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Em meio a uma crise institucional e ao aumento do risco fiscal, o mercado financeiro pareceu não se importar com o cenário político. Desde o começo do mês, não houve nenhuma variação brusca na Bolsa e no dólar, que estão praticamente no mesmo patamar, pouco acima dos 120 mil pontos e dos R$ 5,20, respectivamente.
Analistas do mercado, no entanto, afirmam que os ativos brasileiros estão sentindo, sim, a crise. A Bolsa estaria entre 142 mil e 152 mil pontos e o câmbio, inferior a R$ 5 se não houvesse tanto ruído em Brasília, dizem.
“Quando o presidente traz o tema do voto impresso (para o debate) ou aumenta a base de benefício social a um ano da eleição, ele acaba antecipando o risco das eleições nos preços dos ativos”, diz o gestor Luiz Felipe Laudari, da Mauá Capital.
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Os cálculos de que o Ibovespa (principal índice da B3) deveria estar mais alto consideram a evolução de outras bolsas, os resultados das empresas listadas no País e também o preço das ações dessas companhias. “Quando você olha os mercados lá fora, vê o americano batendo recorde todo dia. Frankfurt também. Todas as bolsas estão com valorização de 15% no ano ou mais. E, aqui, ela beira a estabilidade, com pouco mais de 1%. Deveríamos estar subindo mais que o mercado americano, por causa do risco de ser um emergente”, afirma Alvaro Bandeira, sócio do Modalmais.
A alta acumulada do Ibovespa no ano é de 1,97%, enquanto a do indicador da Bolsa de Nova York é de 17,33%, a da Nasdaq, de 16,73% e a de Frankfurt, de 16,4%. Entre os emergentes, a Bolsa da Argentina subiu 26,6% e a da Rússia, 20,1%. Caso o Ibovespa tivesse acompanhado o nível dos emergentes, com uma alta de 20% no ano, o índice estaria em 142,6 mil pontos – na sexta-feira, no entanto, encerrou o pregão com 121,2 mil pontos.
Os analistas destacam que o desempenho pífio brasileiro só não é pior graças aos resultados das companhias, melhores do que previstos desde o início da pandemia. O estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, diz que 77% das empresas do Ibovespa que publicaram seus resultados do segundo trimestre até agora tiveram desempenho em linha ao esperado ou até melhor. “O que tem segurado a Bolsa é a história micro das empresas. Estamos tendo mais uma temporada de resultados fortes”, afirma Ferreira.
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O gestor acrescenta que, se fossem considerados apenas os fundamentos das companhias e a expectativa de lucro atual delas, o Ibovespa estaria em 152 mil pontos.
Juros e câmbio
Para o economista Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências, no entanto, o câmbio e os juros são os ativos que mais têm sofrido o efeito das crises de Brasília. “Era para o dólar estar em um patamar mais baixo. Ele não está em parte devido à incerteza política. As tensões se traduzem em ameaça ao setor fiscal: mudança no Bolsa Família e precatórios. Além disso, estamos indo para outro tom, a institucionalidade (sendo ameaçada). Isso assusta os investidores.”
Cálculos da gestora Mauá Capital indicam que o dólar deveria estar abaixo de R$ 4,80. Na sexta, porém, encerrou o dia valendo R$ 5,25. “Tem um prêmio de risco aí causado pelo presidente. A situação fiscal vinha bem, com a surpresa positiva em razão da arrecadação mais alta e da contenção dos gastos. Era de se esperar que os ativos estivessem com um comportamento benigno”, diz Laudari.
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No caso da curva de juros, o impacto é ainda mais visível. A taxa do contrato de Depósitos Interfinanceiros (DI) que vence em 2029 estava em 8,7% no começo de julho e hoje está a 9,8%.
O economista Paulo Bokel, da ARX Investimentos, explica que essa alta não ocorreu devido ao aumento da taxa básica de juros, a Selic. Isso porque o mercado reagiu à Selic principalmente em junho, quando o Banco Central mudou de tom na condução da política monetária. “Não houve um grande aumento (na curva de juros) na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do BC). Na anterior (em meados de junho), o ajuste no mercado foi maior”, diz Bokel.
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