Raízen (RAIZ4): os catalisadores para as ações que estão no radar do mercado após o Investor Day

Captura de valor em ganhos de produtividade, alocação de capital e desinvestimentos estão no radar, com analistas reiterando visão positiva para companhia

Felipe Moreira

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Nesta semana, a Raízen (RAIZ4) realizou o seu dia do investidor (ou Investor Day), de forma a trazer as principais tendências dos negócios.

A companhia destacou que o rendimento das colheitas continua a ser uma prioridade. Enquanto no ano passado a Raízen entregou 70 milhões de toneladas de cana por hectare, a empresa pretende atingir potencialmente 83 milhões de toneladas nos próximos anos, entre o 4º/5º corte de cana-de-açúcar, o que deve melhorar a produtividade. Se a companhia conseguir fazer isso, a administração prevê um incremento de R$ 3 milhões no fluxo de caixa operacional. Isso deve ser alcançado por meio de tecnologia e revisão dos processos de tratamento e colheita.

A empresa ainda apontou ter obtido sucesso na entrega de açúcar aos consumidores finais em mais de 40 países, reduzindo o número de tradings. A Raízen acredita que existe atualmente um novo equilíbrio de preço do açúcar (atualmente em US$ 0,25 por libra), impulsionado pela continuidade do crescimento da demanda não acompanhado da oferta. A companhia deve gradativamente capturar esse upside ao refazer o hedge de preços nas safras futuras, destacou.

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A companhia ainda destacou sua visão sobre a recente mudança na política de preços da Petrobras (PETR4). De acordo com a Raízen, a política de comercialização deve favorecer grandes compradores na distribuição de combustíveis.

A administração acredita que a estratégia da Petrobras de defender a participação no mercado doméstico deve beneficiar grandes consumidores de combustíveis com melhores condições de pagamento que devem melhorar o capital de giro. Além disso, a empresa estatal parece estar disposta a lutar com o diesel da Rússia por uma participação no mercado doméstico, o que deve remover a vantagem das empresas de distribuição menores, apontou a companhia no evento.

Durante o evento, a empresa ainda apontou que está estudando oportunidades de desinvestimento e atração de parceiros estratégicos, a fim de alavancar seu balanço e potencializar o crescimento em suas diferentes unidades de negócio.

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Segundo o CEO da Raízen, Ricardo Mussa, não foram estabelecidas metas para esse plano de “reciclagem de portfólio”, e eventuais ações nesse sentido seriam tomadas “com muito rigor” e sem afetar a estratégia de longo prazo da companhia.

A alavancagem pretendida é de 1,6-1,8 vez a relação entre dívida líquida/Ebitda, com a orientação de capex da empresa de R$ 13,0-R$ 14,0 bilhões (70% de manutenção) sendo o pico, caindo gradualmente depois disso. A empresa continuará seus esforços para capturar créditos tributários, que podem somar R$ 12 bilhões ao longo do tempo (5-6 anos).

A XP Investimentos apontou que, sempre quando tem contato com a alta administração da Raízen, sai com uma visão positiva de longo prazo reiterada para nome, pois vê a companhia como a empresa mais bem preparada para aproveitar a atual tendência mundial de transição energética.

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Também com uma visão positiva, o BTG Pactual classificou após o Investor Day que a Raízen é a intersecção da agilidade e empreendedorismo da Cosan (CSAN3) com a visão de longo prazo e escala global da Shell.

“Para nós, esses atributos moldaram o estilo e as vantagens competitivas de uma das empresas mais admiráveis do nosso universo de cobertura. O Investor Day 2023 da Raízen, realizado esta semana, em muitos aspectos, reforça tudo isso. Vimos uma equipe de gestão conceituada e motivada na vanguarda das possibilidades de transição energética e soluções de mobilidade”, apontam os analistas do BTG.

Para eles, o desempenho das ações desde o IPO não corresponde à recomendação de compra para os papéis. “Mas, como a Raízen atravessa o pico de capex deste ano e os projetos de expansão ainda não estão desenvolvidos, acreditamos que há muito potencial de valor a ser gerado nos próximos 12 a 24 meses”, avaliam.

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Os analistas da XP apontaram ainda potenciais catalisadores para o desempenho das ações no curto prazo.

Segundo eles, os preços dos papéis da Raízen podem ser impulsionados pela (i) captura de valor em ganhos de produtividade agrícola; (ii) alocação de capital; e (iii) desinvestimentos.

Nesse contexto, a equipe de research da XP lembra que a Raízen reportou ganhos de produtividade de cerca de 20% na base anual para a safra 23/24 nas canas de primeiro ao terceiro corte, que agora responde por mais de 60% da safra total de cana-de-açúcar, sugerindo que o guidance de alta de 10% na comparação anual é conservador. Com base nisso, a previsão de cerca de 80 milhões de toneladas de moagem para esta temporada também pode estar no limite inferior, deixando espaço para um risco potencial de alta.

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Além disso, os analistas da XP destacam que a Raízen espera que toda a cana atinja seu potencial produtivo em 2 anos. “A combinação de menores custos unitários e maior produção pode levar a um impacto positivo de R$ 3 bilhões na geração de caixa (FCF), nas estimativas da companhia”.

Por outro lado, disse que compartilha das preocupações dos investidores sobre o risco de execução e que a precificação de todos os projetos de transição energética pode demorar para acontecer.

Com relação a desinvestimentos, embora com pouca divulgação, a administração está avaliando opções de reciclagem de portfólio (non-core), o que pode ajudar a diminuir as preocupações dos investidores com alavancagem, na visão da XP.

O BTG cita que as apresentações durante o Investor Day abordaram os principais aspectos da tese da Raízen. Eles podem ser resumidos em três frentes, em ordem de prioridade: (i) manter o status de grau de investimento com índice de
alavancagem entre 1,6 vez e 1,8 vez, como citado anteriormente; (ii) garantir que o capex seja bem executado para que a Raízen cumpra seus planos de crescimento; e (iii) perseguir opcionalidades quando e se as metas anteriores forem
atingidas.

“Nossa percepção é que a Raízen vê os próximos 18 meses como cruciais para cumprir seus planos de etanol de segunda geração (E2G) e renovar a produção de cana-de-açúcar sem comprometer a solidez do balanço. Após isso, a Raízen espera se tornar um forte gerador de caixa e de dividendos”, ressalta.

O Bradesco BBI aponta ainda que continua vendo a empresa em uma gradual inflexão nas operações nos próximos anos. “Enquanto as despesas de capital devem começar a cair, os resultados operacionais devem melhorar com: (1) preços mais altos do açúcar (atualmente em US$ 0,25/libra), (2) colheitas mais fortes ajudadas por iniciativas de produtividade e fatores climáticos, e (3) menores custos de insumos, como diesel e fertilizantes. Tudo isso deve ser potencializado pelo foco da empresa em créditos tributários”, explica o banco.

O JPMorgan, por sua vez, destacou que a produtividade agrícola é o principal foco da empresa agora, sendo o tópico mais relevante para a criação de valor. A Raízen está no caminho certo para aumentar os rendimentos de TCH (toneladas de cana por hectare) em 20%, com potencial para aumentar o FCF em R$ 3 bilhões por ano.

O banco americano também comentou que a administração da Raízen espera que 2023 seja mais estável em termos de margens e reforçaram sua estratégia de foco no cliente, explorando o crescimento do fornecimento de energia renovável na carteira de seus clientes.

Já o Itaú BBA avalia que a empresa segue confiante na evolução de sua jornada de produtividade, já que mais da metade de seu canavial está mais próximo de seu pleno potencial, o que deve se traduzir em maiores volumes de moagem. Em relação aos ativos fiscais, a gestão da companhia acredita que poderá rentabilizar o valor acumulado em 2022/23 no médio prazo – entre cinco a dez anos.

O Bradesco BBI reitera classificação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 6, o que representa potencial de valorização de 71,9% frente a cotação de fechamento de quarta-feira (24) de R$ 3,49. O JPMorgan também mantém recomendação equivalente à compra.