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SÃO PAULO – As últimas decisões de 2021 envolvendo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) estão mexendo com algumas ações na B3, impulsionando os ativos.
Apenas entre a tarde de ontem e o início desta quinta-feira, decisões envolvendo Qualicorp (QUAL3) e as fusões entre Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3), além de Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica (GNDI3) geraram reações positivas na B3.
Na máxima do dia, os papéis da Qualicorp subiram 9,67%, fechando com alta de 5,54% (R$ 17,14), em meio à notícia de que recebeu da sua acionista Rede D’Or São Luiz S.A. (RDOR3) a carta anexa informando que a primeira instância do órgão antitruste do Cade, a Superintendência Geral, aprovou sem restrições o pedido de autorização para potencialmente elevar, por meio de operações a serem efetuadas em bolsa, sua participação minoritária na empresa. A Rede D’Or tem, atualmente, 29% do capital total da operadora de saúde, tendo gradualmente elevado a sua participação no ativo desde 2019.
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Já de acordo com a rede de hospitais, a quantidade de ações a serem adquiridas dependerá das condições de mercado “no momento das possíveis compras e eventuais aquisições serão devidamente informadas nos termos da regulamentação aplicável”.
Em análise de setembro, logo após a Rede D’Or pedir autorização ao Cade para adquirir mais ações da Qualicorp, a Levante Ideias de Investimentos destacou que a notícia é positiva para ambas as empresas. Isso em um cenário em que a rede de hospitais vem se mostrando muito ativa no mercado, realizando aquisições seguindo sua estratégia de consolidação de mercado e maior verticalização de suas operações.
“Dessa forma, um aumento na participação da Qualicorp faz muito sentido para a estratégia da empresa, visto a posição de destaque da companhia no setor de planos de saúde, contando com mais de 2,6 milhões de beneficiários”, avaliaram os analistas da casa de research.
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Já um ponto negativo da eventual transação seria a redução de ações em circulação da Qualicorp (free float), o que pode acabar reduzindo sua liquidez. “Porém, uma maior pressão compradora tende a valorizar as ações QUAL3 no curto prazo”, conclui na ocasião.
Hapvida-NotreDame: melhor do que o esperado
Também no segmento de saúde, na noite de ontem a Hapvida (HAPV3) anunciou via fato relevante a aprovação também pela Superintendência-Geral do Cade a combinação de negócios entre a ela e o Grupo Notre Dame Intermédica.
A notícia fez com que as ações GNDI3 subissem até 12,44% nesta quinta, ainda que amenizassem para ganhos menores, enquanto os ativos HAPV3 chegaram a disparar 11,80%. Os ativos GNDI3 fecharam em alta de 3,17% (R$ 66,03) e HAPV3 tiveram ganhos de 1,58% (R$ 11,54).
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A operação foi aprovada sem restrições, e agora deve-se esperar 15 dias para que algum ministro da corte do Cade solicite ou não uma análise mais aprofundada. Caso essa análise não seja solicitada, o negócio será automaticamente aprovado.
O Bradesco BBI apontou que, embora a aprovação já fosse esperada, a notícia é positiva, visto que (i) algum remédio poderia ter sido necessário (ou seja, venda de até 2% do total de vidas); e (ii) a decisão final antitruste deve ser rápida: potencialmente na sexta-feira, visto que o tribunal tem 15 dias corridos para questionar a análise técnica (o que seria 2 de janeiro), e o fato de o período de recesso começar na sexta-feira. As empresas devem anunciar uma orientação para sinergias após a decisão final da autarquia.
“Esperamos um [Valor Presente Líquido] VPL de R$ 32 bilhões (já incluído no preços-alvo), que está na faixa inferior da
avaliação preliminar das empresas de R$ 30 bilhões a R$ 90 bilhões”, avalia. Assim, os analistas da casa reafirmaram a recomendação de compra em HAPV3 e GNDI3, devido a: (i) uma avaliação atraente, (ii) sólidos fundamentos de crescimento; e (iii) impulso positivo dos lucros na normalização da MLR e sinergias.
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A aprovação dá o sinal verde para a criação de uma das maiores empresas de saúde do mundo. Somados os números das duas companhias, a nova empresa terá quase 8 mil leitos, 9,5 milhões de vidas nos planos de saúde, 7,2 milhões em plano dental, além de uma receita combinada de R$ 28,5 bilhões e um market cap de R$ 82,7 bilhões.
Cabe ressaltar que a aprovação da operação ocorre após seis meses de análise pela SG e uma sinalização do Cade de que a
operação era complexa e exigia uma análise profunda de seus efeitos no mercado. Portanto, a aprovação sem restrições e mais rápido que o esperado foi bem-vinda pelo mercado, com impactos positivos nas ações.
“Vemos a fusão de forma muito positiva para a nova companhia, que se tornará uma gigante do setor e em busca de uma maior consolidação do mercado, que hoje é altamente pulverizado. Também vemos grandes sinergias a serem obtidas com a fusão, com o compartilhamento de despesas, além de sinergias tributárias e da maior venda de planos na rede da Intermédica”, destaca a Levante, que vê um mercado aquecido para operações do gênero no setor, com grandes players do setor buscando sua consolidação.
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Localiza-Unidas: com restrições, mas um bom desfecho
Também contando com grande emoção por parte dos investidores por conta do desfecho visto com incerto da operação, o Tribunal do Cade aprovou no início da tarde da quarta-feira, com restrições e um placar apertado, a proposta de incorporação da Unidas (LCAM3) pela Localiza (RENT3).
Na véspera, as ações chegaram a subir forte logo após a notícia, ainda que amenizando, com LCAM3 fechando em alta de 4,43%, a R$ 26,62, enquanto ativos RENT3 subiram 3,13%, a R$ 59,29. Já a sessão desta quinta foi de leve alta para os ativos, com alta de 1,16% (R$ 26,93) para LCAM3 e de 0,74% (R$ 59,73) para RENT3.
Conforme destaca o BBI, o fechamento do negócio pode levar mais alguns meses para que a venda da marca Unidas, e o desinvestimento parcial da frota de rent-a-car (aluguel de veículos) da Unidas, entre outras restrições, ainda deva
ser aprovado pelo Cade.
Para os analistas do banco, as restrições vieram em linha com o cenário-base do banco, com: 1) a venda da marca Unidas, 2) a Unidas precisará vender um número não divulgado de carros (a estimativa do BBI é de cerca de 50.000 carros) e lojas de
aluguel de automóveis; 3) nenhuma atividade de fusões e aquisições) no setor de aluguel de automóveis por um mínimo de 3 anos; 4) a venda de um número não divulgado de lojas Seminovos; e 5) o término do acordo de não concorrência com a Vanguard e o acordo de encaminhamento mútuo.
Com relação à concorrência, os analistas ressaltam que a Movida (MOVI3) já havia preparado previamente o terreno para este cenário. A Simpar (SIMH3), holding da companhia, adquiriu dois grupos de concessionárias autorizadas em 30 dias, aumentando o poder de preços da Movida e da Original com as montadoras de automóveis.
“De acordo com nossas estimativas, a Movida reduziu significativamente a lacuna para carros novos adquiridos para a Localiza-Unidas para -20%, de -30% sem considerar a UAB Motors e a Sagamar. Além do fortalecimento de suas relações com outras montadoras, a Movida também terá acesso às concessionárias autorizadas para a manutenção da frota e a venda de carros usados. No entanto, não vemos a fusão Localiza-Unidas como um jogo de mudança para a Movida”, avaliam.
Eles também ressaltam que o caso Localiza-Unidas pode se estender para outras operações, como no setor aéreo.
“Em nossa opinião, a aprovação com restrições da fusão Localiza-Unidas confirma nossa opinião de que o Cade também
pode aprovar a fusão Azul AZUL4)-LATAM Airlines Group, mas a nova companhia precisaria devolver alguns slots no aeroporto de Congonhas. A LATAM Airlines Group já apresentou seu plano de reestruturação, que ainda precisa ser aprovado pelo tribunal americano de falências e credores. Portanto, a Azul ainda está no jogo para adquirir a LATAM”, avaliam.
Os analistas do BBI mantém recomendação de compra para Localiza (preço-alvo de R$ 70), Unidas (preço-alvo de R$ 31) e Movida (preço-alvo de R$ 28).
A XP também têm recomendação de compra para as três companhias do setor, com preço-alvo de R$ 68 para RENT3, de R$ 36 para Unidas e de R$ 26 para Movida.
Os analistas também destacam a notícia como positiva uma vez que os remédios foram negociados com as empresas, o que faz acreditar que o potencial desinvestimento não elimina a criação de valor do negócio e por acreditarem que os investidores já esperavam um aumento potencial no número de carros a serem vendidos e a venda da marca Unidas.
Sobre os próximos passos, eles apontam que ainda não está claro se detalhes sobre os remédios estruturais serão divulgados pelo Cade antes do fechamento do negócio. “As etapas até o fechamento são: (i) finalizar as negociações com os potenciais compradores; (ii) o CADE terá 30 dias para aprovar/reprovar o comprador indicado; e (iii) etapas processuais finais para o fechamento do negócio”, destacam.
O que vem por aí?
Enquanto importantes decisões foram tomadas em 2021, os investidores já estão de olho na pauta do Cade para 2022. De acordo com o portal especializado Telesíntese, os presidentes das grandes operadoras móveis brasileiras se reuniram na terça (13) com o relator do processo de venda da Oi Móvel no Cade, Luis Braido.
O negócio de serviço móvel da Oi foi objeto de leilão judicial realizado em dezembro de 2020. Na ocasião, as concorrentes TIM (TIMS3), Claro e Telefônica Brasil (VIVT3) apresentaram oferta conjunta e adquiriram os ativos dessa unidade produtiva do grupo.
Entre os assuntos da reunião de terça, a promessa de que não haverá redução da competição e pedidos para que o colegiado do Cade analise o caso o quanto antes pela autarquia. “Há pedido das empresas para que seja realizada uma reunião extraordinária em janeiro por parte do conselho da autarquia para aprovar a venda”, destaca o portal.
O Cade tem 240 dias, prorrogáveis por mais 90, para deliberar sobre o tema. Como o processo foi instaurado em 23 de março, o tempo se esgotará em 15 de fevereiro. Até lá, o comitê precisa emitir sua posição definitiva.
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