Quatro crises que abalaram a Petrobras (e o que aconteceu com as ações em cada uma)

Os papéis da estatal estão entre os mais populares entre os pequenos investidores, mas sentiram o impacto de problemas de toda ordem na última década

Mariana Segala

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – Ao longo dos anos, as ações da Petrobras – que estão entre as mais negociadas da bolsa brasileira – se tornaram algumas das mais conhecidas entre os pequenos investidores. Políticas de popularização, como a que permitiu aos trabalhadores aplicar parte dos recursos do FGTS nos papéis da empresa, no início dos anos 2000, fizeram deles conhecidos e desejados por muito tempo.

Só que desde 2008, quando alcançaram o seu maior valor, no embalo da demanda por commodities e pouco antes de serem derrubadas pela crise financeira global iniciada no setor imobiliário americano, problemas de toda ordem minaram as cotações da Petrobras – e a paixão dos investidores pelas ações da estatal.

O mais recente, na última sexta-feira (19), foi a indicação do governo do general Joaquim Silva e Luna como substituto do presidente Roberto Castello Branco, desencadeando uma crise que fez a estatal perder R$ 102 bilhões em valor de mercado em dois dias.

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Mas o que aconteceu em cada uma das últimas crises vividas pelas ações da Petrobras? InfoMoney listou quatro casos recentes. Confira:

Pandemia de coronavírus (2020)

No começo de 2020, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) vinham de um período de três meses cotadas a cerca de R$ 30. Em cerca de um mês, entre fevereiro e março, os papéis recuaram até o patamar dos R$ 11.

A queda aconteceu em meio à eclosão da pandemia de coronavírus, que derrubou a demanda por petróleo e deu início a uma guerra de preços entre países produtores. A Rússia e as nações associadas à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não se entenderam quanto aos níveis de produção.

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Diante do impasse, que já vinha causando impactos sobre os preços, a Arábia Saudita – um dos países com condições mais competitivas de produção – anunciou a decisão de aumentar os níveis de extração.

Com a perspectiva de excesso de oferta e demanda em baixa, dadas as restrições de circulação por conta da pandemia, o valor da commodity no mercado global despencou. A situação chegou ao ponto de contratos futuros serem negociados a valores negativos, algo inédito.

Com o retorno de atividades que haviam sido suspensas e a recuperação gradual dos preços do petróleo, as ações da Petrobras também voltaram para os patamares anteriores. “Podemos dizer que foi até rápido o retorno das cotações”, diz João Paulo Teixeira Cardoso, sócio da Unnião Investimentos.

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O que aconteceu depois? No início de janeiro deste ano, as ações preferenciais chegaram a ser cotadas acima de R$ 30 novamente, zerando as perdas de 2020.

Greve dos caminhoneiros (2018)

A alta dos preços dos combustíveis, especialmente do diesel, levou os caminhoneiros a paralisar as atividades – e por consequência, o Brasil – por cerca de 10 dias, em maio de 2018. As cadeias de abastecimento foram afetadas, com impactos sem precedentes sobre a distribuição de alimentos, insumos médicos, entre outros.

Na época, o então Ministério da Fazenda chegou a estimar que a paralização tenha eliminado 1,2 ponto percentual do crescimento do PIB daquele ano.

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As ações preferenciais da Petrobras (PETR4) recuaram 44% entre 15 de maio e 15 de junho, aprofundando as perdas com a renúncia de Pedro Parente, que presidia a estatal à época. Só no dia do anúncio da sua saída, os papéis recuaram quase 15%.

Parente comandava a Petrobras havia dois anos, tendo substituído Aldemir Bendine, envolvido nas denúncias feitas pela Operação Lava Jato. Durante sua gestão foi estabelecida a política de preços dos combustíveis, baseada em dois fatores: a paridade com os valores praticados no mercado internacional e uma margem para remunerar riscos inerentes à operação, como a volatilidade da taxa de câmbio e os tributos.

O que aconteceu depois? As ações da Petrobras levaram aproximadamente quatro meses para recuperar o valor, em outubro de 2018.

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Joesley Day (2017)

A bolsa brasileira teve seu primeiro circuit breaker – interrupção dos negócios em função da queda acentuada do mercado – em mais de 10 anos no dia 18 de maio de 2017, e as ações da Petrobras contribuíram para esse cenário.

A data ficou conhecida como “Joesley Day”. Na véspera, havia sido divulgado um áudio gravado por Joesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS, de uma conversa sua com o então presidente da República Michel Temer.

O áudio dava a entender que Temer dava seu aval para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso por desdobramentos relacionados à operação Lava-Jato. A reação do mercado – que passou a enxergar a renúncia de Temer como uma possibilidade real – foi aguda.

“A reforma da previdência, que era um tema importante na época, estava quase aprovada e ficou em risco. Houve um aumento grande do risco-país que afetou todos os setores, extrapolando seus efeitos também para estatais como a Petrobras”, diz Carlos Daltozo, head de Renda Variável da Eleven Financial. Os papéis preferenciais caíram quase 16% em um só pregão.

O que aconteceu depois? Os papéis da Petrobras recuaram no Joesley Day, mas não aprofundaram muito a queda nas semanas seguintes. Em setembro de 2017, as cotações estavam de volta aos níveis pré-crise.

Operação Lava-Jato (2014)

Os anos de 2014 e 2015, além de parte de 2016, foram marcados por perdas sucessivas de valor da Petrobras no mercado em função das revelações da Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014.

O envolvimento da Petrobras no esquema de corrupção – baseado em cobrança de propina de empreiteiras, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e superfaturamentos de obras públicas – ficou conhecido como “Petrolão” e minou a confiança dos investidores na estatal.

Membros do alto escalão da empresa foram presos, como Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento), Nestor Cerveró (ex-diretor da área Internacional e ex-diretor financeiro da BR Distribuidora), Renato Duque (ex-diretor de Serviços), Pedro Barusco (ex-gerente-executivo de Engenharia), Jorge Zelada (sucessor de Cerveró na área Internacional), entre outros.

“Todas as denúncias de desvios e delações premiadas explodiram nessa época”, lembra Daltozo, da Eleven. A cada nova delação premiada, mais denúncias se somavam às anteriores, causando novas perdas aos acionistas na bolsa.

Os problemas causados pela corrupção levaram a Petrobras a registrar, em 2014, o maior prejuízo anual desde 1991. A companhia informou que a baixa contábil pelo esquema de pagamentos investigado pela Lava Jato havia superado R$ 6 bilhões.

Entre 1º de janeiro de 2014 e 31 de dezembro de 2015, as ações preferenciais da Petrobras perderam 57% do seu valor.

O que aconteceu depois? Com o saneamento gradual das contas da empresa, trocas na diretoria, criação de planos de desinvestimento e mudanças nas políticas de preços, as ações se recuperaram. Foram muitos altos e baixos, mas os papéis retomaram o patamar de fins de 2013 em outubro de 2016.

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Mariana Segala

Editora de Investimentos do InfoMoney