Primeiras leituras: sem Eduardo, um vazio e muitas dúvidas

Perdeu-se um talento. E apesar das divergências com seu partido "emprestado", o PSB, Marina deve assumir a candidatura. As opiniões se dividem: facilita ou não 2º turno, ultrapassa ou não Aécio, ameaça ou não Dilma, crescerá ou não?

José Marcio Mendonça

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Como não poderia deixar de ser, os jornais estão tomados por reportagens sobre a trágica morte de Eduardo Campos e análises sobre o que pode acontecer na sucessão presidencial agora.

Embora ainda se levantem algumas dúvidas, em função das relações mais ou menos tumultuadas da ex-ministra com o PSB, partido que a abrigou para que ela apoiasse a candidatura, mas no qual estava apenas de passagem, deve ser mesmo Marina Silva a nova candidata à Presidência da República no lugar do parceiro.

A grande dúvida é saber se Marina, ainda mais conhecida do eleitor do que o ex-governador de Pernambuco, com um excelente recall da campanha de quatro anos atrás, terá um retorno eleitoral melhor que Campos vinha tendo até agora – 9% no mais recente Ibope contra 23% de Aécio e 38% de Dilma.

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Quatro anos mudam muita coisa. Porém, há indicações de que a ex-ministra ainda tem fôlego.

Na pesquisa realizada pelo DataFolha dias antes da oficialização da chapa Campos-Marina, em abril, quando ainda se imaginava a possibilidade da ex-senadora virar a cabeça de chapa, e em que numa das simulações o nome dela foi incluído como presidenciável, Marina apareceu com 27% dos votos, Aécio com 18% e Dilma com 39%. Substituindo Marina, Campos ficava com 14%.

As opiniões dos analistas se dividem, mas a maioria tende a acreditar que Marina terá mais votos do que teria Campos e que com ela a possibilidade de um segundo turno ficar mais próxima.

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Um sinal sobre isto aparecerá na segunda-feira: o DataFolha registrou ontem mesmo uma nova pesquisa, a começar a partir de hoje e que só pode ser divulgada cinco dias depois, já com Marina na lista de concorrentes, mesmo não havendo ainda uma decisão da coligação que era encabeçada por Campos.

A pesquisa pode trazer, neste primeiro momento, algum desvio, influenciada pelo natural clima emocional que envolve a tragédia de ontem em Santos, no entanto, será um balizador.

Um resumo do que se diz sobre o assunto nos jornais:

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Eliane Catanhede (Folha): “Campos patinava em 8% e 9% de intenções de voto, mas tinha certeza de que iria deslanchar com o início da propaganda na TV e no rádio, dia 19. Essa expectativa se transfere agora para Marina, que poderá, enfim, somar o seu capital ao potencial dele. Assim, seria decisiva para evitar a vitória de Dilma no primeiro turno. O problema é o quanto ela poderá crescer. Só o suficiente para garantir o segundo turno? Ou a ponto de ameaçar o tucano Aécio Neves? A eleição fica ainda mais embolada e ainda mais imprevisível, mas a melhor aposta ainda é a de mais um round, não necessariamente o último, no pugilato entre petistas e tucanos. Com Marina correndo por fora e empurrada pela enorme comoção com a morte de Campos.”

Clóvis Rossi (Folha) – “A entrada de Marina, acoplada a esse, digamos, “voto-luto”, pode servir de catalisador para que o desejo de mudança, clara e fortemente manifestado em todas as pesquisas eleitorais, engrosse a preferência pela ex-senadora. Mas pode acontecer também que Marina não recupere a intenção de voto que tinha antes de se filiar ao PSB, exatamente porque os eleitores que querem a mudança –seja lá o que isso signifique– podem entender que ela se contaminou com a velha política ao entrar em um partido convencional, ao contrário da suposta novidade que seria a Rede.”

Elio Gaspari (Folha) – “Se o PSB, marineiros e tucanos quiserem impedir que o PT permaneça no governo por 16 anos seguidos, em algum lugar alguém pensará o impossível: Marina Silva na campanha de Aécio Neves. Olhando-se essa hipótese pela ótica da política, é enorme o espaço que os separa. Pela ótica da História, caso ela esteja no tabuleiro, é razoável. Se não estiver, paciência. Tancredo não fazia só política, fazia História.”

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Mauro Paulino e Alessandro Janoni (Folha) – “A morte trágica de Eduardo Campos reforça a imprevisibilidade e o ineditismo como marcas da eleição presidencial deste ano. Se o cenário deflagrado pelas manifestações de 2013, reformatado pela Copa e pelas incertezas da economia, já era suficiente para desencorajar prognósticos, qualquer tentativa de fazê-lo agora beira a irresponsabilidade técnica e a falta de sensibilidade política. (…)Se antes a pergunta era o quanto Marina conseguiria transferir votos a Campos, a dúvida agora pode estar no reflexo do episódio sobre uma eventual candidatura da ambientalista. Tudo que se escreveu ou se disse sobre esta eleição até aqui ficará para a história, mas pouco serve para prever o futuro.

José Roberto Toledo (Estadão) – “Marina é uma candidata com potencial carismático junto à opinião pública, mas não é uma articuladora como Campos. Ainda está tateando seu caminho como política. Deu tantos encontrões que nem sequer conseguiu formar o seu próprio partido. Ela é complementar a Campos, não sua substituta. (…) Sem Campos, o poder gravitacional do governo federal vai agir sobre o PSB e seus aliados. Defecções poderão acontecer”.

Merval Pereira (Globo) – “Caso Marina venha a ser a candidata do PSB substituindo Eduardo Campos, a disputa ficará mais difícil para Aécio Neves, mas o segundo turno estará garantido e, com ele, os riscos da presidente Dilma aumentarão bastante”.

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Carlos Alberto Sardenberg (Globo) – (…) confirmada candidatas, Marina Silva deve aparecer com talvez o dobro das intenções de votos obtida até aqui por Campos. Deve atrair votos de eleitores de Dilma arrependidos. Mas terá de mostrar muita habilidade política para manter a aliança original. De todo modo, ela deve garantir um segundo turno. Alcançará Aécio? Só se conseguir juntar os votos dela com os de todos aqueles eleitores de Campos e mais um pouco do centrão”.

Josias de Sousa (blog no UOL) – “Hospedada no PSB desde que o TSE se negou a expedir a certidão de nascimento da sua Rede, Marina sempre foi uma coadjuvante com cara de protagonista —uma vice mais conhecida que o titular, com 20 milhões de votos na biografia. Se a tragédia guindar Marina à cabeça da chapa, ela tem potencial para entrar na disputa do tamanho de Aécio Neves. Ou maior. (…) Sem comoção, Marina já era uma ameaça aos rivais. Se migrar do luto para a candidatura presidencial, Dilma e Aécio terão de remodelar suas estratégias. Resta agora saber: 1) se PSB e Rede, às turras, conseguirão se entender; e 2) se Marina, personagem tão imprevisível quanto as urnas, aceitará substituir Campos.”

Nossa expectativa – Acreditamos que Marina vencerá os obstáculos e será candidata. Tem possibilidades de crescer em relação ao que tinha no momento Eduardo Campos, o que garante o segundo turno, que já era praticamente certo.

Pode ser um incômodo tanto para Aécio quanto para Dilma. Um pouco mais talvez para o mineiro, embora, o PT a temesse, tanto Lula e Dilma fizeram para ela não conseguir fundar o seu Rede Solidariedade a tempo de registrar sua candidatura.

Ela pode ser beneficiada, sim, pela comoção causada pelo modo trágico como perdeu o parceiro de chapa. Porém, ela já não tem aquela aura de quatro anos atrás, parte dos marinistas mais radicais perdeu o encanto pelas suas propostas.

O que se pode dizer, um truísmo, é que a eleição não será mais a mesma. E que começou de fato ontem. A extensa e extraordinária cobertura da imprensa, que ainda vai prosseguir aquecida por alguns dias, despertou o eleitor para uma disputa para qual ainda estava bastante indiferente. 

Outros destaques dos

jornais do dia

– CLIMA ECONÔMICO – O clima econômico no Brasil é o pior desde janeiro de 1991, quando o país ainda sentia os efeitos do confisco da poupança no ano anterior pelo então presidente Fernando Collor de Mello, segundo pesquisa da FGV. O Brasil aparece em julho com 55 pontos do chamado ICE (Indicador de Clima Econômico), que mede desde o desempenho da economia até inflação, contas do governo e comércio exterior. É a pior avaliação desde os 54 pontos de janeiro de 1991. Na avaliação anterior, feita em abril, o país aparecia com 71 pontos.

– TELEFONIA: DIPUTA PELA GVT – De acordo com o “Estadão” e o “Valor”, como reação à oferta lançada pela Telefónica à Vivendi, de R$ 20,1 bilhões pela GVT, a TIM está fazendo uma proposta para a companhia em que compromete-se a dar 20% da Telecom Itália à francesa e uma parceria estratégica na Europa. O acordo estaria prestes de ser fechado.

– LEILÃO DE TELEFONIA – Segundo a “Folha”, o governo e as empresas de telecomunicações travam uma guerra de bastidores em torno do leilão de 4G da telefonia móvel. Em jogo o valor da licença para operar na frequência de 700 MHz. O governo quer fazer o leilão agora, para arrecadar R$ bilhões, ajuda essecncial para fechar suas contas este ano. As teles trabalham para que ele seja feito apenas em 2015 de olho numa redução do preço que terão de pagar pelo serviço.

PREVIDÊNCIA/CONTAS PÚBLICAS – Reportagem do “Estadão” diz que o rombo da Previdência Social pode chegar aos R$ 55 bilhões este ano, tornando ainda mais difícil o governo alcançar o superávit primário de 1,9% do PIB prometido para 2014. A previsão oficial é que o déficit fique em R$ 40 bi.

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Por que ele precisa dela” – Estadão

2. Ribamar Oliveira – “Gasto da União com pessoal se estabiliza” – Valor 

3. Reportagem – “Com Marina, eleição fica mais equilibrada” – Valor