Queda de estatais e “revolução dos micos” agitam a volta do feriado na Bovespa

Petrobras, Eletrobras e bancos caem após Dilma aumentar distância sobre Aécio; elétricas lideram perdas após disparada de quarta-feira; Gol, JBS, BB Seguridade e Cielo também estão no radar

Thiago Salomão

Veículos em rodovia
Veículos em rodovia

Publicidade

SÃO PAULO – Quem esperava que a agenda fraca de notícias nesta volta de feriado poderia deixar o clima morno na Bovespa, se enganou. Estatais, bancos, empresas de telecomunicações e do setor elétrico agitam o último pregão da semana, que caminha para terminar em queda.

Além destes destaques setoriais, algumas estrelas individuais, como Gol, Cielo, BB Seguridade e JBS também estão no radar. As small caps Direct to Company e All Ore também roubaram a cena. 

Confira abaixo as ações que têm dado o que falar na Bovespa nesta volta de feriado:

Continua depois da publicidade

Estatais e bancos
Reagindo à nova pesquisa CNI/Ibope divulgada no feriado de quinta-feira (19) e devolvendo parte dos ganhos acumulados na quarta-feira (18), as ações das estatais e bancos abrem esta sexta-feira (20) no negativo. Destaque para Petrobras (PETR3, R$ 17,56 -2,01%; PETR4, R$ 18,70, -1,58%), que chegou a cair quase 2% nesta manhã, após subirem 4% antes do feriado.

Embora a pesquisa eleitoral divulgada ontem tenha mostrado queda na avaliação e na popularidade da atual presidente, as intenções de voto mostraram leve vantagem para Dilma – a petista subiu de 38% para 39% enquanto Aécio Neves caiu de 22% para 20%. Como as ações das estatais e dos bancos estavam se valorizando a cada queda de Dilma nas pesquisas – com os investidores estimando que uma possível mudança de governo poderia beneficiar estes dois grupos -, o resultado de ontem teve impacto negativo nas ações.

Outra estatal que está em queda é a Eletrobras (ELET3, R$ 6,58, -5,60%; ELET6, R$ 10,56, -2,76%). No setor financeiro, Banco do Brasil (BBAS3, R$ 25,62, -0,97%), Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 33,57, -1,47%) e Bradesco (BBDC4, R$ 34,35, -0,26%) também caem entre 0,5% e 2%. Sobre o BB, vale mencionar que o Deutsche Bank cortou a recomendação das ações de “compra” para “neutra”

Continua depois da publicidade

Fibria e Suzano
Suzano (SUZB5, R$ 8,86, +2,67%) e Fibria (FIBR3, R$ 23,34, +1,30%) estendem os ganhos da última sessão ainda empurradas pelo anúncio de retorno do Reintegra, um programa de devolução de parte dos importos pagos por exportadores; a medida, no entanto, afetará mais as duas companhias.

Em relatório, o Citi Research afirmou que Fibria, Suzano e Klabin (KLBN11, R$ 11,45, +2,60%) devem se beneficiar no setor de papel e celulose, Usiminas (USIM5, R$ 8,11, -1,22%) no de siderurgia, Tupy (TUPY3, R$ 19,89, -0,55%) no de fundição de blocos, Embraer (EMBR3, R$ 20,30, -2,96%) no de fabricação de aeronaves e Braskem (BRKM5, R$ 15,19, +0,26%) no petroquímico.

Tais empresas teriam um impacto positivo de 1% a 6,8% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) previsto para 2015, segundo o Citi. Os destaques ficariam com Fibria (6,8%) e Suzano (5,9%). Embraer teria o menor ganho, de 1%, segundo o Citi.

Continua depois da publicidade

Mico 1 – All Ore (AORE3, R$ 0,28, +47,37%)
A semana também marcou uma “revolução dos micos” na Bovespa, com várias empresas de baixíssimo valor de mercado e liquidez escassa dando o que falar no pregão. Uma delas foi a All Ore: após cair 93% em 4 pregões de maio após um acionista minoritário vender 6 milhões de ações da companhia a R$ 0,01 (os papéis valiam R$ 1,00 na Bolsa na época), a mineradora pré-operacional subiu mais 47,37% nesta sexta-feira, fechando a R$ 0,28. Somada com a alta de quarta-feira, a empresa ganhou 100% de valor de mercado em apenas dois dias (leia mais clicando aqui).

O volume financeiro também surpreende, tendo superado a faixa de R$ 1,1 milhão nestes dois pregões – a média dos 21 pregões anteriores girava em torno de R$ 150 mil por dia. Já o número de negócios, superou a faixa de 500 tanto quarta quanto hoje.

Mico 2 – Direct to Company (DTCY3, R$ 0,78, 0,00%)
Apesar de registrar queda no pregão desta sexta-feira, a Direct to Company (DTCY3), uma small cap fora do Ibovespa, tem dado o que falar a semana inteira. Nesta sexta, as ações chegaram a subir 10,26%, valendo R$ 0,86, antes de voltarem para os R$ 0,78 do fechamento anterior e fecharem o pregão de hoje a R$0,76. Na semana, a alta acumulada chega a 168,9%.

Continua depois da publicidade

No início da semana, a DTCOM anunciou uma parceria com a ISAE (Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul). Segundo fato relevante, a empresa fará um projeto piloto voltado ao setor de saúde, denominado UNIPRÓ Saúde, que tem como objetivo a venda de cursos especializados aos profissionais da área, através de plataforma e-commerce. A receita da venda dos cursos será destinada aos pagamentos dos custos operacionais das partes, sendo que o resultado da operação será dividido de acordo com a participação de cada empresa no projeto.

Além deste, a empresa anunciou outra acordo: a E-MARKET, elegeu a empresa como parceira de negócios, tendo como objetivo a oferta das soluções da empresa E-DOCEO. “A DTCOM aposta em uma forte aceitação das soluções ofertadas ao mercado consumidor, por esta razão dispõe a enviar seus esforços comerciais para expansão do projeto em âmbito nacional”, informa a empresa por meio de comunicado enviado ao mercado na terça-feira.

Revolução dos micos 3 – BR Insurance (BRIN3, R$ 10,26, +8,00%)
Embora não tenha o valor de mercado de um “mico”, a BR Insurance foi um grande fiasco na Bolsa em abril, quando caiu mais de 60% em menos de 5 pregões. Contudo, nesta sexta-feira os papéis subiram 8%, a R$ 10,26 e já soma ganhos de 80% desde sua mínima na Bovespa alcançada em abril. Procurada pelo InfoMoney, a companhia destacou que não tem conhecimento de nenhuma movimentação que leve a alta, destacando que este é um movimento de mercado.

Continua depois da publicidade

Vale ressaltar que as ações passaram a registrar um forte movimento de alta desde o começo de junho, após o blog Primeiro Lugar, da Exame.com, dizer que a Gávea Investimentos, gestora do ex-ministro da Fazenda, Armínio Fraga, estaria negociando com os acionistas da companhia como fazer essa compra. Alguns destes acionistas permaneceriam sócios da empresa mesmo após um eventual fechamento de capital, aponta a publicação. Contudo, a mesma nota reforçou que as negociações são preliminares e é possível que não deem em nada. A BR Insurance informou desconhecer a origem da informação publicada, bem como qualquer negociação entre fundos de investimentos e seus acionistas.

Elétricas
Maiores altas do Ibovespa na quarta-feira, as ações das elétricas registram que na abertura deste pregão com investidores realizando lucros após forte alta na última quarta-feira, quando elas reagiram positivamente. Destaque para a Cemig (CMIG4, R$ 18,07, -2,85%), CPFL Energia (CPFE3, R$ 20,48, -1,68%) e Eletropaulo (ELPL4, R$ 10,34, -2,36%).

Na terça-feira, o diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Romeu Rufino, expôs certa divergência com as demais autoridades do governo ao defender na que o preço da energia de curto prazo (PLD) ainda está acima do suportável pelas companhias, admitindo um novo empréstimo para as distribuidoras. Na contramão dos dirigentes dos ministérios da Fazenda e de Minas e Energia, Rufino coloca um novo empréstimo bancário como uma das alternativas com as quais o governo trabalha.

BB Seguridade (BBSE3, R$ 31,77, -1,79%)
A seguradora do Banco do Brasil reage negativamente à notícia de que a IRB, empresa na qual ela é acionista, pode sofrer um prejuízo significativo por conta de problemas entre a Itaú Seguros e a mineradora Anglo American, que travam uma queda de braço em torno de uma indenização de cerca de R$ 400 milhões para reparar as perdas que a companhia sofreu com um acidente no Porto de Santana, no Amapá. A IBR é líder do contrato de resseguro da apólice da Anglo.

“O anúncio em questão demonstra mais um imbróglio jurídico que envolve, principalmente, instituições financeiras como Itaú e acionistas do IRB, como Banco do Brasil e BB Seguridade, e pode gerar prejuízo significativo em termos de ressarcimento para a Anglo American”, diz a equipe de análise da XP Investimentos.

Vale lembrar que no começo da semana o Bradesco BBI revisou suas estimativas para a BB Seguridade, elevando o preço-alvo de R$ 31,30 para R$ 32,20, mas reduzindo a recomendação para os papéis de compra para manutenção. “Entendemos que o momento ainda é favorável para os resultados da empresa, com o segundo trimestre podendo ser beneficiado por um resultado financeiro mais forte, além de termos expectativa de crescimento forte lucro para o biênio 2014-2015”, destaca o banco.

JHSF (JHSF3, R$ 3,90, -1,52%)
A JHSF Participações anunciou ontem a noite o acordo para a compra de 13 restaurantes que compõem o Grupo Fasano e o conjunto das marcas Fasano, tudo isso pelo valor de R$ 53 milhões. A controlada indireta da JHSF, a Hotel Marco Internacional, que é responsável pelos hotéis Fasano, assinou acordo com membros da família Fasano prevendo a aquisição das 13 unidades. Segundo a JHSF, o montante corresponde a cerca de 5,5 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do conjunto dos restaurantes em 2013. 

“A integração das operações de alimentos e bebidas às dos hotéis Fasano possibilitará ganhos de sinergia e a exploração da marca em outros segmentos do alto luxo – agora em um único universo”, disse a companhia em comunicado, acrescentando que a conclusão da operação ainda está sujeita ao cumprimento de condições precedentes.

Cielo (CIEL3, R$ 45,02, +0,22%)
Uma das melhores ações do Ibovespa nos últimos anos, a Cielo teve preço-alvo de suas ações elevado pelo JPMorgan, passando de R$ 40,00 para R$ 46,00, o que condiz mais com a realidade da empresa na Bovepa, já que ela está cotada perto de sua máxima histórica (R$ 45,43). o banco manteve recomendação “neutra” para a ação, devido ao “limitado potencial de valorização de 6,2%, incluindo o dividend yield estimado de 3,8% para 2015”. Em 2014, as ações acumulam ganhos de 39%, enquanto o Ibovespa sobe apenas 6% no período.

JBS (JBSS3, R$ 7,70, -3,51%)
O Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia liberou na quarta-feira as importações de carne bovina de uma unidade da JBS em Mato Grosso (SIF 42). O Brasil possui no total 58 unidades produtoras de carnes bovinas com autorização para exportar para a Rússia. Dessas, apenas a metade está com as vendas liberadas para o país, sendo que 5 plantas ficam sujeitas a controle laboratorial reforçado, com conclusões pendentes de testes adicionais de laboratórios. Os outros 26 frigoríficos estão sob restrição temporária, segundo o órgão russo.

Gol (GOLL4, R$ 12,32, -2,14%)
Uma das grandes “vítimas” da Bovespa caso a piora da situação no Iraque resulte em uma disparada nos preços do petróleo – principal linha dos custos operacionais da empresa -, a Gol chegou a operar perto da estabilidade nesta sexta-feira, mas fechou o pregão com queda de 1,83%, acumulando perdas de quase 5% no mês.

Ainda no noticiário da companhia aérea, o Conselho de Administração aprovou na noite de quarta-feira a recompra de títulos de dívida no mercado externo. Uma delas será realizada à subsidiária Gol Finance e referem-se a títulos com vencimento em 2017. A outra, pela Gol LuxCo, será para a aquisição de títulos com vencimento em 2023. As ofertas para aquisição dos títulos serão de até US$ 150 milhões, menos o valor pago pela aquisição das Notes 2023, disse a Gol.

Santander Brasil (SANB11, R$ 15,55, -1,02%)
O Santander anunciou acordo para a venda de 50% de seu negócio de custódia qualificada para um grupo de investidores liderado pela gestora de fundos de “private equity” americana Warburg Pincus. O serviço de custódia se refere à guarda de títulos, como ações, detidos por investidores e envolve as divisões do banco em Espanha, Brasil e México, no qual foi avaliado em € 975 milhões na transação. Com a venda, o Santander Brasil deverá receber aproximadamente R$ 859 milhões à vista, sujeito a ajustes, na data de fechamento da operação, prevista para o quarto trimestre deste ano. O banco informou que usará os recursos “no curso ordinário dos negócios”.

“A transação em questão não deve alterar o valor da instituição de forma significativa. Dado que o grupo continua envolto no processo para a aquisição de units, que continua avançando, conforme o esperado”, avalia a equipe de análise da XP Investimentos.

Anima (ANIM3, R$ 29,55, -0,17%)
A empresa informou que a compra da sociedade mantenedora da Universidade São Judas Tadeu pela sua subsidiária integral Minas Gerais Educação (MGE) foi aprovada sem restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo fato relevante, a integração das atividades da São Judas ao grupo ocorrerá em 1º de julho. A operação havia sido anunciada em 10 de abril.

“A aprovação sem restrições é positiva mais por conta da rapidez, dado que o acordo ocorreu em Abril. Com isso a Anima já poderá iniciar o processo de integração com mais intensidade”, avalia a equipe da XP Investimentos. 

Vivo (VIVT4, R$ 44,65, -3,76%e Tim (TIMP3, R$ 12,94, -2,34%
O setor de telecomunicações reage negativamente à notícia de que o valor cobrado pelas operadoras de telefonia celular pelo uso de sua rede por companhias concorrentes deve cair 90% até 2019, de acordo com uma norma aprovada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Atualmente, as empresas pagam em média R$ 0,23 por minuto pelo uso da rede de outra operadora. Em 2016, a redução deve ser para R$ 0,10 por minuto. A previsão do órgão regulador é que, até 2019, esse valor atinja R$ 0,02/minuto.

Segundo o conselheiro da Anatel, Rodrigo Zerbone, relator do processo, como o custo da interconexão é muito elevado, as empresas desestimulam seus clientes a fazer esse tipo de ligação. “É por isso que as companhias costumam dar todos os descontos e benefícios para ligações feitas dentro da própria rede”, afirmou.

Saraiva (SLED4, R$ 19,34, +0,10%)
As ações da empresa voltam a subir na Bolsa após o feriado, ainda repercutindo a informação de que a Secretaria de Educação Básica aprovou 74% das obras inscritas pela companhia no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). Segundo a empresa, 17 obras receberam o aval da secretaria, que pertence ao Ministério da Educação, de um total de 23 inscritas. O percentual de aprovação é superior aos 66% obtidos no programa de referência (PNLD/2012), disse a Saraiva. Em comunicado, a companhia acrescentou que as obras serão incluídas no Guia do Livro Didático, produzido pelo MEC. A escolha dos livros que serão adotados é feita pelas escolas participantes, com base em sua proposta pedagógica.

Marfrig (MRFG3, R$ 5,84, -4,26%)
Campeã do Ibovespa em maio e uma das maiores altas de junho, a outrora problemática Marfrig (MRFG3) enfim cedeu na Bovespa e teve nesta sexta seu pior pregão desde 15 de abril. Ao longo do ano, a empresa de alimentos ainda acumula valorização de 
46%, no embalo de sua melhora operacional e readequação do seu endividamento – um dos grandes males da companhia.  

No último dia 9, a empresa precificou a emissão de US$ 850 milhões em bônus de cinco anos ao par e com rendimento de 6,875%. Inicialmente, o yield estimado era de 7,25%, mas a faixa indicativa foi reduzida posteriormente a 7%, informou mais cedo o IFR, serviço da Thomson Reuters. Os recursos levantados pela companhia serão usados para a recompra dos títulos com vencimento em 2017 que tinham taxa de juros fixa de 9,875%, títulos com vencimento em 2021 com taxa de juros fixa de 11,25% e para o refinanciamento de dívidas bancárias existentes, disse a Marfrig, em comunicado.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers