG aponta que a principal razão pela qual continua a defender uma postura mais cautelosa sobre a tese é que a ação provavelmente terá desempenhos muito distintos dependendo do resultado da eleição.
“Em outras palavras, o potencial tanto para cima quanto para baixo significativo nos leva a acreditar que o índice Sharpe ‘implícito’ (retorno ajustado ao risco) do Petrobras não é atraente neste momento, principalmente porque acreditamos que o resultado final poderia facilmente eliminar qualquer melhora na percepção de risco do resultado do primeiro turno”, avaliam os analistas.
Na segunda-feira, Paolo di Sora, CIO da RPS Capital, alertou em edição especial do InfoMorning, programa exibido pelo canal do InfoMoney no YouTube, para o fato de que, se eleito, Lula pode, uma vez que terá menor poder legislativo, aumentar o uso dos recursos administrativos, que não dependem do Congresso.
“Se o Lula ganhar, acho que o cenário para as estatais piora no relativo ao anterior [em que havia uma visão de maior apoio do Congresso a ele], porque só terá a Petrobras e o Banco do Brasil BBAS3 para governar ‘mais à esquerda’. A possibilidade dele utilizar essas companhias, uma vez que não vai conseguir usar o Congresso, aumentou”, avalia.
Neste cenário, as recomendações do sell-side para a Petrobras estão divididas. De acordo com compilação da Refinitiv com casas de análises, seis delas possuem recomendação de compra para os ativos PETR4, enquanto quatro possuem recomendação neutra, com um preço-alvo médio de R$ 38,94 para o ativo, ou upside de 19,6% em relação ao fechamento da véspera.
Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, também avaliou a Petrobras em live do InfoMoney e apontou que, a despeito de Lula se sair vencedor, vê assimetria positiva para os ativos e pagamento de proventos robusto até o fim do ano. “Só de dividendos, do terceiro e quarto trimestre, ainda tem muito dividendo para ganhar”, avalia, após o recorde de provento pago no último trimestre. “Se não houver mudança na política, a projeção é de ganhos de 30% no próximo ano. É difícil achar uma empresa no setor de petróleo que paga acima de 10%. Está barata. A assimetria é favorável [para valorização dos ativos]”, complementa.