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As cotações do petróleo subiram nesta quarta-feira para máximas de três semanas, com os integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+)+ concordando em fazer seus maiores cortes na produção desde o início da pandemia de Covid, em 2020, apesar de um mercado apertado e oposição a cortes por parte dos Estados Unidos e de outros países.
Os preços também subiram com base em dados do governo dos EUA que mostraram que os estoques de petróleo e combustível caíram na semana passada. Os estoques de petróleo, gasolina e destilados caíram na semana passada, disse a Energy Information Administration. Estoques brutos registraram uma queda surpresa de 1,4 milhão de barris, para 429,2 milhões de barris.
Os integrantes da Opep+ confirmaram, nesta quarta-feira (5), o corte de produção de petróleo em 2 milhões de barris por dia (bpd) a partir de novembro. Esse é o maior corte desde abril de 2020, quando a pandemia começou. O grupo ainda informa que o acordo de cooperação atual foi estendido até 31 de dezembro de 2023.
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O Brent para dezembro subiu 1,7%, para US$ 93,37 o barril, após o pico de US$ 93,96 por barril, a maior cotação desde 15 de setembro. O petróleo WTI para novembro, dos EUA, ganhou 1,4%, para US$ 87,76 dólares. Chegou a US$ 88,42 por barril durante a sessão, também o maior patamar desde 15 de setembro.
Em comunicado após reunião ministerial, a Opep+ justificou a decisão de cortar a oferta “à luz da incerteza que envolve as perspectivas econômicas globais e do mercado de petróleo, e da necessidade de aprimorar a orientação de longo prazo para o mercado de petróleo”.
O cartel ainda decidiu realizar as reuniões ministeriais a cada seis meses, sendo que a próxima será em 4 de dezembro de 2022. O comitê conjunto de monitoramento ministerial (JMCC, na sigla em inglês), por sua vez, deve se encontrar a cada dois meses, mas pode realizar encontros adicionais, aponta o texto.
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A Opep+ ainda reforça a importância de que os membros do acordo cumpram totalmente o que foi decidido. Ela estendeu o período de compensação para falhas nesse cumprimento até o fim de março de 2023.
A decisão pode minar um plano do Grupo dos Sete países ricos (G7) para limitar o preço do petróleo russo no mercado global, uma parte fundamental da batalha econômica do Ocidente com Moscou.
O Goldman Sachs destacou que a decisão foi surpreendentemente altista para os preços de petróleo. Os analistas do banco apontam que os cortes de produção vão começar a partir dos dados de produção correntes, sendo que alguns países já estão produzindo abaixo do que o estabelecido.
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Assim, um anúncio de corte de 2 milhão de barris por dia (mb/d) levaria a um corte efetivo de 1,2 mb/d em relação às expectativas do banco para o fim do ano e de 1,4 mb/d para frente, se os cortes forem sustentados até 2023.
O Goldman destaca que a lógica da Opep+ também leva em conta que o mundo está com muito pouca capacidade ociosa e que os preços do petróleo precisam ser mais altos (especialmente em relação a outros preços de energia) para incentivar o investimento adequado.
“Como argumentamos há muito tempo, os buffers do mercado de petróleo (estoques e capacidade ociosa) permanecem criticamente baixos, e os preços mais altos continuam sendo a principal solução viável de longo prazo para aumentar os estoques no curto prazo e elevar a capacidade de oferta no médio prazo. Isso é consistente com nossa visão de que a escassez de longo prazo exige superávits de curto prazo – com o mercado agora enfrentando grandes déficits nos próximos meses”, avaliam.
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Se mantidos até 23 de dezembro do próximo ano, os cortes levariam a um aumento de US$ 25 o barril do brent ante a previsão anterior da casa de US$ 107,5 o barril para 2023, com potencial de aumentos de preços ainda maiores caso os estoques se esgotem completamente, exigindo a destruição da demanda como último recurso.
“Este resultado é insustentavelmente altista em nossa opinião. Como tal, esperaríamos que os cortes fossem temporários, antes que alguma forma de política permitisse que as cotas voltassem a ficar significativamente mais altas. Para esse fim, a Opep + disse que as cotas serão válidas por pelo menos novembro e dezembro antes do retorno de suas reuniões semestrais”, avaliam.
Por enquanto, o Goldman elevou conservadoramente as suas projeções para o quarto trimestre de 2022 (4T22) e primeiro trimestre de 2023 (1T23) em US$ 10 o barril, para US$ 110 e US$ 115, respectivamente, mas reconhece que os riscos de alta de preço são potencialmente ainda maiores.
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O banco também reforça que um corte tão grande da Opep+ provavelmente garantirá outra resposta dos EUA, como a liberação das reservas estratégicas. Sob as atuais condições de “emergência energética”, há restrições mínimas sobre a atual administração americana na liberação de barris adicionais. A decisão da Opep+ recebeu a contrariedade dos EUA, que são contra a redução e chegaram a pedir aumento da produção em reunião anterior da Opep+.
O contexto do acordo da Opep+ desta quarta também foi significativo, avalia o Goldman. “Em primeiro lugar, esse corte representa um retorno à Antiga Ordem do Petróleo, onde o núcleo da Opep atua sob o comportamento racional de um produtor dominante com poder de precificação. Nesse sentido, embora excepcional, esse corte também é lógico, pois maximiza as receitas do grupo hoje com o mínimo sacrifício de lucros futuros.”
“Além disso, a velocidade com que tal acordo foi formado sugere que o acordo também foi uma declaração política”, aponta o banco, com vários membros da Opep+ expressando seu descontentamento com os lançamentos da Reserva Estratégica de Petróleo (SPR, na sigla em inglês) pelos EUA, entre outros fatores.
O Bradesco BBI, por sua vez, vê uma correlação entre o aumento de juros pelo Federal Reserve e a queda de produção da Opep+.
O Federal Reserve dos EUA vem aumentando as taxas de juros dos EUA para ajudar a reduzir a inflação, o que tem levado a preços mais baixos das commodities, mas os preços do petróleo Brent subiram forte nesta semana com o corte de produção da Opep+ nesta quarta para sustentar os preços do petróleo, o que parece ser o objetivo oposto ao Fed.
Contudo, os EUA devem continuar a aumentar as taxas de juros pelo tempo necessário para reduzir a inflação (as curvas futuras mostram as taxas atingindo o pico em março de 2023).
Mais motivações da Opep+
Analistas de petróleo disseram à CNBC que o impacto real dos cortes de oferta do grupo em novembro provavelmente será limitado, com reduções unilaterais da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iraque e Kuwait provavelmente fazendo o trabalho principal.
Além disso, analistas disseram que atualmente é difícil para a Opep + formar uma visão de mais de um mês ou dois para frente, já que o mercado de energia enfrenta a incerteza de mais sanções europeias à Rússia.
“Em suas próprias palavras, a missão da Opep é garantir um ambiente de preços adequado para consumidores e produtores. No entanto, a decisão de reduzir a produção no ambiente atual vai contra esse objetivo”, disse Stephen Brennock, analista sênior da PVM Oil Associates em Londres, em nota.
“Apertar a oferta num ambiente já de aperto será um tapa na cara dos consumidores. O movimento com motivação egoísta visa apenas beneficiar os produtores”, acrescentou. “Em suma, a Opep+ está priorizando o preço acima da estabilidade em um momento de grande incerteza no mercado de petróleo.”
Rohan Reddy, diretor de pesquisa da Global X ETFs, disse à CNBC que a decisão do grupo de impor cortes na produção pode fazer com que os preços do petróleo subam para US$ 100 o barril – supondo que não haja grandes crises de Covid globalmente e o Federal Reserve não se torne inesperadamente agressivo.
“Devido à decisão, a volatilidade provavelmente retornará ao mercado e, apesar das preocupações com a resiliência da economia global, o mercado de petróleo está apertado, o que deve servir como vento a favor dos preços no quarto trimestre”, disse Reddy.
Ele acrescentou que, embora seja possível um retorno ao petróleo de US$ 100, “um cenário mais provável no curto prazo é que os preços do petróleo oscilem na faixa de US$ 90 a US$ 100, à medida que o mercado digere a divulgação de novos dados das principais economias”.
(com Estadão Conteúdo e Reuters)