Plano estratégico da Petrobras (PETR4) será divulgado em momento-chave para a estatal: o que esperar?

Expectativa é por aumento dos investimentos programados pela estatal, em um momento em que o CEO Jean Paul Prates é colocado à prova

Lara Rizério

Petrobras (Foto: Mario Tama/Getty Images)
Petrobras (Foto: Mario Tama/Getty Images)

Publicidade

Em um mês de forte alta para o Ibovespa, com ganhos acumulados de 11% e renovação de máximas desde 2021, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) registram um desempenho discreto, em alta, mas com avanços de cerca de 2% para PETR3 e de 4% para PETR4.

A queda dos preços do petróleo e os rumores sobre uma insatisfação de integrantes do governo e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente da petroleira, Jean Paul Prates, contribuíram para o menor ímpeto das ações.

No início da semana, ganhou repercussão a notícia sobre uma possível substituição do CEO sendo discutida no governo.

Continua depois da publicidade

Integrantes do governo fazem pressão para a redução dos preços dos combustíveis, tema que voltou à tona no último fim de semana. Após o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, cobrar uma redução do preço de combustíveis, afirmando na GloboNews que “já está na hora de puxarmos de novo a orelha da Petrobras”, o CEO fez um post longo sobre o assunto na rede social X.

No final de semana, Prates afirmou que a Petrobras avançou com uma nova estratégia comercial que prioriza o não repasse da volatilidade do mercado internacional do petróleo. Ele destacou que, “para que o MME (Ministério de Minas e Energia), órgão da União, possa orientar a Petrobras a baixar os preços de combustíveis diretamente, será necessário seguir a Lei 13.303/16 e o Estatuto Social (art. 3o, parágrafo 4o e seguintes)”.

O CEO também citou que, pelas regras, para a União determinar preços mais baixos da Petrobras, uma série de medidas deveriam ser tomadas. E afirmou que uma proposta de orientação da União deveria ser submetida ao Comitê de Investimentos e ao Comitê de Minoritários, “que avaliará se as condições a serem assumidas pela Petrobras requerem que a União compense a Petrobras pela diferença” de preços.

Continua depois da publicidade

Com esses ruídos no radar, a notícia da última terça-feira de uma reunião entre Lula, Prates e ministros trouxe ainda mais temores para o mercado.

Contudo, segundo Prates e Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que participou da reunião, o tema do encontro não foi preço de combustíveis. Porém, o assunto foi outro, também bastante importante para os investidores da companhia: o plano de negócios 2024-2028.

O novo plano da empresa, que nem ao menos veio a público, já é alvo de críticas de opositores de Prates e chegou a ter tentativas de adiamento. Lula, por sinal, já teria pedido a Prates mudanças no plano em reunião neste mês, conforme reportou a Reuters com base em fontes com conhecimento do assunto, na última sexta-feira.

Continua depois da publicidade

Lula quer mais contratações no Brasil para a construção de embarcações que serão usadas pela Petrobras, para que a empresa colabore com uma maior geração de empregos no país. Além disso, o presidente defende que a estatal retome antes obras do setor de fertilizantes, produto que o Brasil tem ampla dependência de importações, embora seja uma potência agrícola.

Prates confirmou nesta quarta que o Plano Estratégico 2024-2028 será divulgado na próxima sexta-feira (24), após ser avaliado e aprovado pelo Conselho de Administração da estatal. No fim da tarde desta quarta, ele se encontrará novamente com Lula para discutir o tema.

Acima de US$ 100 bilhões

Continua depois da publicidade

Há semanas, as especulações sobre o novo plano de negócios da Petrobras a ser apresentado neste fim de mês vem ganhando destaque, com notícias de que as cifras superarão os US$ 100 bilhões, bem acima do plano atual (de US$ 78 bilhões entre 2023-2027).

Os agentes de mercado “torcem o nariz” para as possíveis novas cifras e para as possibilidades de onde o capital será alocado.

“Em nossa leitura, levar o volume de investimentos para casa dos US$100 bilhões tende a pressionar o fluxo de caixa da empresa em termos relevantes pelos próximos dois anos e, consequentemente, o fluxo do pagamento de dividendos por esse período. De acordo com as nossas estimativas, o rendimento esperado em dividendos ficaria abaixo dos 10% – pouco interessante para um case de commodities maduro e com uma crescente percepção de risco corporativo”, avalia a Genial Investimentos.

Continua depois da publicidade

Para a casa de análise, outro ponto de atenção é a evolução do endividamento bruto da empresa. Caso alcance US$ 65 bilhões, a política de dividendos passa a ser de “apenas” US$ 4 bilhões/ano (cerca de R$ 1,60 por ação), tendo em vista um fluxo de investimentos mais pesados que o anteriormente considerado.

Sob a nova política, instituída no fim de julho, o dividendo trimestral da Petrobras estabelecido é de 45% de seu fluxo de caixa livre, mas quando a dívida bruta da empresa estiver abaixo dos US$ 65 bilhões.

Na visão do JPMorgan, a expectativa é de que o plano tenha três pontos principais: (a) uma curva de produção mais elevada para o período 2024-2028; (b) além dos investimentos substancialmente
mais elevados em relação aos anos anteriores devido à inflação e devido a (c) um foco maior
em energias renováveis e transição energética.

Os analistas do JPMorgan veem esses consensos se formando no mercado, destacando que, no primeiro ponto, a curva de produção deve ser revisada em média em 10% para cima na comparação com o antigo plano de negócios.

Sobre o segundo ponto, investimento maior não seria uma surpresa, já que a gestão tem sido muito vocal sobre isso. “Esperamos ver os seguintes fatores impulsionando investimentos maiores: (a) correção monetária; (b) maior foco em maior produção; (c) mais investimentos em refino – provenientes de expansões, mas também dado que o programa de desinvestimentos terminou e (d) um aumento substancial nos projetos de baixo carbono, incluindo o potencial de projetos eólicos offshore. Colocando tudo juntos, podemos facilmente chegar a um valor que variaria entre US$ 95-100 bilhões”, aponta.

Indicações de fusões e aquisições (M&A) também poderão ser apresentadas, sendo uma ferramenta que aceleraria a entrada em áreas onde a empresa hoje é pequena.

“Somando tudo isso, também poderemos ter uma imagem melhor do potencial de dividendos para a Petrobras. Com os números revistos em mãos, os investidores irão obviamente olhar os números anunciados em seus modelos para acessar o potencial de dividendos”, aponta.

A percepção de investidores institucionais é parecida, conforme aponta o Santander após pesquisa com 27 respondentes do “buy side”.

O aumento potencial (e significativo) do capex já é considerado pela maioria dos investidores (90% dos investidores pesquisados já esperam capex acima de US$ 90 bilhões). O Santander tem a percepção de que o foco desses investidores mudará de capex/ preços de combustíveis para o desempenho operacional. Isso porque também há projeções entre eles de que a Petrobras aumentará seu guidance de produção de petróleo (85% dos investidores esperam que haja elevação em pelo menos 4% para 2024).

Os participantes da pesquisa ainda estão divididos (50/50) sobre se um “orçamento de fusões e aquisições” seria incluído no montante total do investimento, enquanto a maioria (54%) espera que os projetos de baixo carbono representem 15% do investimento total.

“Também questionamos os investidores sobre as expectativas sobre os níveis-alvo de caixa de referência e de dívida bruta e a maioria não espera alterações nestas métricas (Santander concorda com esse tema). Apenas observamos que o atual limite de dívida bruta de US$ 65 bilhões impede a Petrobras de fazer fusões e aquisições significativas: a companhia encerrou o 3T23 com US$ 61 bilhões em dívida bruta e incorporar a Braskem (BRKM5)  significaria assumir mais US$ 8,5 bilhões em dívida bruta (acreditamos que o mercado não está analisando a relação entre potenciais fusões e aquisições e o nível de dívida bruta)”, avalia o Santander.

O BTG Pactual ressalta sua previsão de US$ 86 bilhões em investimentos para o período, excluindo as aquisições. Mas, de qualquer forma, se o plano revelado se aproximar da marca dos US$ 100 bilhões (incluindo um possível orçamento de M&As), a reação do mercado poderá ser neutra, uma vez que os investidores já estão a antecipando despesas na ordem dos US$ 90 bilhões a US$ 100 bilhões.

Caso o valor exceda este montante, é provável que haja uma reação negativa do mercado, especialmente porque grande parte do crescimento é esperado em segmentos onde o track record (histórico) não é sólido, avalia.

Contudo, os analistas também reforçam a visão de que a Petrobras tem consistentemente atingido o seu guidance de investimento numa média de 25% abaixo do estimado ao longo dos últimos seis anos.

Isto provavelmente se deve à natureza de grande escala e de capital intensivo de muitos projetos de Exploração & Produção, que muitas vezes enfrentam atrasos devido a fatores externos.

“Outra prova disso é o fato de a Petrobras ter reduzido recentemente o seu guidance de investimento para 2023 de US$ 16 bilhões para US$ 13 bilhões, uma redução que, se convertida em dividendos, renderia cerca de 1,5%”, avalia.

O BTG estima investimentos para a Petrobras em 2024 de US$ 20 bilhões. “Assim, embora alguns possam argumentar que a nossa estimativa de investimentos daqui a 5 anos, de US$ 86 bilhões, é baixa, acreditamos que há uma grande probabilidade da Petrobras investir menos do que o esperado no próximo ano”, avalia.

Com relação aos proventos, o banco diz que evita discutir pagamentos extraordinários, muitas vezes um fator de otimismo para os investidores.

De qualquer forma, vê os atuais temores como injustificados. Mesmo que a recente proposta do Conselho para criar uma reserva de capital seja aprovada, potencialmente aumentando a flexibilidade da empresa na retenção de lucros para fusões e aquisições, os analistas ainda veem a Petrobras sendo negociada com um dividend yield (dividendo em relação ao preço da ação) de 13% em 2024, com base apenas em sua política de dividendos (45% do fluxo de caixa menos o capex) e excluindo distribuições extraordinárias.

“No entanto, este número baseia-se em projeções conservadoras. Acreditamos que há uma maior probabilidade de aumentos na produção e spreads, e a nossa estimativa de investimentos de US$ 20 bilhões pode estar no lado mais otimista da projeção”, afirma. Para os analistas, o dividend yield orgânico em 2024 poderá aumentar para 15% se o investimento for de US$ 17 bilhões e a produção for 6% superior à sua estimativa.

Recomendações

Levando todos os pontos em conta, o BTG ressalta que os riscos aumentaram, mas a recomendação de compra para as ações da empresa ainda se justifica.

Os analistas citam que a potencial criação de uma reserva de capital que reduz a probabilidade de pagamentos extraordinários e a recente proposta para remover certas restrições à nomeação de executivos sob a lei das estatais e os rumores de uma mudança de CEO são fatos negativos para a Petrobras.

Porém, acreditam que os mecanismos de defesa existentes nos estatutos da empresa e na lei das estatais prevalecerão e impedirão a alocação de capital para empreendimentos menos lucrativos (pelo menos nos próximos 24 meses), apesar de provavelmente estar abaixo do ROIC (retorno sobre o capital investido) do pré-sal. “No geral, esperamos que a empresa gere mais caixa do que pode gastar, como tem feito nos últimos três anos”, finaliza.

O Santander também possui recomendação equivalente à compra para os ativos da companhia, enquanto o JPMorgan tem recomendação neutra.

“Estar do lado conservador não tem sido tão fácil. Por um lado, estamos vendo a revisão dos pilares da governança e uma incerteza sobre os fluxos de caixa futuros ofuscando os fortes resultados operacionais. Por outro, o potencial de rendimento de dividendos (considerando o pagamento extraordinário) parece
trazer alguma solidez ao case”, avalia o JP.

O banco reforçou recomendação enquanto espera ter mais clareza sobre as margens de refino, expectativas de investimentos e se um possível acordo com o Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais) sobre processos da companhia poderia consumir a geração de fluxo de caixa.

(com Estadão Conteúdo)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.