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Ainda que registrando volatilidade nas negociações intradiárias, tanto o petróleo quanto o minério de ferro têm registrado queda nas últimas sessões em meio à turbulência macroeconômica recente.
Apesar da recuperação registrada nas últimas três sessões, o petróleo brent ainda negocia abaixo dos US$ 80 o barril, após chegar a atingir mínima de 15 meses no início da semana. Na manhã desta quinta-feira, o brent operava na casa dos US$ 76 o barril.
O minério, por sua vez, que vinha de máximas até a semana passada com a continuidade do otimismo para a demanda da China, maior produtora de aço do mundo, chegando a superar assim US$ 130 a tonelada, passou a ter queda nas últimas sessões também por causa do gigante asiático. Nas últimas sessões, as perspectivas de demanda foram temporariamente prejudicadas pela possibilidade de a China reduzir sua produção de aço bruto em cerca de 2,5%, além de medidas do governo para conter o que entende como especulação do mercado em meio à alta recente das cotações.
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Nesse cenário, as ações das commodities são pressionadas, também impactando a Bolsa brasileira, cujo principal índice – Ibovespa – tem grande participação dos ativos dos segmentos. Desta forma, o que esperar para as commodities no curto prazo e para as companhias?
Petróleo: curto prazo pressionado, visão positiva para o longo prazo
Norbert Rücker, Diretor de Economia da Julius Baer, ressalta que o mercado de petróleo não escapou das ondas de aversão ao risco causadas pela turbulência bancária. Os preços do brent caíram para US$ 70 por barril, pressionados pelo clima de risco. Dito isso, avalia, o sentimento de aversão ao risco não foi o único fator culpado.
Os fundamentos do mercado de petróleo em si mostraram piora, exemplificados pela tendência de armazenamento de petróleo acima das normas sazonais. Para o analista, é improvável que a turbulência cause uma recessão global e, com isso, as ondas de aversão ao risco devem passar, permitindo que os preços do petróleo ressurjam (como observado nas últimas sessões).
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“No entanto, as tendências fundamentais em curso parecem robustas, sugerindo preços do petróleo na casa dos US$ 70 em vez dos US$ 80 a longo prazo”, avaliam.
De acordo com Rücker, o sentimento de maior cautela já aparece em mudanças no posicionamento dos investidores no mercado futuro, tendo maior pressão sobre os preços nos últimos dias. ” Dito isso, seria muito simplista apontar principalmente para o sentimento de aversão ao risco recente, ou para os temores de recessão, para explicar a queda de preço”, afirma.
Com a produção em expansão (como o xisto nos EUA) e a demanda declinando, as exportações de petróleo dos EUA aumentam, oferecendo alívio na oferta em todo o mundo. O petróleo russo continua indo para o leste e as cadeias de suprimentos se ajustam e superam os desafios impostos pelos obstáculos às sanções do Ocidente.
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“Com os fundamentos do mercado, em vez da geopolítica ditando os preços, a Rússia e outras nações petrolíferas têm um incentivo para manter o fluxo de receitas do petróleo e do governo. Resta saber até que ponto esses incentivos desalinhados causam rachaduras na coesão política das nações petrolíferas”, avalia.
Ele também aponta que a transição energética prejudica a demanda de petróleo do mundo ocidental, deixando espaço para o crescimento do consumo asiático.
Para Rücker, é improvável que a reabertura da China inviabilize as tendências de maior oferta e menor demanda, mas esse aspecto merece monitoramento. “Vemos os preços do petróleo caminhando para seu equilíbrio de mercado sustentável de longo prazo, que colocamos perto de US$ 70 por barril”, avalia.
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Olhando para o impacto para as ações brasileiras, o JPMorgan fez uma revisão para o setor, destacando também outros pontos além da queda recente do petróleo.
“Em apenas alguns meses de 2023, o cenário para nossa cobertura de petróleo na América Latina mudou significativamente: (a) o Brasil tem um novo governo, com nomeações-chave e já dando o tom do que deve ser o setor durante os próximos quatro anos; (b) o impacto da reabertura da China na mobilidade e na demanda de petróleo apresentou um ritmo mais lento; (c) os preços do petróleo caíram mais de US$ 10 o barril e (d) a visibilidade para os investidores em ações se deteriorou”, avaliam os analistas.
Com isso, os analistas ajustaram as suas estimativas para um cenário mais conservador, abordando riscos mais elevados e incorporando atualizações relevantes. Contudo, o banco seguiu com a sua preferência pelas empresas juniores brasileiras.
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Sobre o mercado global de petróleo, o JPMorgan vê um peso significativo do noticiário recente, à medida que os ventos contrários ao crescimento global se fortalecem e a falência dos bancos regionais SVB e Signature Bank levou a um temor maior sobre a saúde do mercado.
Assim, os riscos de recessão e o ritmo lento de reabertura na China podem continuam a representar uma pressão baixista para este cenário de curto prazo, avaliam.
“Nós agora esperamos que os cortes de produção feita pela Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] sejam acionados apenas com o brent abaixo de US$ 65/bbl e os EUA reforcem sua Reserva Estratégica de Petróleo (conhecida como SPR, na sigla em inglês) somente se os preços do WTI permanecerem abaixo de US$ 70 o barril”, avaliam. Por outro lado, veem a correção de curto prazo como uma oportunidade para as ações de petróleo, com a tese de longo prazo para o “superciclo” intacta.
Olhando o micro, o JP ressalta que nas últimas semanas o Brasil sofreu algumas mudanças que aumentou a percepção de risco no setor, como a implementação de um imposto de exportação de petróleo bruto de 9,2% para os próximos quatro meses, que se tornou um instrumento para financiar as receitas perdidas.
“Na nossa estimativa, se o imposto de exportação permanecer por apenas 4 meses (caso base do JP), o impacto para a indústria não deve ser material”, avalia. Para a Petrobras (PETR4), esse imposto teria um impacto de R$ 2,2 bilhões (cerca de 1% do valor de mercado), enquanto para a PRIO (PRIO3) o impacto seria de R$ 285 milhões (também equivalente a cerca de 1% de seu valor de mercado.
A outra notícia é a do pedido do Ministério de Minas e Energia para a Petrobras no início de março para suspender a venda de ativos que estava em curso. Nesse sentido, a estatal afirmou não ver fundamentos para suspender desinvestimentos cujos contratos já tinham sido assinados. De qualquer forma, o JP passou a ver um risco maior dentro do setor.
Porém, o banco reiterou as empresas juniores de petróleo e gás do Brasil como suas principais escolhas na América Latina (ordem de preferência é juniores brasileiras, juniores colombianas, Petrobras, Ecopetrol e petroleiras argentinas).
O preço-alvo de 3R Petroleum (RRRP3) foi reduzido de R$ 100 para R$ 80 e o de PRIO foi de R$ 56 para R$ 54, de forma a refletir a visão de preços mais baixos de petróleo (US$ 80 o barril entre 2023 e 2025), maior taxa de desconto e ajustes operacionais. Contudo, a recomendação segue overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para ambos os ativos, com potencial de valorização respectivo de 168% e 70% frente o fechamento da véspera. Para PETR4, o preço-alvo foi reduzido de R$ 37 para R$ 30,50, mantendo recomendação neutra.
Minério: Em queda, mas analistas seguem otimistas com a Vale
Os últimos dias têm sido de queda para o minério, depois de um período de alta com as expectativas pela demanda da China. A quinta-feira da semana passada tinha sido de ganhos para a commodity, que atingiu a casa dos US$ 134 a tonelada (contrato futuro para maio negociado na Bolsa de Dalian).
Contudo, a commodity passou a ter uma sequência de quedas, com as negociações diurnas em Dalian fechando esta quinta a US$ 125 a tonelada, menor nível desde 14 de fevereiro (e uma queda de cerca de 7% em uma semana).
Os traders avaliam as perspectivas de mais intervenção do governo no mercado após o último alerta da China sobre atividade especulativa e notícias recentes de restrições de produção nas principais cidades siderúrgicas.
Nesta semana, as cidades de Handan e Tangshan, no norte da China, dois grandes centros siderúrgicos, implementaram respostas de emergência de nível 2 em 17 e 20 de março, respectivamente, após uma previsão de forte poluição do ar nos próximos dias, o que pressionou as cotações da commodity. Contudo, já nesta quinta, decidiram remover a última rodada de restrições à produção, uma vez que a qualidade do ar melhorou.
“A flutuação (nos preços do minério de ferro) indica que o mercado está buscando uma direção clara em meio a fatores mistos no momento”, disse à Reuters Yu Chen, analista sênior de minério de ferro da consultoria Mysteel em Xangai.
A possibilidade de a China reduzir sua produção de aço bruto em cerca de 2,5% está no radar dos mercados. A meta foi proposta por formuladores de políticas em uma reunião na semana passada, mas ainda não houve conclusão, disseram fontes ouvidas pela agência. Algumas autoridades disseram que um corte de 2,5% é muito alto, já que a economia ainda está se recuperando. A meta deve ser estabelecida antes do final de junho, acrescentaram.
Com isso, as últimas sessões têm sido de pressão para as commodities, ainda que as ações da Vale (VALE3) tenham registrado queda não tão expressiva quanto a do minério, de cerca de 2,7%, desde quarta-feira da semana passada até o fechamento da última quarta na Bolsa brasileira.
Contudo, analistas ainda veem um cenário positivo para as ações da mineradora, caso do Bradesco BBI, que reforçou a visão de que a China deve ser um fator positivo para o minério e, consequentemente, para os ativos da companhia, colocando a empresa como a “top pick” do setor.
“As ações da Vale caem no acumulado do ano, o que consideramos injustificado dada a visibilidade maior sobre a recuperação econômica chinesa após o fim das restrições e o feriado de Ano Novo Lunar, um ritmo de recuperação acima do esperado da produção de aço (excluindo a China) e oferta mais restrita”, afirmam os analistas.
Eles continuam vendo um mercado apertado nos próximos meses, agravados pelos baixos estoques de minério de ferro (principalmente entre as siderúrgicas), o que deve manter os preços do minério de ferro em patamares elevados. Assim, mantém a estimativa de preço do minério de ferro de US$ 130 a tonelada para 2023.
Para eles, a Vale deve se beneficiar diretamente desse ambiente positivo, com melhora da dinâmica dos lucros (mesmo considerando volumes mais fracos, em 57 milhões de toneladas no primeiro trimestre, devido às fortes chuvas) e perspectivas de remuneração dos acionistas (esperamos US$ 10 bilhões em dividendos e recompras nos próximos 12 meses). Assim, possuem recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para o ADR (recibo de ações negociado na bolsa americana) VALE, com preço-alvo de US$ 23.
Cabe ressaltar ainda que, no fim da semana passada, o Itaú BBA elevou a recomendação das ações da mineradora para a equivalente à compra, após a recente desvalorização dos papéis – levando a uma proposta atrativa de risco/retorno – e somada com a avaliação de que a dinâmica do mercado de minério de ferro deve persistir apertada nos próximos meses, com sinais de melhora da siderurgia na China, ainda que com os alertas do país para conter a especulação. A estimativa de preço médio do minério de ferro para 2023 subiu de US$ 105 a tonelada para US$ 115.
Porém, o cenário deve ser de volatilidade no curto prazo para as ações da mineradora a depender dos dados chineses.
A demanda aparente de produtos de aço para construção, incluindo vergalhão e fio-máquina, caiu 6,1% na semana, para 4,53 milhões de toneladas na semana encerrada em 23 de março, calculou a Reuters nesta quinta com base em dados da consultoria Mysteel.
“O impacto da reabertura da China pode ser de curta duração em meio a problemas subjacentes no mercado imobiliário chinês. Isso pode levar a uma fraqueza ainda maior no preço do minério de ferro este ano”, disseram analistas do banco ANZ em nota.
(com Reuters)