“Vejo dólar mais próximo de R$ 6 do que de R$ 4”, diz VP da Clear Corretora

Alta do preço das commodities contamina mais o câmbio atualmente dos que as discussões fiscal e eleitoral, analisa Roberto Indech

Equipe InfoMoney

Roberto Indech, VP de Relações Institucionais (Divulgação)
Roberto Indech, VP de Relações Institucionais (Divulgação)

Novo VP de Relações Institucionais da Clear Corretora, Roberto Indech entende que o atual momento do mercado ainda não reflete a tradicional volatilidade que acontece com a moeda norte-americana às vésperas de períodos eleitorais, nem mesmo uma maior deterioração das contas públicas, advinda de projetos de reajustes de servidores, atualmente em negociação.

Há mais impacto da alta das commodities, como consequência do cenário da guerra entre Rússia e Ucrânia, sobre o mercado de câmbio, neste momento, do que a discussão fiscal e eleitoral, analisa Indech.

Segundo ele, porém, essa “pressão adicional” está por vir pela frente. “A volatilidade no câmbio aqui é muito forte”, afirmou, acrescentando que uma taxa de câmbio “mais próxima de R$ 6 do que de R$ 4” reflete melhor a realidade do país.

Antes estrategista-chefe da Clear, Indech agora será responsável por liderar as frentes de inovação e desenvolvimento de novos produtos, além de serviços voltados aos segmentos de renda variável – mais especificamente de trader.

Entre suas metas está melhorar a experiência e a performance dos investidores, com o uso de tecnologia, automatização, conteúdo, soluções de investimento e parcerias.


Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao InfoMoney:

InfoMoney: Como o cenário de juros em alta impacta os investimentos em ações?

Roberto Indech: Na visão dos investidores de ações, sem dúvida, a questão dos juros altos acaba impactando o portfólio. Por isso, falamos bastante de diversificação, para que as pessoas não tenham 100% de seus recursos em renda variável. Em segundo, por mais que tenhamos essa expectativa de mais alta de juros, talvez por mais duas ou três reuniões do Copom, é preciso observar o nível de inflação, e quanto o dólar e as commodities podem impactar o cenário próximo.

IM: Qual é a sua expectativa para o dólar? 

RI: Eu vejo o dólar hoje mais perto dos R$ 6 do que dos R$ 4, diante do cenário atual, de demandas para reajuste de servidores, o que complica o quadro fiscal, mais a corrida eleitoral e a perspectiva de que os juros subam. Mas há mais impacto das commodities sobre o mercado de câmbio, neste momento, do que a discussão fiscal e eleitoral em si. Como a volatilidade no câmbio aqui é muito forte, uma cotação mais próxima de R$ 6 está mais perto da realidade brasileira.

IM: E como o investidor de bolsa deve se posicionar?

RI: Vale ressaltar que a bolsa de valores é um jogo de paciência, principalmente por tudo o que temos visto no Brasil nos últimos anos. As oscilações não são novidade por uma série de circunstâncias: uma hora cenário fiscal, outra cenário externo. É uma série de fatores que nos trazem àquela velha máxima do mercado, de comprar na baixa e ter paciência para vender na alta. Mas não é fácil ter paciência com as recentes oscilações e ainda há perspectiva de mais turbulência daqui para frente.

IM: Quais fatores devem trazer turbulência?

RI: Temos uma inflação extremamente elevada, não só no Brasil, como nos países desenvolvidos, com a maior alta em décadas, o que eles não estão acostumados. Então fica esse cenário externo de guerra, commodities, inflação e juros caminhando para 13% ao ano, no maior patamar dos últimos 5, 6 anos…

IM: E o que o investidor deve fazer?

RI: Toda essa turbulência nos remete à palavra paciência, para aqueles que olham um prazo um pouco mais longo e aproveitam essas oportunidades. Não é fácil, mas esse é o grande trunfo da bolsa, de uma maneira geral.

IM: E para o investidor de curto prazo?

RI: No curtíssimo prazo, que é o mercado de day trade, não é uma questão de jogo de paciência, mas de oportunidades, diante da forte volatilidade que vemos no dia a dia. Mas também da necessidade do “trader” encurtar os seus “stops” (loss), nas operações de curtíssimo prazo, porque a qualquer momento pode vir alguma notícia que mexe no preço das ações.

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IM: Qual é a melhor estratégia para o investidor day trader?

RI: Muita gente pergunta como o day trader ganha dinheiro, ou como ele não perde. Mas minha resposta é bastante simples: assim como em qualquer início de negócio, é preciso tempo, foco, estratégia e disciplina. Se a pessoa não tiver isso em qualquer negócio, não vai ser bem-sucedida.

IM: Em quais ativos o day trader deve operar?

RI: Basicamente, nos ativos que tenham liquidez e volume de negociação, como minicontratos de índices futuros de Ibovespa e de dólar; e, no mercado à vista, em papéis como Petrobras, Vale e grandes bancos. O day trader busca forte volume de negociação e volatilidade dos ativos.

IM: E como saber o momento certo de entrar?

RI: Enquanto na análise fundamentalista o jogo é a paciência, na análise técnica é a oportunidade de curto prazo, mas com stops bem definidos. Ou seja, é importante ter uma extrema disciplina, de fato, na análise técnica. Acordar cedo, se inteirar do que está acontecendo, para fazer uma gestão de risco e de estratégia, assim como em outros trabalhos. Olhar as bolsas lá fora e as perspectivas da abertura, para montar as estratégias.

IM: E quanto a pessoa deve aportar em estratégias de curto prazo?

RI: Não existe um estudo, mas uma recomendação de que seja no máximo de 5% a 10% do capital da pessoa. É importante que a gente traga isso, porque para a outra parcela é importante que haja uma diversificação, com objetivo de longo prazo. E há a questão da idade. Os mais jovens podem empregar um capital maior, enquanto a pessoa com mais idade pode aportar algo como 1% ou 2%. Mas tudo depende dos objetivos de cada um.

IM: Como a tecnologia pode ser aliada nestas estratégias?

RI: Estamos investindo forte na Clear em tecnologia, para dar estabilidade às plataformas, justamente para pegar esses momentos de oportunidades do mercado. Outra novidade é o “personal trader“, robô de inteligência artificial, via WhatsApp, que ajuda os traders a melhorarem sua performance em tempo real. Já temos o envio do e-mail analisando as operações do dia anterior e agora vamos oferecer ao longo pregão. A ideia é trazer insights de forma automatizada aos clientes.

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