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SÃO PAULO – Em tempos de uma oferta de ações histórica no mercado financeiro internacional – a distribuição da Petrobras deve se confirmar como a maior já realizada no mundo -, o Pregões Incríveis, a série de reportagens da InfoMoney sobre momentos marcantes das bolsas, volta 25 anos no tempo para falar sobre outra oferta memorável do País: a da Itautec (ITEC3).
Fundada em 1979, a Itautec iniciou, ainda em 1984, estudos para a realização do processo de abertura de seu capital, com vistas a obter recursos para financiar sua expansão, de olho no histórico momento de abertura econômica que o País vivia na segunda metade da década de 1980.
A evolução da bolsa – e das ofertas
Naquela época, no entanto, os processos de realização de ofertas de ações não eram tão sofisticados como são hoje – tampouco a bolsa brasileira era madura como é hoje. A falta e assimetria de informações, métodos pouco apurados e um mercado ainda incipiente fizeram com que a abertura de capital da Itautec cravasse seu lugar na história financeira do País.
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A primeira oferta de ações realizada no Brasil ocorreu, ironicamente, antes mesmo da independência do País, em 1808, quando da constituição do Banco do Brasil por D. João VI. De 1808 até 1960, o mercado de capitais nacional trilhou uma lenta e vagarosa evolução, acelerada posteriormente pela criação do CMN (Conselho Monetário Nacional) em 1964 e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em 1976.
Entretanto, já na metade da década de 1980, a bolsa brasileira ainda era muito imatura. “Naquela época, o que víamos não eram exatamente investidores, mas apostadores”, diz Walter Cestari, ex-diretor de inúmeros bancos e corretoras e, atualmente, professor em diversas instituições como a FIA (Fundação Instituto de Administração) e FGV (Fundação Getúlio Vargas). “Eram pouquíssimas empresas com capital aberto, então ofertas eram algo relativamente raro”, reitera.
Preço fixo x bookbuilding
Vinte e cinco anos atrás, as ofertas de ações realizadas no Brasil trilhavam um procedimento bastante distinto do atual. Se hoje, o preço dos papéis distribuídos é delimitado pelo processo de bookbuilding, naquela época, ele era estabelecido pelo método batizado de “preço fixo”.
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Como o próprio nome já indica, tal método consiste na simples determinação de um valor que se considera justo para a ação a ser ofertada – é claro que tal cifra é conquistada depois de uma série de cálculos contábeis. Ainda assim, o procedimento é visto hoje como ultrapassado e ineficiente, já que permite defasagens e distorções na cotação estabelecida.
O procedimento do bookbuilding, em contrapartida, é considerado mais eficiente, por refletir melhor a demanda do mercado pela operação e, portanto, reduzir o risco de lançamento de papéis subprecificados ou superprecificados, auferindo mais lucro à empresa ofertante e maior segurança aos investidores.
A disparada das ações
Não foi o que ocorreu em novembro de 1985, quando os papéis da Itautec finalmente marcaram sua estreia na bolsa brasileira. Depois de ter sua cotação inicial estabelecida pelo método do preço fixo, as ações dispararam forte logo no primeiro pregão, em um momento de intensa euforia que entrou para a história do mercado.
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Os papéis claramente haviam sido subprecificados, quase dobrando de preço em seus primeiros dias de negociação. “Além do método pouco eficiente, há de se considerar que o mercado brasileiro eraum pouco imaturo e que, na época, havia um forte sentimento de otimismo quanto ao setor de tecnologia, que parecia altamente promissor”, conta Cestari.
À impressionante valorização dos primeiros pregões, somou-se posteriormente um intenso movimento de correção, que ainda assim, não foi suficiente para fazer os papéis voltarem a um valor nem próximo ao fixado na oferta. Passadas as oscilações, aos poucos, as ações atingiram certa estabilidade. Mas ficou a lição: certamente a Itautec poderia ter captado muito mais.