Regionalização do varejo tem sido barreira à entrada de multinacionais

Preferencias dos consumidores por região é diferencial e atrapalha a entrada de companhias em novas praças

Estadão Conteúdo

(AJ_Watt/Getty Images)
(AJ_Watt/Getty Images)

Publicidade

A regionalidade do varejo brasileiro tem sido uma barreira à entrada de gigantes multinacionais do setor. Atraídas pelo potencial de consumo, companhias como a americana Walmart e a holandesa Makro, por exemplo, atuaram no país por um longo período. Recentemente, alegando vários motivos, o Walmart deixou o Brasil e o Makro está de saída. Certamente, o fortalecimento e a concorrência do varejo regional verificado nos últimos tempos pesou na decisão.

Quando essas grandes varejistas internacionais chegaram ao país, surgiu a dúvida se os pequenos e médios comércios resistiriam, lembra Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), que realizou uma pesquisa sobre o varejo brasileiro. “Se a tese de grandes companhias com atuação nacional funcionasse, essas varejistas teriam engolido todo mundo e tomado conta do varejo”, diz. Porém, não foi isso que aconteceu.

A lição que fica, segundo o consultor, é que conhecer as preferências do consumidor local é muito mais importante para conquistar o mercado brasileiro do que ser uma grande companhia internacional ou uma gigante nacional. E, nisso, o varejo regional é craque. A rede Supermercados BH, de Minas Gerais, faturou mais de R$ 14 bilhões no ano passado.

Continua depois da publicidade

Longe dos holofotes dos grandes centros, as redes regionais bem administradas, as joias da coroa do varejo brasileiro, conhecem os hábitos de consumo da população local. Por isso, viraram alvo de aquisições de gestoras de investimento.

Elas têm optado pela compra desses ativos em detrimento de grandes redes, como GPA (Grupo Pão de Açúcar) e Natural da Terra, da Americanas, por exemplo, que estão à venda.

A gestora de investimentos Pátria acaba de comprar o controle da rede Atakarejo (mais informações nesta página). A empresa, que, como o nome indica, atua no segmento de atacarejo, faturou R$ 3,7 bilhões no ano passado só com lojas na Bahia e é uma das líderes no Estado. Pela transação, deve ter desembolsado entre R$ 700 milhões e R$ 850 milhões, calculam pessoas com conhecimento nesse mercado (o valor não foi revelado).

Continua depois da publicidade

Desde 2021, a gestora começou a investir no varejo de supermercados, com uma plataforma chamada Plurix, que adquiriu participações em várias redes regionais no Sul e Sudeste.

Com as aquisições feitas, o faturamento dessa plataforma no ano passado somou R$ 3,9 bilhões. Se fosse uma única empresa, ocuparia a 21.ª posição entre as maiores redes do País no ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). “A nossa ambição é estar entre as grandes, com faturamento acima de R$10 bilhões”, diz Marcos Ambrosano, especialista em varejo do Pátria, que por 19 anos foi do Walmart Brasil.

Muitas possibilidades

Ele diz que há um universo muito grande de companhias regionais que podem ser alvo de futuras compras da gestora. O grande diferencial das redes regionais, na sua opinião, é o olhar do empreendedor local, que conhece os hábitos dos clientes. Além disso, a força do agronegócio em cidades do interior das regiões Sul e Sudeste do País tem propiciado boas condições de consumo à população local e de desempenho dessas redes.

Continua depois da publicidade

Neste ano, segundo dados da consultoria Nielsen IQ, o faturamento do atacarejo no total de lojas aumentou 15%, enquanto os supermercados, com mais de quatro caixas registradoras, avançaram 9%.

Varejo alimentar

No início do mês, a gestora de investimentos Pátria comprou o controle da rede regional Atakarejo, com 28 lojas na Bahia. Com isso, estreia no setor de atacarejo e na região Nordeste. Fundada por Teobaldo Costa em 1994, a companhia cresceu 24% no ano passado, em relação ao ano anterior, segundo o ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). A gestora de investimento ficará com 56% do Atakarejo, e Costa, com 44%. O fundador continuará à frente do negócio, tocando o dia a dia da operação, que vai receber injeção de capital do fundo.

Luiz Cruz, sócio do Pátria e responsável pelos novos investimentos de private equity (participação em empresas) no Brasil, diz que a meta é ter mais 50 lojas com a bandeira Atakarejo nos próximos 4 a 5 anos. “Vamos triplicar o tamanho da rede nesse período.”

Continua depois da publicidade

A expansão tanto poderá ocorrer por meio da abertura de lojas (em novas cidades ou nas já existentes) como por meio de aquisições de outras redes. Hoje, das 28 lojas em operação do Atakarejo, 22 estão em Salvador. O foco das novas lojas será cidades com mais de 200 mil habitantes. A aquisição ainda precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.