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SÃO PAULO – Mal começou (ou bem começou) e já está agradando o mercado de ações norte-americano. A temporada de divulgação dos resultados trimestrais foi festejada nesta semana em Wall Street, muito graças às gigantes do setor financeiro. Mas se a comemoração depende da retomada, a festa pode não ser iminente.
Pelo menos conforme os especialistas consultados pela InfoMoney, os avanços expressivos nos lucros de Goldman Sachs e JP Morgan que, nesta ordem, inauguraram o ciclo de divulgação dos bancos, indicam muito mais estratégias acertadas das unidades de investimento do que sinais positivos do crédito.
O primeiro, por exemplo, informou ter lucrado US$ 3,4 bilhões no período, uma alta de 65% em relação a 2008, com destaque para operações mais arriscadas nos mercados. “Não acho que ele fez operações mais arriscadas. Fez tudo certo. Viu que os preços dos ativos estavam muito baratos e aproveitou. Não foi arriscado. Pelo contrário”, corrige Luiz Cezar Fernandes, fundador dos bancos Pactual e Garantia.
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Para explicar a posição confortável do Goldman Sachs, o banqueiro, que adquiriu as operações do Dresdner no Brasil no início do ano, enfatiza que a instituição começou 2009 com a credibilidade do megainvestidor Warren Buffett, que injetou US$ 5 bilhões no grupo, além do auxílio de US$ 10 bilhões do Tesouro norte-americano.
Saneamento do setor
Há outros fatores. Diversos bancos quebraram, fecharam ou foram absorvidos, ocorrendo, de certa forma, um saneamento do sistema financeiro. “De fato, a menor competição e uma atividade corporativa não tão fraca quanto a esperada fizeram com que o Goldman conseguisse resultados positivos”, interpreta Dany Rappaport, sócio fundador da consultoria e gestora InvestPort.
Com menos competidores, os ganhos de negociação de títulos foram determinantes para o JP Morgan reportar lucro líquido de US$ 2,72 bilhões no segundo trimestre, superando estimativas, apesar da perda não-recorrente em razão do pagamento do empréstimo do governo. Tais cifras ofuscaram os prejuízos oriundos das atividades de crédito ao consumidor e da área de cartões.
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“Esses números ainda não configuram uma volta à normalidade. É um passo no sentido de ajustar o sistema bancário norte-americano. Mostra que alguns ajustes foram feitos, mas não vamos nos iludir”, considera o professor de Economia Global da FGV (Fundação Getulio Vargas), Evaldo Alves.
Flexibilidade em xeque
Para sexta-feira (17) estão previstas a publicação dos demonstrativos de Citigroup e Bank of America Merrill Lynch. Referências importantes, mesmo que ainda não dê para falar em retomada do setor. Fernandes, entretanto, tem dúvidas quanto aos próximos, com exceção do Morgan Stanley, que deve repetir o desempenho de Goldman Sachs e JP Morgan.
Motivos para a incerteza? “Eles não tiveram flexibilidade para aproveitar o momento de mercado porque estavam enrolados no meio de suas próprias feridas”. Já Rappaport admite estar mais otimista que a média do mercado e espera surpresas dos balanços que virão, citando também o Wells Fargo.
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De uma maneira geral, a estimativa dos analistas é que o Citi ainda apresente prejuízo, enquanto o BofA deve ter aumento no lucro, mas não na mesma magnitude do Goldman. É importante ressaltar que os números do BofA terão grande representatividade, ao mostrar se a força está vindo do braço da Merrill Lynch (corretora) ou de seus serviços como banco comercial em si.