Primeiro dia do leilão 5G foi positivo para TIM, Vivo e Claro, aponta Credit; XP destaca Brisanet nos blocos regionais

Credit Suisse vê impacto de caixa efetivo esperado alinhado com as estimativas do banco para as grandes teles

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em um dos maiores leilões nacionais, ficando atrás apenas da licitação do pré-sal, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) conseguiu vender na última quinta-feira (4) praticamente todos os lotes de frequências ofertadas do 5G, tecnologia da nova geração das redes de telefonia móvel.

No primeiro dia da licitação, o governo arrecadou R$ 7,1 bilhões, um ágio médio (valor adicional ao mínimo que era exigido no edital) de quase 250% sobre o lance mínimo das faixas ofertadas na quinta-feira, segundo um levantamento da Conexis, associação que representa as maiores operadoras do País. Incluindo os investimentos que as empresas terão de fazer, o leilão já movimentou R$ 43,7 bilhões.

Nesta sexta, é leiloada a faixa de 26 GHz, voltada à transmissão de dados em larga escala com aplicações que incluem automação industrial e no agronegócio.

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O principal lote do serviço 5G, de 3,5 GHz, teve pouca disputa, com as três maiores operadoras do país arrematando cada uma suas frequências no espectro. A Telefônica Brasil (VIVT3) ofereceu R$ 420 milhões, ante preço mínimo de R$ 321,4 milhões. TIM (TIMS3) e Claro ofertaram R$ 351 milhões e R$ 338 milhões, nesta ordem.

As obrigações de investimento neste lote beiram R$ 30 bilhões e incluem despesas com limpeza do espectro hoje usado por consumidores de baixa renda de serviços de TV por satélite.

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O quarto bloco nacional na frequência de 3,5 GHz ficou sem ofertas, pois 12 outras empresas menores inscritas no leilão não apresentaram propostas e as três operadoras maiores ficaram impedidas de disputá-lo, pois já tinham vencido anteriormente. Com isso, o bloco B4 foi dividido em partes menores, com as três operadoras – Telefônica Brasil, Claro e TIM – conseguindo espectro adicional para complementar a oferta de 5G, pelo preço mínimo definido no edital, de R$ 80,3 milhões cada. O quarto sub-bloco ficou sem ofertas.

O Credit Suisse destacou ver os resultados do leilão como positivos para Vivo, Claro e TIM, por três razões principais: (1) não houve interesse dos recém-chegados pelo quarto bloco de 3,5 GHz, eliminando o risco de entrada de um novo player com cobertura 5G nacional; (2) as três conseguiram adquirir 100 MHz na frequência de 3,5 GHz, que é vista como a ideal de banda para serviços 5G de alta qualidade; (3) elas estiveram aptas para levar alguns os blocos 2,3 GHz para aumentar sua capacidade 4G a baixo custo.

Sobre esse último ponto, a disputa de frequências regionais na faixa de 2,3 GHz e voltada para áreas mais densamente povoadas foi mais intensa. A faixa será dividida com prestação de serviços 4G inicialmente e tem como obrigação a cobertura de 95% da área urbana dos municípios que hoje não têm rede 4G.

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A Claro obteve cinco dos oito lotes em disputa — E1, E3, E5, E6 e E8 — com desembolso de R$ 1,2 bilhão. A Brisanet (BRIT3) conseguiu o bloco E4 com lance mínimo de R$ 111,8 milhões e a Telefônica ficou com o lote E7, com lance de R$ 176,4 milhões, ágio de cerca de 124%.

No bloco F, também de frequências regionais na faixa de 2,3 GHz, a disputa foi intensa, mas a maior parte das ofertas ficou concentrada entre Telefônica Brasil e TIM.

A Telefônica arrematou os lotes F1, F3 e F5, com outorgas somando R$ 290 milhões, e a TIM ficou com os lotes F6 e F7, somando outorgas de R$ 544,5 milhões. Algar Telecom obteve o F8 com lance de R$ 57 milhões depois de 10 fases de ofertas contra a TIM. O lote F4 ficou sem interessados. O edital determina que todas as capitais do país devem ter serviços 5G funcionando a partir de julho de 2022 e a Anatel tem afirmado que o leilão deve movimentar investimentos nos próximos 20 anos no setor da ordem de R$ 170 bilhões.

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O Credit Suisse ressalta que, apesar de oferecerem um prêmio significativo em relação aos preços mínimos, os prêmios serão totalmente pagos por meio de obrigações de cobertura até 2029 e provavelmente compensados pela redução de outros capex, como do 4G.

“O impacto de caixa efetivo esperado está totalmente alinhado com nossas estimativas: R$ 2,7 bilhões para a Vivo, R$ 2,6 bilhões para a TIM e R$ 2,6 bilhões para a Claro”, apontam os analistas do banco suíço. Adicionadas às prováveis obrigações somadas ao leilão desta sexta, o impacto do caixa efetivo total deve ser de cerca de R$ 3,2 bilhões para cada um dos três players, aponta.

Players menores na disputa

O banco ainda destaca que, como esperado, outros players além das três grandes teles participaram (e ganharam blocos) no leilão. Até agora, houve um total de nove licitantes vencedores.

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O Credit destaca três deles: o primeiro é a Winity, do Pátria, que venceu o bloco nacional de 700 MHz, que deve atender cidades em todo o país com a tecnologia 4G. Os analistas avaliam que o grupo tem mais probabilidade de agrupar capacidade de espectro com sua torre e ativos de fibra existentes, em vez de uma operadora móvel focada nos consumidores finais.

A Brisanet (BRIT3) conquistou dois blocos regionais de 3,5 GHz (Centro-Oeste e Nordeste) e um regional de 2,3 GHz (Nordeste). A região Nordeste é onde a empresa concentra a maior parte de seus operações de fibra óptica para o lar (FFTH).

Os três blocos arrematados pela Brisanet foram os seguintes: 80 MHz – 3,5GHz – Nordeste – R$ 1.250 milhões (ágio de 13.742% em relação ao valor mínimo); 80MHz- 3,5GHz – Centro Oeste – R$ 105 milhões (ágio de 4.054% em relação ao valor mínimo); 50MHz- 2,3GHz – Nordeste – R$ 111,4 milhões (sem ágio em relação ao valor mínimo).

“Uma vez que as frequências de 2,3 GHz e 3,5 GHz sozinhas não parecem muito aptas para o lançamento de um negócio móvel, a Brisanet pode alugar capacidade 4G na faixa de 700MHz para a Winity oferecer serviços móveis aos seus clientes na região”, aponta o Credit.

O mesmo é válido para Algar, que arrematou um bloco regional de 3,5 GHz e um regional de 2,3 GHz. “A Algar nunca expandiu muito suas operações móveis de sua região de concessão de telefonia fixa e não esperamos que faça agora”, avaliam.

Para o Credit, embora deva ser parte da estratégia desses players regionais construir uma operação de dispositivo móvel, vê isso como um grande desafio em termos de escala. “Capilaridade comercial e reconhecimento da marca também podem ser tarefas difíceis. Assim, esperamos que elas alcancem maior sucesso nas iniciativas de serviço de banda larga fixa sem fio (FWA, na sigla em inglês), não afetando significativamente os negócios móveis das grandes teles”, aponta.

A XP, por sua vez, destacou em relatório que a Brisanet e também a Unifique (FIQE3) foram protagonistas na disputa pelos blocos regionais de frequência em suas áreas de atuação e marcaram entrada na área da telefonia móvel. Os analistas reiteraram recomendações de compra em Unifique, com preço-alvo de R$ 13, e Brisanet, com preço-alvo de R$ 17.

No caso da Brisanet, os analistas da casa destacam que, apesar do ágio elevado na oferta da companhia ter assustado alguns investidores (na véspera, a ação chegou a cair 13% após o lance, fechando em alta de 1,7%) , cabe destacar que o valor que será pago como outorga será de aproximadamente R$ 67 milhões (R$ 45 milhões no bloco do Centro Oeste e R$ 22 milhões Nordeste).

A diferença será convertida em investimento regulatório para desenvolvimento da infraestrutura garantindo acesso à rede 5G em municípios com menos de 30 mil habitantes. Esses investimentos devem ocorrer de forma mais intensa entre os anos de 2026 e 2029, quando as companhias começarão a investir em ERBs (estação rádio base). Entre 2023 e 2025 as obrigações regulatórias serão voltadas a infraestrutura de backbone e backhaul com grande sinergia com as operações atuais de FTTH das companhias.

“O valor elevado ofertado pela Brisanet foi surpreendente dado que não houve competição no leilão. Na nossa visão a companhia optou em dar um lance suficientemente alto garantindo o arremate dos blocos, trocando um Capex que seria industrial por uma obrigação regulatória”, apontam os analistas.

Outro movimento que chamou atenção dos analistas foi o arremate do bloco no Centro Oeste, dado que é uma região nova onde a companhia não atua hoje. A reação negativa inicial das ações pode ser relacionado ao risco maior de execução desses investimentos em uma nova região de atuação. “Como a Brisanet já é um player dominante de fibra no Nordeste, o risco de execução na sua região de origem é inferior”, ressaltam.

A XP ressalta que a Brisanet sempre se destacou como a ISP mais atuante e interessada no 5G, avaliando que a companhia não deseja fazer apenas o last mile com FWA, em complemento a fibra ótica fixa, mas também quer competir com as grandes telcos (Vivo, TIM e Claro) na telefonia móvel, em uma visão que se contrapõe à do Credit.

Já a Unifique, em conjunto com a Copel Telecom, através do Consórcio 5G Sul, arrematou lote de 3,5 GHz para a região Sul por R$ 73,6 milhões (ágio de 1.455%). O leilão, apesar de ter sido bastante disputado com a Mega Net, consórcio formado por outras centenas de ISPs, teve um ágio muito inferior aos blocos arrematados pela Brisanet, destaca.

Destacando uma visão geral do leilão, os analistas apontam que, em comparação com os EUA, o Brasil está vendendo um volume muito maior de frequências, com valores arrecadatórios significativamente menores.

“Contextualizando, se fôssemos considerar somente a faixa de 3.5Ghz, a principal faixa da tecnologia 5G, estamos vendendo 400MHz por R$ 36 bilhões, dos quais somente R$ 1,5 bilhão são pagos diretamente ao fisco e os outros R$ 34,5 bilhões são obrigações de investimentos assumidos pelas empresas nos próximos 8 anos para o desenvolvimento de suas infraestruturas. Além do aporte inicial ser baixo, um outro ponto positivo do projeto do 5G desenhado pela Anatel é a permissão para o compartilhamento de rede entre os participantes. Na nossa visão, esse formato é extremamente saudável para a indústria privilegiando o investimento no desenvolvimento da infraestrutura em detrimento de um leilão meramente arrecadatório”, apontam.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.