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SÃO PAULO – Em suas duas últimas edições, Pregões Incríveis contou a história de dois episódios emblemáticos da história de Wall Street. Desta vez, a série de reportagens da InfoMoney fala nesta sexta-feira (26) sobre um momento marcante do mercado brasileiro: a criação do Ibovespa.
O atualmente principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo e grande referência do mercado de ações brasileiro teve seu primeiro dia de negociações em 2 de janeiro de 1968, com um portfólio de apenas 27 ações. Sua história, no entanto, remonta a muito antes.
Contexto
A bolsa de São Paulo foi fundada em 1890 por Emilio Pestana. Até meados dos anos 1960, no entanto, seu volume de negociações era extremamente fraco. O mercado de ações tinha pouca, ou quase nenhuma, influência sobre a economia e o setor financeiro brasileiro. As bolsas – a maior do País na época era a Bolsa do Rio – eram entidades oficiais corporativas, vinculadas às secretarias de finanças dos governos estaduais e compostas por corretores nomeados pelo setor público.
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Com o golpe militar em 1964, a preocupação central do governo de Castello Branco, em paralelo ao grande objetivo de combate à inflação, era implementar um conjunto de reformas institucionais que dessem fundamento à aceleração do crescimento econômico do País. O mercado de ações foi um dos contemplados por tais ações reformistas.
Batizada de “reforma do mercado de capitais”, o governo aprovou em 1965 uma lei que visava combater a má organização das bolsas, o monopólio dos corretores públicos e unificar uma legislação difusa e complexa. A reforma, no entanto, teve pouco impacto efetivo. Assim, em 1968, novas medidas foram pensadas para estimular o mercado de ações brasileiro, como uma forte redução da carga tributária sobre as negociações de ativos.
Foi neste contexto que o Ibovespa fez seu début no mercado.
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Papéis
Pela manhã de 2 de janeiro de 1968, entrava em negociação o Ibovespa, um índice de ações formado pelos 27 papéis mais proeminentes da bolsa paulista à época – antes, os pregões eram conduzidos apenas com as variações de cada ação.
Entre os ativos selecionados para fazerem parte do benchmark, estavam os de companhias então poderosas no cenário corporativo brasileiro, como a fabricante automobilista Willys do Brasil e a Refinaria de Petróleo União. A primeira acabou sendo tomada pela Ford, enquanto a segunda foi incorporada pela Petrobras.
Negociações na Bovespa nos anos 1970. Foto: Divulgação Bovespa
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Outros papéis que também compunham o Ibovespa naquela manhã de janeiro eram de empresas que ainda existem, mas que não mais são negociadas na bolsa, como os da Kibon e Arno. Mais de quarenta anos depois, apenas três ativos nunca deixaram a carteira: os da Vale, da Souza Cruz e da AmBev, que entrou como Antarctica.
Outras três ações, por sua vez, permaneceram por certo tempo fora do benchmark, mas estiveram presentes em sua estreia e estão presentes hoje: as da Duratex, do Itaú – hoje Itaú Unibanco – e da Lojas Americanas. Por fim, há papéis que continuam na bolsa paulista desde então, mas fora do Ibovespa e com fraco volume de negociações, como os da Estrela.
Evolução
Por falar em volume, este é um dos mais emblemáticos quesitos no que concerne à evolução do Ibovespa nestes longos quarenta anos. Entre quedas de governos, disparadas inflacionárias, impeachments e tantas reformas monetárias, o índice teve seus percalços, mas é inegável seu amadurecimento.
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Quando lançado, o volume médio diário do benchmark girava em torno de NCr$ 1,027 milhões (cruzeiros novos), cifra que hoje, corrigida pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços), equivaleria a pouco mais de R$ 5,4 milhões, um valor irrisório comparado ao volume médio diário atual do índice, que costuma ficar ao redor dos R$ 6 bilhões.
Outra grande evolução do índice faz-se notável no campo tecnológico. Assim como as negociações individuais de papéis, as negociações do Ibovespa eram totalmente manuais até 1972, quando a Bovespa implementou uma rede de terminais de computadores para processar os pedidos. Nos anos 80, nova inovação: o sistema privado de operações por telefone, o SPOT. Em 1997, o MegaBolsa trouxe um novo sistema de negociação eletrônica, mas foi somente em 2005 que o sistema viva-voz no Ibovespa teve seu último pregão.